A forte queda de 3,3% nas ações de tecnologia dos Estados Unidos no último dia 10 de outubro levantou uma questão muito importante: existe uma bolha no preço das ações americanas?
Eu não sou a mãe Dinah e não tenho bola de cristal, mas pretendo fazer algumas considerações fundamentalistas para tentar responder à pergunta acima.
O principal índice de ações dos Estados Unidos, o S&P500 (que reúne as 500 maiores empresas de capital aberto dos EUA) acumula alta de 192,8% nos últimos 10 anos (de janeiro de 2009 até 12 de outubro de 2018).
O retorno médio composto anual (CAGR) do S&P500 é de impressionantes 11,3% ao ano. Somente no período após a Segunda Guerra Mundial o S&P teve alta por um período superior a dez anos consecutivos.
Touros x Ursos: será que chegou a vez dos Ursos?
Máquina do tempo
Certa vez um amigo meu me falou: “Eduardo, se você tivesse uma máquina do tempo e pudesse escolher uma época e um país para viver, qual você escolheria?”. Minha resposta de bate-pronto sempre foi: os Estados Unidos no começo dos anos 50, exatamente no meio do longo ciclo positivo de 10 anos da economia e da Bolsa de Valores americana após a Segunda Guerra Mundial.
O alerta das taxas de juros futuros
A taxa de juros futura de 10 anos dos EUA (Treasuries) está em trajetória de alta: subiu de 2,45% ao ano no final de 2017 para 3,25% atualmente, um aumento de 80 pontos-base.
Essa alta é um alerta para os mercados de ações no Estados Unidos, pois existe uma correlação negativa entre a taxa de juros e o mercado de renda variável. Quando as taxas de juros estão mais altas, o mercado de ações reage negativamente pois o custo de oportunidade fica mais alto e o investimento em ações fica mais arriscado quando ajustado pelo retorno.
O susto
No dia 10 de outubro, o índice S&P500 fechou em queda de 3,3%, puxado pela queda mais forte das ações do setor de tecnologia. O S&P500 acumula alta de 1,2% em 2018, com desempenho negativo em outubro (queda de 6,4%). A volatilidade anualizada do S&P500 foi de 14,8% em 2018 e de 17,3% somente no mês de outubro.
Na minha opinião, essa queda no S&P500 em outubro é natural do mercado de ações (a chamada “realização de lucros”), mas o aumento da volatilidade chamou atenção.
Como será o futuro? O passado sempre nos diz muito coisa.
Desta vez a história é diferente?
As duas últimas bolhas no mercado de ações ocorreram em 2000 (a bolha da internet) e em 2008 (a crise do setor imobiliário).
Nos dois casos, a principal causa para o surgimento da bolha foi o excesso de liquidez e grande oferta de crédito.
Existem algumas semelhanças entre a atual situação e as crises anteriores: empresas de tecnologia e crescimento exponencial no preço das ações.
Entretanto, eu acredito que desta vez é diferente porque os ganhos de produtividade no trabalho no Estados Unidos são muito grandes. O modelo de negócios das startups e fintechs é muito disruptivo e transformou a maneira de se fazer negócios.
Esse ano tivemos duas empresas americanas de tecnologia cujo valor de mercado ultrapassou a marca de US$ 1 trilhão: Apple (NASDAQ:AAPL) e Amazon (NASDAQ:AMZN).
Atualmente, as cinco maiores empresas em valor de mercado na Bolsa nos Estados Unidos são do setor de tecnologia: Apple (926,9 bilhões), Amazon (777,8 bilhões), Alphabet (NASDAQ:GOOGL), dona do Google ($766,4 bilhões), Microsoft (NASDAQ:MSFT) ($750,6 bilhões) e Facebook (NASDAQ:FB) ($ 541,5 bilhões).
O aplicativo de música Spotify (NYSE:SPOT), do qual são fã incondicional, fez o seu IPO em abril de 2018 com valor de mercado de US$ 27 bilhões.
Como dizem os americanos: “a whole new ball game”, literalmente traduzido como “um jogo inteiramente novo”. Essa expressão veio do beisebol e significa uma grande mudança de circunstâncias, como por exemplo um time dá uma grande virada no placar.
O Vale do Silício, nos Estados Unidos, é o grande celeiro das empresas de tecnologia e o investimento nas startups/fintechs mudou o mundo como conhecemos.
Por essa razão, eu acredito que não existe bolha no mercado de ações nos Estados Unidos, pois o lucro das empresas vai continuar a crescer, com suporte do ganho de produtividade do trabalho. e o valor de mercado das empresas americanas vai continuar a crescer.
Entretanto, eu faço uma ressalva: os tempos de crescimento com baixa volatilidade (início do governo Trump) estão chegando ao fim, pois tivemos queda do S&P em fevereiro, março e outubro.
Conclusão: invista sim em ações americanas, mas fique preparado para uma volatilidade maior.