Agora que está todo mundo falando de Inteligência Artificial, vem à tona novamente a possibilidade de uso de novas tecnologias para operar no mercado financeiro. A ideia de colocar um robô para fazer suas operações seguindo parâmetros objetivos e, supostamente, sem as emoções do ser humano é bastante atrativa. Sou um entusiasta desta forma de ver o mercado, porém após alguns anos estudando o assunto, percebo a quantidade de armadilhas que há nesse meio.
Existem diversas plataformas que funcionam como lojas de estratégias ou lojas de robôs. Uma prateleira de robôs com seus respectivos backtests (performance passada) e valores de assinatura. São ferramentas incríveis, mas que às vezes podem transmitir a ideia de que basta assinar alguns robôs, dar o play e ver o dinheiro entrar. Justiça seja feita: muitas delas fornecem conteúdo educacional, ensinando os clientes a configurar os robôs e gerenciar o risco.
Mas será que é só isso mesmo? Vou ajustando os parâmetros (médias móveis e outros infinitos indicadores técnicos) até encontrar uma combinação que me dê uma bela curva de performance no backtest, defino quanto dinheiro quero arriscar em cada operação e dou o play?
Temos alguns riscos aí.
O primeiro e mais óbvio é que performance passada não é garantia de performance futura. A pergunta a ser respondida é: por que posso estar confiante de que esse ativo continuará se comportando no futuro da mesma forma que estou vendo no passado? Suponha que o seu backtest abranja um período em que o ativo está em forte tendência de alta. Certamente estratégias seguidoras de tendência apresentariam um bom backtest, mas como posso estar confiante que esse ativo continuará em tendência? Por que ele não pode justamente estar entrando em uma lateralidade e agora o que irá funcionar será outro tipo de estratégia?
“Ah.. então vou diversificar. Vou comprar diferentes tipos de robôs e um vai compensar o outro nos diferentes cenários do mercado.” Essa ideia é boa, mas agora você tem uma nova missão: quais robôs escolher? Como será a performance combinada deles? Quando ligar e desligar cada um deles? Agora são vários robôs para serem configurados. Com que frequência devo revisitar as configurações de cada um deles? Quanto de risco cada uma das estratégias vai receber?
Perceba que, ao ter que responder a todas essas questões, você já pode ter adicionado uma quantidade considerável de fatores humanos no processo e talvez já esteja fugindo da proposta principal, que era mitigar a influência do ser humano na tomada de decisão.
Bom, a essa altura você já deve ter percebido qual é o meu ponto com esse artigo. Operações automatizadas (ou quantitativas) são uma nova área do conhecimento. Assim como análise gráfica, fundamentalista ou fluxo, elas demandarão tempo e energia para que você consiga performar bem. É possível que após vencer uma certa curva de aprendizado, você realmente tenha que dispor de menos tempo do seu dia em comparação às abordagens tradicionais e, para mim, isso já uma grande vantagem. Sem contar todos os outros benefícios do mundo quantitativo, do qual sou entusiasta.
Resumindo: se você se interessa por essa área, vá fundo porque tem futuro, mas não acredite em almoço grátis.
Vinícius Fernandes
Analista CNPI-T na Rocket Research