Por décadas, determinadas informações de uma empresa interessavam apenas à própria empresa. Questões ambientais e sociais eram secundárias e as decisões a respeito desses temas não interessavam a quem não pertencia ao quadro de profissionais. A legislação era pouco exigente e a fiscalização insuficiente. Se a companhia em questão cumpria ou burlava as leis ninguém sabia, a não ser que houvesse investigação por alguma razão. Os consumidores (usuários), em geral, não se interessavam por isso. Preocupavam-se apenas com o produto ou serviço que chegava até ele, sem nem pensar como aquilo foi produzido.
Se sua empresa ainda atua dessa forma, sem ser transparente com os consumidores, com investidores e demais stakeholders, sinto dizer, sua empresa começa a ficar para trás. Meu conselho é: comece imediatamente a repensar seu método e conceitos de gestão. E a razão é simples, o mundo mudou e a transparência, que é um pilar fundamental da governança corporativa, se transformou em questão de sobrevivência. Invertendo o exemplo dado acima, mesmo que você se esforce para cumprir a legislação, proteja o meio ambiente e tenha reais preocupações sua companhia pode sofrer rejeição do mercado por não ser devidamente transparente. E a razão é simples, não basta fazer, tem de mostrar que fez e como fez.
É uma exigência da sociedade atual. Vamos pegar como exemplo o caso dos investidores. Antigamente, eles se importavam apenas com os resultados econômico-financeiros-
Eles querem saber como os fatores ambientais e sociais estão integrados à estratégia e às operações. E é fácil entender o porquê. Imaginemos uma empresa que desrespeita a legislação trabalhista e esconde isso ao longo dos anos. Ela mostra relatórios manipulados mostrando os ganhos, mas nunca aponta as falhas, os riscos... Um belo dia começa a chover processos trabalhistas que prejudicam financeiramente a corporação. Mas não é só isso, as normas que envolvem manutenção de equipamentos são burladas ou nem eram consideradas. Até que um dia consumidores são hospitalizados ou morrem porque um defeito ou falha possibilitou a contaminação do alimento com alguma substância tóxica. Pronto, a Justiça determina a punição dos diretores e o negócio é fechado até que se resolva a questão.
Os investidores fogem de empresas assim porque o risco é muito alto. Para evitar isso eles passam a exigir relatórios mais transparentes com dados que possam ser observados e mensurados. Entenda que o relatório não é apenas um monte de palavra escrita em papel ou em um editor de texto e disponibilizado ao mercado, mas com finalidade de marketing, também chamado de greenwashing. O relatório tem a força de um compromisso firmado entre a companhia e os investidores. Caso a empresa tenha faltado com a verdade, o material serve como prova contra a companhia. Mas feito de boa fé com o real interesse de mostrar a preocupação com a sustentabilidade, o relatório e outras medidas que fortaleçam a transparência são verdadeiros chamarizes de investidores.
Na ponta da cadeia estão os consumidores (usuários), outra razão para ser transparente. A consciência dos consumidores (usuários) em relação a marcas socialmente responsáveis está em alta. Empresas com práticas transparentes e éticas tendem a conquistar maior lealdade e diferenciar-se no mercado. Por fim, buscar ser transparente é importante porque, globalmente, a regulamentação no campo ESG está se intensificando. Os países da União Europeia criaram a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), com padrões rigorosos de divulgação de informações. Alguém pode pensar: “Ah, mas isso é na União Europeia. Por aqui ainda não é assim”. Lamento decepcionar quem raciocina desta forma, mas em breve essa iniciativa será adotada por aqui. De qualquer forma, quem deseja exportar para aquela região precisa cumprir as mesmas regras. Se não cumprir, estará fora e perderá oportunidades.
Pode parecer trabalhoso ser transparente, mas colocá-la em prática é um ótimo meio de mitigar riscos financeiros, regulatórios e reputacionais, além de gerar valor. Empresas transparentes atraem mais investidores e acesso ao capital, afinal, quando se tem confiança fica mais fácil assinar contratos, até porque a tomada de decisão se torna mais qualificada, baseada em dados reais. Como se vê, a transparência é a coluna de sustentação das relações empresariais e da própria governança corporativa. Se o seu negócio funciona sem essa preocupação, então, mãos à obra. Comece já a mudar essa cultura para não ficar pelo caminho, enquanto a concorrência cresce.