Não acredito que o Banco Central do Brasil (BCB) não vá sinalizar cortes em breve (não corta na próxima reunião semana que vem, mas na de maio) na taxa de juros. Mas, como li alguns comentários dizendo que o Copom irá sinalizar nada na semana que vem, cabe aqui um breve cenário.
Em primeiro lugar, é preciso dizer o óbvio: o Banco Central não tem obrigação de nada, apenas com sua “consciência técnica” e, francamente, não é problema meu o que corre no superego daquela instituição. Logo, eu dizer que vai se instalar o caos caso o BCB não sinalize corte de juros não é um juízo de valor meu sobre eles, mas antes um exercício mental meu do que devem ser os desdobramentos dessa atitude nos demais agentes econômicos.
Vamos ao dominó que pode encadear se na próxima semana o COPOM opte por deixar inalterada a taxa básica e adicionalmente não aponte que um processo de afrouxamento está no horizonte próximo do colegiado:
- Também na quarta-feira (22), o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) deverá sinalizar maior parcimônia no ajuste nos EUA. Logo, por aqui, no relativo de taxas haverá uma discrepância que poderá apreciar muito mais o Real;
- Com as commodities em queda, o Ibovespa naturalmente já sofre por conta da grande participação de empresas de materiais básicos. Se os juros se mantiverem alto, empresas sensíveis ao crédito e ao consumo doméstico irão sofrer muito mais, fazendo o índice cair;
- Se mesmo com a quebra do SVB (NASDAQ:SIVB) e dos problemas com o Credit Suisse (SIX:CSGN), o BCB não sinalizar que irá cortar os juros em breve não precisa ser um grande estrategista político para saber o que o Palácio do Planalto e o PT irão colocar toda sua artilharia sobre o BCB e aqui temos o grande problema.
Até segunda ordem, é consenso que o Copom iria cortar os juros, mas as rusgas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do BCB Roberto Campos Neto (RCN) atrasaram este processo. Se tivermos mais uma rodada de trocas de farpas entre os dois, aí que a perspectiva de corte de juros fica impedida, tornando uma situação já inflamada em crônica.
Os dois lados (Lula e RCN) terão apenas uma “solução lógica”: continuar escalando o tom e esta será a receita para o caos que mencionei no título.
Adicionalmente, se o BCB não sinalizar um corte de juros em breve mesmo depois que a Fazenda apresente o novo Arcabouço Fiscal (está previsto para antes da reunião do COPOM), seria como se a Autoridade Monetária tivesse jurado de morte a proposta antes mesmo de ser levada ao Congresso fazendo sua aprovação quase impossível.
A perspectiva de juros elevados ao longo do ano, a impossibilidade de aprovação do Arcabouço Fiscal, a queda de commodities, a recessão em economias centrais, a perspectiva de mudança na meta pelo CMN e um Real forte artificialmente pelo diferencial de taxa de juros pode produzir efeitos caóticos no mercado de capitais, mercado esse que já sofre com a desconfiança por conta de eventos corporativos adversos (para ser gentil com as palavras).
Como disse, não acredito que o BCB não vá sinalizar queda de juros em breve, mas vale aqui mais uma vez aquela máxima: quando se trata de projeções de juros nunca é o que eu acho que vai acontecer, mas antes o que eu acho que ele - BCB - acha.
E um último comentário sobre o óbvio: caos não significa necessariamente queda, mas maior volatilidade e se, de um lado, maior volatilidade aumenta a versão a risco e assim a Bolsa cai, por outro este processo necessariamente não é linear.