A semana foi afetada pelo feriado da Independência dos Estados Unidos e foi sonolenta na maior parte do tempo, mas isso sem deixar de continuar a cair. Na verdade, no fechamento de sexta-feira, todos os meses, com exceção do vencimento outubro/2013, fecharam na mínima do contrato. Essa queda, paradoxalmente, é diferente das outras quedas. Isso por que as usinas, que não possuem passivo em dólares, estão comemorando a valorização da moeda norte-americana, que afeta as commodities, mas que melhora a fixação das exportações equivalentes em reais.
As empresas mais capitalizadas olharam com atenção a valorização da moeda americana e fizeram algum volume de NDF (contrato a termo de moeda estrangeira com liquidação financeira) para vencimento o ano que vem que, combinado com a fixação de NY, trazia um valor em reais bem acima do custo de produção médio. Pelo modelo da Archer Consulting, a fixação para a safra 2014/2015, se realizada desta maneira (hedge de NY e moeda ao mesmo tempo) pode render 27% acima do custo de produção.
O outubro acabou virando julho, explico melhor, julho expirou a 16,38 centavos de dólar por libra-peso enquanto outubro negociava a 16,93 naquele mesmo dia. Pois bem, esta semana, o outubro caiu ao nível que o julho expirou, influenciado uma vez mais pela demanda tímida e pela desvalorização do real. Os vencimentos, principalmente aqueles referentes à safra 2014/2015, chegaram a cair quase 15 dólares por tonelada na semana.
As fixações das usinas para a safra 2013/2014 se aceleraram neste mês de junho, chegando a 18,6 milhões de toneladas, cerca de 70% do volume previsto de exportação, com preço médio de 17,91 centavos de dólar por libra-peso.
A Glencore uma vez mais apresentou seu seminário anual na semana que passou em São Paulo, sempre disputadíssimo e de alta qualidade, desde 1999. As apresentações destacaram que o mercado internacional de açúcar terá enorme dificuldade de se valorizar, mas reconhecem que o clima, o câmbio e o cenário macro podem fazer toda a diferença.
Produtores do nordeste, que estavam no seminário mencionado acima, comentaram que ficaram abismados com as tolices ditas por Dilma em recente discurso para uma entidade que reúne os fornecedores de cana de Pernambuco. Dizem que a presidente não consegue distinguir um pé de cana de um pé de milho. É de se estranhar, na verdade essa falta de conhecimento da presidente, principalmente por ter convivido tanto tempo com seu antecessor.
Há uns dois meses, alguns traders acreditavam que o mercado de açúcar em NY iria visitar brevemente os 15 centavos de dólar por libra-peso. Até agora tem resistido bravamente. O fato é que ninguém levanta nenhuma bandeira altista nesses dias. Todos parecem continuar a olhar o mercado com olhos desconfiados e achando que vamos ainda para baixo. Pela experiência de anos vividos no mercado de commodities, posso dizer que já vi esse filme inúmeras vezes. O mercado tem se sustentado muito bem em reais, mas ainda está abaixo da média de 200 dias, situação rara de se observar. Longe de ser altista, acredito que vamos entrar numa fase mais construtiva de preços e ela virá principalmente por meio de um dos três pontos levantados pela trading suíça cita acima: clima, câmbio e cenário macro.
Um veterano trader de açúcar comentava numa roda de amigos que julho tem sido particularmente generoso com o mercado nos últimos 6 anos. Ou seja, geralmente o mercado recupera em julho o sofrível desempenho que costuma ter nos meses de maio e junho. Será que vamos ver isso acontecer?
Excepcionalmente esse comentário não será publicado na semana que vem, retornando na semana seguinte.