Este é o terceiro texto da Série Especial "Inflação nos EUA: a Batalha entre Fed e Mercado"
A aprovação de um pacote de ajuda de quase US$ 2 trilhões, de um plano amplo de investimentos em infraestrutura e do acelerado processo de vacinação deram o impulso necessário para o retorno da economia americana a taxas de crescimento elevadas por um período mais extenso. Além disso, a manutenção de taxas de juros historicamente baixas amplifica os efeitos da política fiscal expansionista.
Série Especial – Inflação nos EUA: a Batalha entre Fed e Mercado
Em décadas passadas, o mix de política econômica não parecia tão equilibrado ao ponto de elevar as expectativas de inflação no longo prazo. Os gestores de política econômica, na ausência de estímulos fiscais adequados, tinham a tendência de manter a política monetária expansionista por um prazo maior, com receio de abortar as perspectivas de crescimento.
Entretanto, em agosto de 2020, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, anunciou uma “atualização” importante no regime de metas de inflação. A nova meta seria uma média, o que permite que a inflação fique acima de 2% por um certo período. Com isso, cumpriria o duplo mandato de máximo emprego e estabilidade de preços.
A partir de fevereiro desse ano, a curva de juros americana apresentou um deslocamento relevante de forma a incorporar rapidamente a perspectiva de maior crescimento e maior inflação. A análise das declarações dos representantes do Federal Reserve permite interpretar que a autoridade monetária irá tolerar um desvio maior na taxa de inflação em relação à meta de longo prazo. Todavia, isso não significa que a política monetária não possa ser normalizada de forma gradual ainda em 2021.
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O cenário base é que a inflação de longo prazo se encaminha para valores acima de 2% e que fatores “transitórios” podem conduzir a variação dos índices de preços ao consumidor a patamares acima de 3%, quando todos os estímulos estiverem sendo aplicados. Nesse cenário, o sucesso da política econômica eleva a volatilidade da curva de juros americana e pode fazer com que a taxa do título do tesouro americano de 10 anos rompa os 3%.
Confira abaixo os dois textos anteriores da Série:
Texto 1: O Debate Global Sobre Inflação, por Roberto Padovani
Texto 2: Reflação e Taxas de Juros Americanas, por Julia Braga