A economia brasileira afunda e as perspectivas para o setor sucroalcooleiro para o próximo ano continuam carregadas. Desde 1994 quando iniciei no setor, não lembro de ter vivido tamanha crise nem ter deparado com um ambiente extremante pessimista como o atual. Claro que muito desse sentimento compartilhado por todos do mercado vem da percepção da completa ausência de comando por parte de Dilma, que não consegue fazer com que seus solitários neurotransmissores executem uma simples sinapse como, por exemplo, escolher de uma vez o ministro da Economia. Assim, com a falta de confiança dos investidores, o dólar disparou para 2.6300 (a menor cotação do real desde 2005) e a bolsa caiu puxada pela Petrobras.
Muitas usinas que ainda possuíam contratos de açúcar para exportação desta safra a serem fixados, aproveitaram adequadamente a alta do dólar e fixaram. As mais capitalizadas olham para 2015/2016 e aproveitam as taxas de câmbio favoráveis para a exportação e fazem contratos de NDF (contratos a termo de dólar com liquidação financeira) com vencimento até o primeiro trimestre de 2016. Convenhamos, qual o risco de se fixar preços em NY ao equivalente a R$ 1.200 por tonelada quando o custo de produção das usinas de primeira linha é inferior a R$ 800 por tonelada? A última vez que a combinação de dólar e mercado futuro de NY apresentou R$ 1.200 por tonelada foi em fevereiro de 2011, com NY a 31.16 centavos de dólar por libra-peso e o câmbio a 1.6675. Não dá para jogar fora esta oportunidade.
O mercado futuro de açúcar em NY fechou nesta sexta-feira em pequena alta de 21 pontos (4,63 dólares por tonelada) no vencimento março de 2015. Os demais meses encerraram o pregão entre inalterado e 15 pontos de alta, sem nenhuma novidade no mercado físico de exportação. O spread março 2015/maio 2015 abriu para 32 pontos, apontando um custo e carrego acima de 12% ao ano.
O etanol hidratado recuperou-se esta semana pouco mais de um centavo de dólar por litro, encerrando a semana a 1.1853 reais o litro, posto usina, sem impostos.
Num rápido levantamento pontual sobre empresas que, por ventura, tenham rolado suas exportações de açúcar que deveriam embarcar desde o vencimento maio/2014 até agora estão amargando uma perda estimada de 350 pontos, ou 77 dólares por tonelada. Por outro lado, o ano foi péssimo para grande parte das tradings cujos livros contemplam contratos de longo prazo com as usinas, cujos descontos originais estão pelo menos 10-15 dólares por tonelada mais caros do que o mercado à vista. Um trader lamentou que o bônus esse ano já era.
Com o real se desvalorizando em relação ao dólar em 8.75% nos últimos 30 dias, de nada adiantou o aumento de 3% que a Petrobras praticou recentemente. A defasagem entre o preço na gasolina na bomba e o mercado internacional voltou e está em torno de 10%.
Mais um diretor da Petrobras foi preso pela Policia Federal. A justiça bloqueou bens no valor de R$ 720 milhões de 36 pessoas presas envolvidas nesse esquema malacafento que jogou na lama o nome e o prestigio de uma das maiores empresas do mundo. Espero que o País comece a ver a desconstrução gradual dessa quadrilha infame e repugnante que envergonha seus cidadãos de bem. O PT, como disse na rádio um comentarista político de Brasília, é um partido que não se intimida em beijar na boca de cobra nem em abraçar o capeta. É um vale tudo sórdido jamais visto na história da República.
Se você ainda não viu, assista a entrevista de uma hora e meia que o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, deu para o programa Roda Viva. Rodrigues é Presidente do Conselho da UNICA e uma das maiores autoridades do agronegócio do país. Durante a entrevista colocou de maneira simples e direta os problemas que o agronegócio e, em especial o setor sucroalcooleiro, sofre com a falta de planejamento do governo nesta área. Perguntado como se sentia ao ver o governo brasileiro financiar a construção de um porto em Cuba enquanto os nossos aqui carecem de estrutura, o ex-ministro foi curto: “Chateado”.