A divulgação de dados do mercado de trabalho e do PIB do primeiro trimestre reforçam atividade econômica robusta no começo do ano, surpreendendo as expectativas do mercado.
Durante a semana, tivemos a divulgação de importantes dados econômicos, que surpreenderam positivamente a expectativa do mercado, sinalizando uma economia ainda aquecida apesar do nível de restrição monetária em vigor.
Incialmente, foram divulgados dados relacionados ao mercado de trabalho. O Caged registrou criação líquida de 180k vagas em abril, acima da nossa expectativa (157k) e levemente abaixo da mediana do mercado (187k). Nos últimos 12 meses, a pesquisa registrou criação líquida de 1,894 milhão de vagas, acelerando em relação a divulgação anterior (1,852 milhão). Apesar disso, observa-se alguns sinais de arrefecimento. Todos os setores apresentaram criação líquida de vagas nos últimos 12 meses, no entanto, observa-se desaceleração no ímpeto de crescimento em metade das 8 atividades pesquisadas.
A PNAD por sua vez, apontou que a taxa de desemprego caiu para 8,5% no trimestre finalizado em abril (ante 8,8% em março), abaixo da nossa expectativa (8,7%) e da mediana do mercado (8,8%). A taxa de participação recuou pelo sétimo mês consecutivo, saindo de 61,6% para 61,4%. A população ocupada atingiu 98,0 milhões de pessoas, avanço de 0,2% em relação a divulgação anterior, interrompendo uma sequência de quatro quedas consecutivas. O rendimento médio real atingiu R$ 2.981, leve recuo de 0,3% na comparação com o mês anterior. Em relação ao mesmo período de 2022, o rendimento médio anual registrou avanço de 7,4% (ante 7,3% na divulgação anterior).
A leitura em conjunto dos dados do Caged e da PNAD apontam para um mercado de trabalho resiliente, com pequenos sinais de arrefecimento. Permanecemos com a expectativa de que o mercado de trabalho vá desacelerar de maneira lenta e gradual ao longo do ano.
Por último, tivemos a divulgação do PIB do primeiro trimestre de 2023 que acelerou e registrou forte alta de 1,9% em relação ao trimestre imediatamente anterior, acima da nossa expectativa (0,9%) e da mediana do mercado (1,2%). Em relação ao 1T22, a atividade econômica avançou 4,0%.
Pela ótica da oferta, destaque positivo para o forte avanço de 21,6% (QoQ) na agropecuária, voltando a crescer após quatro trimestres consecutivos de desempenho negativo. Serviços registraram alta de 0,6% na comparação trimestral, acelerando em relação a divulgação anterior quanto reportou crescimento de 0,2%. A indústria, por sua vez, apresentou recuo de 0,1% no trimestre, a segunda queda trimestral seguida.
Sob a ótica da demanda, desataca-se positivamente o avanço de 0,3% (QoQ) no consumo do governo, estável em relação a divulgação anterior. O consumo das famílias por sua vez registrou crescimento de 0,2% no trimestre, desacelerando em relação ao avanço de 0,4% observados no 4T22. A formação bruta de capital fixo recuou 3,4% no 1T23, o segundo recuo consecutivo e pior do que a queda de 1,3% observada no trimestre anterior. As exportações recuaram 0,4%, enquanto as importações caíram 7,1% em relação ao 4T22.
A taxa de investimento totalizou 17,7% do PIB no primeiro trimestre do ano, abaixo do registrado no 1T22 (18,4%). A taxa de poupança, por sua vez, atingiu 18,1% no 1T23, acima dos 17,4% observados no mesmo período de 2022.
Todos os setores permanecem acima do patamar observado antes da pandemia, com destaque para a agropecuária e o setor de serviços, que se encontram 21,0% e 6,6% acima do nível de dezembro de 2019. A indústria encontra-se 3,5% acima do patamar pré-pandemia.
O PIB registrou forte desempenho no primeiro trimestre do ano surpreendendo positivamente a expectativa do mercado. A performance positiva foi puxada pelo avanço no setor agropecuário e no setor de serviços, ao passo que a indústria registrou leve recuo na comparação trimestral. Apesar do crescimento robusto, note-se desaceleração no consumo das famílias pelo terceiro trimestre consecutivo na comparação anual. A divulgação reforça a atividade econômica ainda robusta e acima da expectativa do mercado no começo do ano, indicando o efeito da política fiscal expansionista implementada desde meados do ano passado e sugerindo menor potência da política monetária restritiva.
Em relação aos impactos para a política monetária, a princípio uma divulgação de atividade acima do esperado indica potencial pressão altista na inflação a frente. Por outro lado, o forte desempenho foi focado no setor agropecuário, que tende a representar um choque de oferta baixista para a inflação a frente. Setores mais sensíveis ao ciclo de juros demonstrar sinais de desaceleração. Serviços segue com desempenho robusto, mas com sinais de arrefecimento, enquanto a indústria continua enfrentando dificuldades sendo o setor mais impactado negativamente pela alta taxa de juros.
Prospectivamente, o desempenho do setor agropecuário deve seguir forte, mas arrefecer uma vez que os preços de commodities, inclusive agrícolas, vem caindo em relação aos patamares observados no ano passado e no primeiro trimestre do ano. Apesar disso, os dados divulgados nesta semana reforçam uma perspectiva positiva para a economia perante a expectativa inicial.