Houve quem dissesse, no final do século XVIII, que aquele movimento que começou na Inglaterra e que promoveu a substituição gradual de algumas atividades laborais humanas por máquinas representaria o colapso da sociedade, principalmente por conta do desemprego. Hoje, apesar de alguns efeitos colaterais, podemos afirmar que a maioria de nós sequer teria nascido, não a fosse a Revolução Industrial, tamanho o aumento na qualidade de vida e explosão populacional que se seguiu.
Os bravos pescadores de baleia do século XIX também não deviam ser muito favoráveis ao petróleo ou à energia elétrica; afinal, o óleo de baleia era o principal responsável pela iluminação de casas, ruas e até faróis, além da lubrificação de máquinas, e sua substituição por querosene, lubrificantes sintéticos ou lâmpadas definitivamente não era bom para seus negócios.
Hoje sabemos que essas visões estavam equivocadas – basta comparar nossa sociedade de hoje com a de 200 anos atrás.
Mudanças de paradigma na sociedade e nas formas de se fazer negócios sempre ocorrerão. E em um mundo mais conectado e com mais de 8 bilhões de pessoas em 2023 – no final do século XVIII nós éramos 1 bilhão – disrupções serão cada vez mais frequentes.
Dentro desse contexto de transformação constante surgiu o conceito de mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo, em português), em muito pouco tempo já substituído pelo conceito BANI (frágil, ansioso, não-linear e incompreensível), que representa muito do que vivemos no nosso dia a dia enquanto seres humanos economicamente ativos. Mas há três aspectos que são sim, previsíveis e estão passando diante dos nossos olhos nesse momento:
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Em um mundo de transformações com baixa previsibilidade de futuro, as pessoas mais flexíveis, competentes e preparadas terão cada vez mais valor;
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Novos mercados, empresas cada vez mais competitivas e com clientes cada vez com mais exigências e opções, os mais criativos, eficientes, organizados e centralizados no cliente levarão vantagem;
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Os recursos naturais estão cada vez mais escassos para acomodar e alimentar 8 vezes mais gente do que há 200 anos – logo, soluções criativas para melhorar essa situação serão bem-vistas.
Se estamos alinhados até agora, concordamos que que existem três fatores fundamentais que irão reger o futuro do mundo corporativo: pessoas extremamente qualificadas; organizações com processos internos e externos de excelência; e utilização otimizada dos recursos do planeta.
Pra complementar esse ponto de vista, proponho o seguinte exercício fictício – pense no valor atual dos seguintes ativos: 100 gramas de sementes de eucalipto, um estagiário no último período de faculdade e um computador de última geração. Passados 10 anos, o que ocorre com os três ativos? Teremos, possivelmente, muitos hectares de eucaliptos prontos para colheita, um executivo e uma máquina obsoleta. Em outras palavras, o capital humano e o capital natural se valorizaram, enquanto o outro depreciou.
Algumas conclusões que podemos chegar: 1- investir em recursos naturais – seja na preservação, no desenvolvimento ou em mudanças para melhor é chave; 2- a necessidade do desenvolvimento de pessoas está cada vez mais importante; 3- organizações reconhecidas por sua excelência, competência e ética serão mais valorizadas.
E como pode uma organização estar preparada para isso? Basta traduzir (e aplicar corretamente) a sigla ESG.
*Gustavo Nobre é Pesquisador e Professor convidado do COPPEAD/UFRJ. Doutor em Administração com ênfase em Economia Circular e Indústria 4.0 pelo COPPEAD/UFRJ. Mestre, Administrador e Analista de Sistemas. Professor de cursos voltados para Gestão de Projetos, Ciência de Dados e Administração. Consultor empresarial com mais de 25 anos de experiência profissional, a maior parte em funções executivas e em grandes empresas.