O presidente do Brasil, Michel Temer, afirmou nesta quinta-feira que a economia com a reforma da previdência deve ficar abaixo de 600 bilhões após as concessões realizadas até o momento frente ao projeto original do governo. Inicialmente, a expectativa com a reforma da previdência era de criar uma economia de 800 bilhões em 10 anos.
Pouco depois, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que se a reforma da previdência for aprovada no modelo atual a economia será equivalente a 76% do previsto com a proposta original. Entretanto, o próprio ministro admitiu que o número pode variar um pouco.
A suspeita é de que o governo esteja se aproveitando do alto grau de imprecisão da equação para estimar um número otimista demais. Além disso, por contar com certo nível de tolerância do mercado, o governo se aproveita para traçar um panorama irrealista, tal como ocorreu na expectativa com processo de recuperação da economia, rombos significativamente mais elevados no orçamento, etc.
No mercado, as projeções de economia com a reforma da previdência estão longe de um consenso, o que revela, também, desorientação frente aos inúmeros recuos ocorridos até o momento. As estimativas variam de uma economia de 50% a 60% do inicialmente previsto na proposta original, sinalizando um elevado grau de flexibilização da reforma da previdência.
Ao contrário da propaganda, alguns economistas consideram que o governo recuou sim em alguns pilares importantes da reforma, o que tem provocado essas estimativas de reduções consideráveis. Entre as mais pesadas está a redução da idade mínima para 62 anos para as mulheres, a regra de transição muito gradual e os benefícios concedidos a determinados grupos que definitivamente derrubaram por terra o discurso de uma mesma reforma para todos.
Mesmo considerando um improvável cenário de nenhum novo recuo do governo até a aprovação da reforma da previdência na Câmara e no Senado, ainda assim muito provavelmente não será possível cumprir o teto de gastos estabelecido pelo próprio governo. Isso significa que mesmo com aprovação da reforma da previdência, o fiscal continuará em rota insustentável e o próximo presidente terá de tomar uma decisão: suspender o teto dos gastos para continuar com uma política fiscal expansionista (tal como o governo atual) ou manter o teto de gastos e encarar o problema de frente enxugando a máquina.
No cenário externo, destaque para o alerta do FMI (Fundo Monetário Internacional) quanto aos riscos de aumento de volatilidade no mercado norte-americano (com consequências a nível global). Segundo a instituição, se as reformas tributárias e a desregulamentação anunciadas gerarem trajetórias de crescimento e de dívida menos favoráveis que o esperado, os prêmios de risco e a volatilidade podem disparar.
O FMI enxerga expectativa muito elevada entre investidores/operadores, refletidas obviamente nos preços dos ativos, em relação aos estímulos fiscais prometidos por Trump. Apesar das leves correções nas últimas semanas, o índice S&P500 permanece muito próximo da máxima histórica.
Na França, o mercado de ações ainda trabalha dentro de uma tendência de alta iniciada em meados de 2016, mostrando pouca volatilidade apesar da grande indecisão quanto ao primeiro turno das eleições presidenciais a ser realizada neste próximo domingo.
Com os dois últimos governos impopulares, desemprego em 10% e economia crescendo apenas 1,1% em 2016 (inferior à média européia de 1,9%), o eleitorado francês tem se aproximado cada vez mais de partidos mais radicais que denunciam os vilões da atual situação: o sistema político, a globalização, a União Europeia e os imigrantes.
Quatro candidatos tem reais chances de passar para o segundo turno a ser realizado no dia 6 de maio. A radical de direita Le Pen, o radical de esquerda Mélenchon, o centrista Macron e o ultraliberal Fillon. Além disso, mais de 1/3 dos eleitores se declaram indecisos às vésperas das eleições e a taxa de abstenção (o voto na França não é obrigatório) poderá ultrapassar os 30%, considerada muito elevada.
A eleição mais imprevisível dos últimos 50 anos na França, e que pode criar graves consequencias ao futuro da zona do euro, ainda não é encarada com temor pelo mercado. Apesar dos leves recuos nas últimas semanas, a bolsa de Frankfurt (Alemanha) segue comprada, muito próxima do topo histórico.
No Brasil, apesar da leve alta registrada nesta semana, o mercado de ações trabalha dentro de uma perna de baixa iniciada aos 69,5k no mês de fevereiro deste ano. A LTA dos 37k e a linha central de bollinger semanal estão sendo rompidas de forma ainda tímida, mas não deixa de alimentar riscos de novos recuos nas próximas semanas/meses.