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Selic: por que os cortes na taxa de juros serão limitados?

Publicado 26.06.2023, 20:27
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Apesar de manter a taxa de juros inalterada na reunião da semana passada, o Copom realizou mudanças relevantes no comunicado, sinalizando, ainda que de maneira tímida, a possiblidade do início de cortes na taxa de juros Selic nas próximas reuniões.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil manteve a taxa de juros inalterada em 13,75% pelo sétimo encontro consecutivo. Apesar disso, o comunicado trouxe alterações relevantes, sinalizando que a autoridade monetária deva estar próxima do início do ciclo de cortes na taxa Selic, ainda que tal indicação não tenha sido realizada de forma explícita.

O Comitê fez poucas mudanças em relação à avaliação da conjuntura econômica, afirmando que o cenário externo permanece adverso, mas pontuando o avanço nas expectativas de crescimento da atividade econômica para 2023. De maneira mais incisiva, a autoridade monetária chama atenção para a determinação dos países desenvolvidos na busca pela convergência da inflação para suas metas, indicando uma possível retomada no ciclo de alta de juros em alguns países. No cenário doméstico, é estimada uma provável desaceleração na atividade econômica à frente. No que tange a inflação, o Copom reconhece um arrefecimento nas últimas divulgações do índice cheio, mas ressalta que a inflação acumulada em 12 meses deve voltar a subir ao longo do segundo semestre do ano, reforçando que as medidas de inflação subjacente continuam acima do patamar compatível com o cumprimento da meta, mas reconhecendo que as expectativas para 2023 e 2024 recuaram.

A melhor dinâmica inflacionária refletiu nas projeções do Comitê. O Banco Central agora espera que a inflação termine 2023 com alta de 5,0% (ante 5,8% anterior), recuando para 3,4% em 2024 (vs. 3,6% anterior).

Não houve grandes mudanças no balanço de riscos, com o Comitê reduzindo a incerteza relacionada ao novo arcabouço fiscal em relação aos riscos de alta de suas projeções e, no que tange os riscos de baixa, reconheceu que parte do movimento de queda nos preços de commodities em moeda local já ocorreu.

Novamente, a autoridade monetária reforça que o atual estágio de desinflação tende a ser mais lento, exigindo cautela e paciência na condução da política monetária. Por outro lado, o comunicado reconhece pela primeira vez que a estratégia de manutenção da taxa de juros em patamar elevado por período prolongado tem se mostrado adequada na busca da convergência da inflação a meta. Em sua alteração mais relevante, o Comitê retirou o trecho que indicava possiblidade de retomada do ciclo de alta na taxa de juros, mas reforçou que as expectativas de inflação seguem desancoradas, apesar da recente melhora.

A autoridade monetária reconhece uma melhora no ambiente macroeconômico, afastando qualquer chance de nova alta na taxa de juros, e possivelmente abrindo o caminho para o início do ciclo de cortes, ainda que não tenha sido explícito. Aqui, cabe reforçar que não haveria grande benefício para o Banco Central antecipar de maneira clara quando a redução na taxa de juros deve começar, uma vez que tal sinalização poderia contaminar de maneira excessiva as expectativas do mercado em relação à curva de juros, que mostrou melhora relevante ao longo do ano, especialmente nos últimos dois meses.

Apesar da melhora observada na dinâmica inflacionária, corroborada pelas últimas leituras, alguns fatores tendem a impactar negativamente a possível trajetória de queda na curva de juros. Desde a pandemia, o país vem realizando sucessivas expansões fiscais de suporte à atividade econômica que possuem impacto contrário aquele desejado pelo Banco Central, tanto do ponto de vista do tamanho do crescimento dos gastos quanto em relação a credibilidade do país. A PEC dos Precatórios, por exemplo, reflete não só em uma maior disponibilidade de recursos para o Governo Federal, como também impacta negativamente a imagem do país como bom pagador e que honra suas dívidas. O novo arcabouço fiscal é amplamente visto como uma regra com caráter fiscal expansionista, ainda que com magnitude menor do que o incialmente previsto. O programa de redução de preços de carros populares, o Desenrola, que busca reduzir a dívida de pessoa física, gerou aumento dos gastos públicos, o que diminui a potência da política monetária, traduzindo-se em uma taxa de juros real neutra mais elevada do que o inicialmente estimado. Tudo mais constante, tal fato acaba exigindo uma taxa de juros nominal de equilíbrio mais elevada do que o desejado. Portanto, se o atual estágio da inflação indica que há espaço para redução do nível de contração monetária, a elevação da taxa de juros neutra impede que a Selic possa cair de maneira estrutural a níveis sustentáveis de equilíbrio ou estímulo para atividade econômica.

Portanto, o Banco Central encontra-se em uma situação delicada, na qual ele possui espaço para começar o ciclo de cortes na taxa de juros, mas que tal movimento está limitado pelas políticas de aumento de gastos. Portanto, a autoridade monetária deve ter cautela na condução do ciclo de queda na taxa Selic de maneira a não contaminar as expectativas de inflação no horizonte relevante.

Apesar da pressão da classe política e de grande parte da sociedade em cima do Banco Central para reduzir a taxa de juros, o comunicado não explicitou quando o ciclo de corte deve começar. Alguns fatores relevantes até a próxima reunião podem impactar a postura do Banco Central, como a reunião do Conselho Monetário Nacional com possível definição sobre a meta de inflação ao longo da semana, além da reunião do comitê de política monetária dos Estados Unidos no final de julho. Em caso de decisões favoráveis ao ambiente previsto pelo Copom, o mesmo pode iniciar o corte de juros na reunião de agosto, ainda que esperemos que tal movimento só ocorra em setembro.

O mercado aguarda agora a divulgação da ata da reunião do Copom para melhor compreensão dos próximos passos da autoridade monetária.

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