Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
- TerraUSD (UST) afunda
- Tether (USDT) se segura, por enquanto
- Confiança nas criptos diminui
- Não há garantia de estabilidade
- Tenha cuidado no criptomercado e sempre espere o inesperado
O dicionário define a palavra “estável” como algo não suscetível de ceder ou tombar, ou seja, fixado firmemente. No mundo das criptomoedas, uma “stablecoin”, ou moeda estável, tem lastro em uma moeda fiduciária ou commodity, a fim de ancorar seu valor e aumentar sua confiabilidade. Quando sua ancoragem se perde, a razão da sua existência desaparece.
A recente derrocada das criptos ocorreu no segmento de stablecoins. A capitalização do criptomercado atingiu o pico acima de US$ 3 trilhões em novembro de 2021, quando o Bitcoin e o Ethereum registraram máximas recordes. Após uma correção até as mínimas no fim de janeiro e uma consolidação de preços até o início de maio de 2022, o problema atual envolvendo as stablecoins fez com que toda a classe de ativos ficasse abaixo das mínimas de 24 de janeiro. No fim da semana passada, a capitalização de mercado ficou abaixo de US$ 1,252 trilhão.
TerraUSD afunda
De acordo com seu site:
“O protocolo Terra é a principal blockchain pública descentralizada e de código aberto para stablecoins algorítmicas. Usando uma combinação de incentivos de arbitragem de mercado aberto e votação Oracle (NYSE:ORCL) descentralizada, o protocolo Terra cria stablecoins negociadas que seguem a cotação de qualquer moeda fiduciária com consistência.”
A TerraUSD (UST) cumpriu sua promessa de “seguir a cotação de qualquer moeda fiduciária com consistência” em relação ao dólar de novembro de 2020 até o início de maio de 2022, quando o protocolo se desintegrou. Isso ocorreu porque as stablecoins algorítmicas, ao contrário das tradicionais, não são lastreadas em ativos fiduciários reais, mas em uma complexa tecnologia para manter sua paridade. Com a queda do Bitcoin, a paridade tecnológica colapsou.
Fonte: CoinMarketCap
Como mostra o gráfico, o UST estava abaixo de 7 centavos, um décimo do seu nível no início de maio.
Mike Novogratz, fundador e CEO da empresa de investimento em criptos Galaxy Digital e um investidor da Terra e LUNA, outra cripto que afundou de mais de US$ 100 para menos de um centavo por token, disse que um conjunto de bancos centrais “desfazendo uma enorme bolha de liquidez” exerceu muita pressão para que a Terra entregasse retornos de juros elevados aos usuários titulares.
“A pressão de baixa sobre os ativos de reserva, juntamente com os resgates de UST, desencadearam um cenário de estresse similar a uma ‘corrida ao banco’”.
No início de janeiro de 2022, Novogratz tuitou uma imagem que simbolizava seu compromisso com a LUNA.
Fonte: Twitter
Ele recentemente comentou: “Minha tatuagem será um lembrete constante de que o investimento de risco requer humildade”.
Tether se segura, por enquanto
O site do Tether (USDT) afirma o seguinte:
“Os tokens Tether são as stablecoins mais populares por terem sido pioneiras nesse conceito no espaço dos tokens digitais.”
No momento em que escrevia, o USDT cumpria sua promessa e mantinha sua paridade frente ao dólar.
Fonte: CoinMarketCap
No momento da publicação, o USDT era a terceira maior criptomoeda atrás do Bitcoin e Ethereum. A 99,96 centavos por token, o USDT tinha mais de US$ 73 bilhões em capitalização de mercado e preservou seu valor diante do derretimento do UST.
Confiança nas criptos diminui
O crash no UST abalou a confiança dos investidores nas moedas estáveis, assim como em todo o criptomercado.
Fonte: Barchart
O gráfico mostra que o Bitcoin atingiu a mínima de US$ 25.919,52 em 12 de maio, seu nível mais baixo desde o fim de 2020. A queda do mercado acionário, os juros mais altos e a debacle da Terra exerceram pressão baixista sobre a cripto líder.
Fonte: Barchart
O Ethereum atingiu a mínima de US$ 1721,474 em 12 de maio, seu nível mais baixo desde junho de 2021. Várias outras das mais de 19.500 criptomoedas também caíram, diante da instabilidade da stablecoin.
Não há garantia de estabilidade
Alguns participantes do mercado acreditam que tokens, como USDT e até mesmo o UST, são a mesma coisa que deter dólares. Eles se iludem com a falsa sensação de segurança, depois de anos de negociação em paridade com a moeda americana, cumprindo sua promessa de “moedas estáveis”.
Muitos, no entanto, acabaram aprendendo da forma mais cara, como Mike Novogratz: dólares são dólares, e não stablecoins. O termo “moeda estável” não garante um desempenho confiável em relação ao ativo-objeto.
Tenha cuidado no criptomercado e sempre espere o inesperado
As criptomoedas e as stablecoins ainda são uma classe emergente de ativos, com muitas oportunidades e riscos proporcionais. Em breve serão lançadas as versões digitais do iuane, dólar, euro e outras moedas patrocinadas por governos. Elas serão verdadeiras stablecoins, já que os governos as utilizarão como instrumentos para respaldar suas políticas e agendas comerciais, fiscais e monetárias.
Por isso, o risco em torno das stablecoins independentes continuará alto. Como os desenvolvedores estabelecem a paridade dos tokens com as moedas fiduciárias, seu potencial de alta é limitado. Mas, como o mercado descobriu com o USDT, a pressão de queda era ilimitada.
Só invista o capital que você está disposto a perder na classe de ativos, já que o potencial de retorno também implica riscos significativos.
Em 31 de dezembro de 2021, a Galaxy de Mike Novogratz detinha mais de US$ 400 milhões em LUNA. O token que já chegou a ser vendido por mais de US$ 100 e agora vale menos de um centavo gerou um prejuízo estimado de US$ 300 milhões para a Galaxy e fez seu patrimônio cair 12%, para US$ 2,2 bilhões, uma lição cara que todos os investidores de criptos e especuladores devem levar em consideração.