Publicado originalmente em inglês em 18/12/2020
Com a chegada do fim de 2020, várias histórias de ascensão e queda serão lembradas pelos observadores do mercado. Mas nenhuma outra ação gera tanto entusiasmo nos investidores do que a fabricante de carros elétricos Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34).
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Considerando o fechamento de quinta-feira, suas ações registram alta de 650% neste ano, o melhor desempenho na Nasdaq. Essa notável performance ocorreu apesar dos problemas que viraram a economia mundial de cabeça para baixo e de todas as manchetes envolvendo o fundador e CEO da companhia, Elon Musk.
Quando os mercados abrirem na segunda-feira, a Tesla fará parte do índice S&P 500, alcançando o status de “blue chip” com um dos maiores pesos nesse prestigiado índice, que conta com a presença da Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34), Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34) e Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34).
A sorte da Tesla virou neste ano depois que a empresa conseguiu registrar lucro por cinco trimestres consecutivos, além da conclusão bem-sucedida da “giga factory” na China e o início da construção de outra planta similar na Alemanha.
Enquanto os investidores fiéis da Tesla aproveitam os benefícios de acreditar na visão de Musk, a grande questão para 2021 é: como operar a ação daqui para frente? A comunidade de analistas está dividida.
Entre os 23 analistas que cobrem o papel, oito recomendam compra, oito estão neutros e seis apontam para um desempenho abaixo da média do mercado. O preço-alvo médio para os próximos 12 meses é US$ 389,79, uma correção significativa em relação ao preço atual de US$ 655,90.
A Jefferies, ao mesmo tempo em que rebaixou a recomendação de “compra” para “neutra” na Tesla na semana passada, afirmou que está cética com a capacidade da empresa de um dia dominar a indústria automotiva.
Em nota aos clientes, o analista Philippe Houchois afirmou o seguinte:
“Não acreditamos que a Tesla possa dominar a indústria, em razão da sua dimensão, estrutura e política. Entretanto, os diversos desafios para o modelo de negócios da indústria lhe garantem uma duradoura vantagem competitiva, como marca ‘messiânica’ que irá muito além dos carros, atuando desde a oferta de baterias até o armazenamento de dados e o desenvolvimento de veículos autônomos”.
Apesar de rebaixar a classificação da ação, a Jefferies elevou seu preço-alvo para 12 meses, de US$ 500 para US$ 650.
Alto valor de mercado
Um grande desafio para os investidores e analistas é justificar a valorização de uma ação que está sendo negociada muito acima do valor de mercado de outras empresas de tecnologia com modelos de negócios muito diferentes. As ações da Tesla correspondem hoje a quase 1000 vezes seu lucro, em comparação com apenas 14 vezes da General Motors (NYSE:GM) e 54 vezes do índice NYSE FANG+.
“É aí que está o dilema. A Tesla é uma fabricante de carros? Ou é uma empresa de tecnologia? Ou será que é uma espécie de amálgama das duas coisas?”, escreveu Esha Dey, articulista da Bloomberg, em sua análise na semana passada.
A Tesla planeja entregar meio milhão de carros neste ano, um salto de 36% em relação aos níveis do ano passado, mas menor do que o aumento de 50% de 2019. De acordo com dados da Bloomberg, os analistas de Wall Street estimam que a receita da empresa cresça 26% neste ano, acelere em 2021 e diminua em 2022. As estimativas de lucros em 2020 e 2021 praticamente não mudaram nos últimos dois anos.
Mas o atual valor de mercado da Tesla não implica que ela seja apenas uma empresa automotiva. Os investidores da Tesla apostam que a companhia, assim como a Apple, em breve oferecerá um conjunto de serviços integrados ao seu hardware, tornando-se muito mais do que uma fabricante de carros.
Adam Jonas, analista do Morgan Stanley (NYSE:MS) (SA:JPMC34), disse à Bloomberg:
“A Tesla está fazendo com que as pessoas avaliem e analisem a empresa não só com base no número de unidades vendidas e o preço dos veículos, mas também considerando a base instalada de usuários, o software e os serviços de conteúdo oferecidos a esses usuários. Com isso, a Tesla deixa de ser comparada com outras fabricantes automotivas e se aproxima muito mais de empresas que oferecem software como um serviço”.
Resumo
Após a enorme disparada da Tesla neste ano, a fabricante automotiva sofrerá grande pressão no ano que vem para mostrar que consegue crescer rápido, tornando-se uma empresa capaz de fazer muito dinheiro oferecendo diferentes serviços. Neste momento, é uma ação que requer dos investidores muito mais fé na visão de Elon Musk do que nos fundamentos da empresa.