O avanço da colheita e a necessidade de venda do produtor para pagamentos de dívidas de custeio pressionaram as cotações do trigo em algumas praças em outubro. No mês, o preço do grão no mercado de balcão (valor pago ao produtor) registrou queda de 5,5% no Rio Grande do Sul, mas alta de 0,3% no Paraná. No mercado de lotes (negociações entre empresas), os valores apresentaram expressivo recuo de 15,2% no Rio Grande do Sul e quedas menos acentuadas no Paraná e em Santa Catarina, de 1,3% e 0,9%, respectivamente; em São Paulo, por outro lado, houve aumento de 0,2% no período. Vale ressaltar que as fortes chuvas ocorridas no final do mês no Rio Grande do Sul deixaram agentes atentos às condições das lavouras, que podem registrar perdas. Produtores consultados pelo Cepea aguardavam para avaliar possíveis estragos, cenário que limitou as quedas nos preços do cereal no estado sul-rio-grandense e no Paraná na última semana de outubro – neste último estado, os preços já vinham sustentados pela menor produtividade, resultado do clima desfavorável durante o desenvolvimento das lavouras paranaenses. A desvalorização do dólar frente ao Real em outubro também aumentou o interesse de compradores brasileiros na importação de trigo, especialmente a partir da segunda quinzena do mês. Entre 30 de setembro e 31 de outubro, a moeda norteamericana se desvalorizou 3,3%, com média mensal de R$ 4,08. Ressalta-se que a diferença entre os preços do trigo importado e do nacional diminuiu, mas o cereal externo se manteve negociado acima do doméstico.
CAMPO – No Rio Grande do Sul, dados da Emater apontam que a colheita atingiu, até 31 de outubro, 50% da área semeada. Em relação às áreas a serem colhidas, 45% das lavouras estavam em fase de maturação e 5%, em enchimento de grãos. No Paraná, segundo o Deral/Seab, até o dia 28 de outubro, a colheita havia atingido 87% da área. Quanto ao desenvolvimento das lavouras, 78% apresentavam condições boas, 20%, médias e 2%, ruins. Destas, 76% estavam em fase de maturação e 35%, em frutificação. A comercialização da atual temporada somava 44,4% da oferta total. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) apontam que 85% das lavouras de inverno daquele país haviam sido semeadas até o dia 27 de outubro; desse total, 56% estavam em condições boas a excelentes, 31%, médias e 13%, ruins e muito ruins. O Departamento sinaliza que 63% da área semeada havia emergido até a data. Na Argentina, a Bolsa de Cereales, em relatório divulgado no dia 31 de outubro, reajustou negativamente a projeção de produção da safra de trigo argentino para 18,8 milhões de toneladas. Essa queda teve como fundamento a estiagem na região oriental do país. As lavouras que ainda não foram colhidas tiveram a expectativa de produtividade reduzida. As precipitações ocorridas em outubro apenas suavizaram o estresse das lavouras na região oriental, que foram prejudicadas com geadas e granizo. Ao mesmo tempo, aquelas localizadas a oeste passaram por déficit hídrico e baixas temperaturas. Em relação à área semeada, 3,5% foi colhida no país. Até o dia 30 de outubro, 57,7% das lavoras estavam em condições entre normal e excelente, piora de 8,8 p.p. em relação à semana anterior. Quanto às condições hídricas adequadas, passaram para 74,4%, melhora de 1,4 p.p no mesmo período.
DERIVADOS – Em outubro, as cotações internas da maior parte das farinhas recuaram, devido à pressão de compradores. Em geral, moinhos seguiram apenas cumprindo contratos. Já os farelos, por outro lado, estiveram firmes, visto que a demanda segue aquecida. No mês, as cotações das farinhas para bolacha salgada, bolacha doce, massas em geral, panificação, pré-mistura e integral recuaram, respectivamente, 3,75%, 2,3%, 1,93%, 0,84%, 0,37% e 0,2%. Já para a farinha para massas frescas houve aumento de 0,31% em outubro. Para os farelos, as valorizações foram de 0,62% para o a granel e de 2,06% para o ensacado.
PREÇOS INTERNACIONAIS – Nos Estados Unidos, os futuros foram impulsionados em outubro, devido ao recuo do dólar e ao clima seco no sul das Grandes Planícies. Nesse cenário, considerando-se as médias de setembro e outubro, os primeiros vencimentos do trigo Soft Red Winter, negociado na CME Group, e do Hard Red Winter, na Bolsa de Kansas, avançaram 5,9% e 3,8% respectivamente, a US$ 5,08 /bushel (US$ 186,66/t) e a US$ 4,1734/bushel (US$ 153,35/t), em outubro. Na Argentina, por outro lado, os preços cederam, pressionados pelo resultado eleitoral no país argentino, fator que deixou agentes cautelosos para novos negócios. Os preços FOB, divulgados pelo Ministério da Agroindústria, recuaram 0,1% de setembro para outubro, a US$ 227,91/tonelada no último mês.
SECEX – Em outubro, segundo dados da Secex, as importações de trigo em grão somaram 607,1 mil toneladas, volume 23,3% superior ao de setembro/19 e 22,8% maior que o do mesmo período de 2018. Desse total, 63,8% vieram da Argentina, 15,2%, dos Estados Unidos, 10%, da Rússia e 8,9%, do Paraguai. As exportações, por sua vez, foram 10,3% inferiores às de setembro, totalizando 211,9 mil toneladas. Para as farinhas, as aquisições no mercado internacional subiram 14,4% frente a setembro/19, indo para 32,1 mil toneladas. As vendas brasileiras no mercado externo foram de 2.752 toneladas, volume 31,6% maior ao do mês anterior.