Enfim, os números estão lançados pelo governo e se tudo der certo ocorre o “cheque mate” que poderá restabelecer, ainda que em parte, parcela maiúscula perdida da credibilidade no país pelos investidores estrangeiros e nacionais, caso contrário o negativismo poderá se acentuar mais do que no presente.
A meta de superávit primário de 1,9% do PIB por todo o setor público consolidado que equivale a R$ 99,0 Bi não decepciona, revela, contudo, que o governo tem consciência de suas limitações e procurou estar no ponto de equilíbrio do que parece ser exequível, embora tenha sido posto como um número propositivo visto não haver comprometimentos quanto ao não uso de procedimentos desqualificadores, como tem sido contumaz nos anos recentes.
Ficou pendente a questão dos custos com a questão energética. Se for assumida pelo Tesouro impactará negativamente o superávit primário, se for repassada a população pressionará a inflação que poderá requerer taxa SELIC mais alta e poderá onerar o custo de carregamento da Divida Publica que impactará no Tesouro.
É um detalhe importante que ficou pendente.
Os cortes orçamentários precisam ser mais analisados, pois com a mudança de projeção para o IPCA de 3,8%, base para o orçamento, para 2,5% normalmente sugere os ajustes das expectativas sobre arrecadação, que a rigor, já mereceriam ajustes nos dispêndios, por este único fato. Efetivamente do corte de R$ 44,0 Bi anunciados, R$ 13,5 Bi são despesas obrigatórias, sendo os R$ 30,5 Bi restantes são mais controláveis pelo governo e podem estar no contexto de que seriam cortados pelo simples ajuste da equalização.
Observe-se que o governo procedeu à revisão da projeção do crescimento do PIB para 2,5%, o que está muito acima da projeção do mercado financeiro, FOCUS 1,79%, e do IIF que é de 1,40%, podendo já ter um erro de base nas projeções de arrecadação, que sugere revisões nos dispêndios posteriormente e que se não forem feitos comprometerão a meta de superávit objetivada.
O retrospecto evidencia que em 2012 foi anunciado expediente semelhante, com o governo anunciando corte de gastos obrigatórios de R$ 20,5 Bi, que por fim não foram confirmados nos números oficiais.
Temos um passado recente que provoca certo ceticismo inicial.
Mas, nos parece que desta vez o governo não deverá esperar por parte dos mercados reações otimistas imediatas sustentáveis, pois a perda de credibilidade maculou também a confiança no governo sobre a sua capacidade de gestão focando cumprimento rigoroso das metas, que tem sistematicamente se auto atribuído e não alcançado, inclusive por valer-se de práticas de ajustes que impactaram negativamente nas análises técnicas sobre a matéria.
Desta forma, no nosso entendimento a trajetória para o superávit fiscal deverá ser monitorado com maior acuidade, para se for sendo alcançado ir sendo beneficiário da recuperação da credibilidade perdida.
Serão os números conquistados os agentes indutores da reação positiva ou negativa em relação ao Brasil, e, não os discursos enfáticos sobre controles e equilíbrios.
A reação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio foi absolutamente desprovida de fundamentos, provavelmente decorrente de ordens disparadas pelo “stop loss” quando atingiu preço abaixo do razoável.
O real chegou a valorizar-se em relação ao dólar em torno de 1,04%, enquanto o peso mexicano valorizava-se 0,40%, a lira turca 0,57% e o rand sul africano 0,33%.
As perspectivas presentes para o setor externo brasileiro não sugerem que o país ultrapassará esta transição da 2a fase da crise iniciada em 2007/2008 sem pressões no mercado de câmbio, a despeito de todo empenho que o BC desenvolver e que não acreditamos que envolva utilização massiva das reservas cambiais como elemento de confronto à alta, mas poderá sê-lo para gerar liquidez sem força indutora para influenciar a reversão da tendência.
E, no nosso entendimento, esta alta poderá perturbar a percepção que se tem no momento de que a política monetária poderá ser menos severa.
Outro fator é que embora o IPCA e outros índices venham captando melhora de comportamento da inflação, é absolutamente necessário que o governo conquiste credibilidade de que tem capacidade para colocá-la em linha com o centro da meta, já que a inflação em torno de 6% é muito alta e a “sensação térmica” no varejo parece maior do que os índices vêm captando no momento.
As taxas proporcionadas no Brasil ao capital especulativo “carry trade” estão mais atraentes do que no México, mas não tem sensibilizado como outrora os deslocamentos para o país, isto porque há outros fatores considerados negativos pesando sobre a sua avaliação.
Também no nosso entendimento, a atitude do governo dar uma demonstração de propósito na política fiscal, pelas razões já destacadas, não deve alterar a perspectiva de fluxos cadentes de IED´s destinados a formação de capital e nem em relação aos empréstimos “intercompanies”, visto que as projeções para crescimento do PIB brasileiro são baixas e continuam sendo revisadas para pior.
No nosso entendimento as atitudes anunciadas pelo governo, sem envolver política monetária mas deixando transparecer que poderá ser menos severa, estão em linha parcial – um pouco mais de aperto monetário seria positivo para a convergência da inflação - com as cobranças dos países ricos que estão cobrando reformas e ajustes dos emergentes no G-20, mas se prestarão tão somente a contornar o ambiente de negativismo crescente presente no país, o que já será bom, sendo que o otimismo será algo a ser conquistado pelo governo no desenvolvimento dos esforços visando validar os compromissos assumidos.
O preço da moeda americana deverá reverter o viés de baixa dos últimos dias, retomando a tendência de alta, absolutamente compatível com os fundamentos presentes e com as perspectivas que continuam apontando para um ano difícil para o Brasil no setor externo.
O tabuleiro de xadrez está na mesa, vamos ao jogo!