Não parece, mas mercado fechou a semana em alta. O vencimento maio/2013 encerrou o pregão de sexta-feira cotado a 17,91 centavos de dólar por libra-peso, com uma alta de 17 pontos na semana, equivalentes a 3,75 dólares por tonelada. Os demais meses de vencimento fecharam com acréscimos tímidos de 10 a 20 pontos.
O cenário macro estanca toda e qualquer tentativa de reabilitação nos preços do açúcar. No acumulado do ano, o açúcar e o trigo dividem o pódio de commodity mais desvalorizada com quedas de quase 8%. Nos últimos 30 dias, com exceção do algodão que se valorizou pouco mais de 2%, soja, petróleo, cobre, trigo, cacau, açúcar, café e milho, todas caíram.
O contrato de açúcar em NY com vencimento Março/2013 expirou na quinta-feira com a menor entrega física dos últimos 7 anos. Uma trading baseada em Cingapura foi a única recebedora das pouco mais de 150.000 toneladas entregues por quatro tradings distintas.
Os baixistas dizem que o volume modesto evidencia a não existência de demanda por açúcar no mercado internacional e quem estava comprado futuro se desfez das compras mesmo tendo que liquida-las a qualquer preço, pois o prejuízo seria menor do que carregar o açúcar.
Os altistas dizem que a entrega pequena mostra valer a pena segurar o açúcar a esses baixos preços e que a demanda não deixou sobras para entrega contra a bolsa, que não paga prêmio.
Na verdade, os fundamentos do açúcar pouco mudaram. A Rússia e a Ucrânia devem ter uma queda significativa na área plantada de beterraba para a 2013/2014, enquanto no Brasil, pela expansão de área plantada ocorrida e pelo clima favorável, as principais tradings apostam numa produção entre 8-10% acima da safra passada. Qualquer subida de preço vai atrair uma horda de traders ansiosos por fixarem seus contratos comerciais.
NY experimentou velozmente uma subida repentina dos preços, conhecida pelo apelido afetivo de rally, influenciada por conversas sobre redução de impostos na estrutura tarifária do etanol. O que os estrangeiros não imaginam é que no Brasil nem sempre podemos escrever com tinta permanente o que um ministro fala. E o que causaria a queda do parlamento em qualquer país civilizado do planeta, destruir uma empresa do porte da estatal do petróleo, por exemplo, aqui não acontece nada. Os ministros que batem cabeça e não se conversam, parecendo que cada um está lendo um script diferente, acabam favorecidos pela queda de 7% do petróleo nos últimos 30 dias além da apreciação do real em relação ao dólar. Ou seja, o buraco no fluxo de caixa da empresa não tem mais 5 polegadas de diâmetro, só 4,5. Aí sim. Dilma dá tênues sinais de esperança que fará alguma coisa para o setor, mas toda a cautela é necessária. Não podemos esquecer que seu criador falou em 2005 que o Brasil seria a Arábia Saudita do etanol. Essa turma que está no governo, como se sabe, faz até as pedras chorarem. Bastaria não prejudicar, ou pelo menor deixar o mercado livre. O resto o setor tem competência de sobra para seguir em frente.
O Brasil consumiu em 2012, segundo a ANP, 49,029 bilhões de litros de combustíveis sendo 39,441 bilhões de gasolina C (que contem o etanol anidro) e 9,588 bilhões de litros de etanol hidratado. O consumo de combustível cresceu 6,31% no ano em relação a 2011.
A utilização de etanol hidratado caiu 10,30% e a de gasolina C cresceu 11,33%. Em bases anuais, o percentual de hidratado no total do consumo de combustíveis chegou ao pico de 39,33% (no período de dezembro de 2008 a novembro de 2009). Se tivéssemos mantido essa participação, hoje estaríamos consumindo 19,300 bilhões de litros de hidratado, ou seja, metade do consumo atual. A razão que não estamos é principalmente a falta de gente competente e séria em Brasília. O resto é conversa.
Alguns de vocês certamente já ouviram falar do paradoxo de Monty Hall, que poderíamos chamar aqui de paradoxo do Silvio Santos. Monty Hall era um apresentador de TV de um game-show transmitido pela televisão americana nos anos 1960, que consistia em oferecer aos concorrentes três portas, sendo que atrás de uma delas estava um prêmio valioso (uma Ferrari) e nas outras duas um prêmio de menor valor (um bode).
O concorrente escolhia uma das portas, mas antes de abri-la, o apresentador abria uma das portas que o concorrente não escolhera sabendo que o prêmio valioso não estava ali. Agora, o concorrente podia decidir se trocava ou não de porta.
Por razões intuitivas ou por acreditar na “sorte” o concorrente raramente trocava de porta. No entanto, matematicamente, se o fizesse, dobraria as chances de ganhar o prêmio.
O paradoxo de Monty Hall é tema recorrente nas aulas de estatística em Harvard e Princeton e demonstra que nosso cérebro tem dificuldade de lidar com problemas desse tipo, pois não vemos claramente ser vantajosa a troca de porta.
A dificuldade de ver as evidências matemáticas habita nosso dia-a-dia. Quando acertamos nossas previsões atribuímos o acerto - sem modéstia alguma - à nossa admirável capacidade de análise, quando erramos, o mundo conspira contra nós ou o “esse mercado está errado”. Alguém acha que no mundo das commodities é diferente?
Enquanto situações de baixa demanda física ocorrem, como é o caso atual em que poucos negócios estão sendo feitos, qualquer movimentação dos fundos adquirem maior peso e proporção. O gestor de fundo, que está vendido a descoberto, com o mercado pressionado for falta de noticias que ajudem a sustentar uma subida, empina o nariz e aumenta a posição vendida.
O mercado é a soma dos medos, receios, dúvidas, certezas, ousadias, valentias e desassombros de todos seus participantes. De nossa parte, achamos que a paridade do etanol pode se elevar dos 17,50 centavos de dólar por libra-peso equivalente açúcar, comentado há algumas semanas, para 18,00 centavos de dólar por libra-peso.
Em outras palavras, mercado abaixo de 18,00 tende a ter vida curta em função do etanol e acima de 20,00 parece ser muito difícil permanecer em função das fixações e dos fundamentos. Fora desse intervalo só aberrações no macro e no clima. Você quer mudar de porta agora? Você pode ganhar uma Ferrari reluzente ou um bode catingoso.