O mercado futuro de açúcar em NY fechou inalterado nos primeiros três vencimentos (julho e outubro de 2018 e março de 2019) em relação à semana anterior, fechando em ligeira alta nos três meses subsequentes e em baixa nos vencimentos mais longos (maio de 2020 em diante). O julho/2018 encerrou a sexta-feira a 11.51 centavos de dólar por libra-peso.
Essa queda nos vencimentos referentes às safras mais adiantes pode ser explicada porque muitas empresas estão atentas à desvalorização do real em relação ao dólar e estão aproveitando a curva favorável da moeda brasileira para os vencimentos mais longos e fazendo um pouco de hedge diminuindo dessa forma os riscos de preço abaixo do custo.
O spread outubro/18 e março/19 continua alto incentivando às usinas capitalizadas a empurrarem os hedges de venda de outubro/18 para março/19 utilizando assim ao máximo sua capacidade de armazenagem. Ouve-se aqui e ali tradings oferecendo “oportunidades” às usinas de carregarem seus estoques até o final do ano, dividindo eventual lucro na operação.
A expiração do contrato futuro de maio na bolsa de NY teve várias grandes tradings entregando para várias grandes tradings. As interpretações podem variar de acordo com o seu viés. Tem gente mais baixista agora, pois argumenta que um grande recebedor do vencimento anterior reentregou agora porque não encontrou melhor comprador. Os altistas dizem que um grande produtor ligado a uma grande trading recebeu açúcar o que pode indicar que vai produzir mais etanol do que esperava e então vai precisar de açúcar e blá blá blá. Esqueçam, nada mudou. Foi só mais uma entrega.
Mesmo sendo muito cedo para tal afirmação, o fato é que muitas usinas começam efetivamente a trabalhar com um número de moagem bem menor do que se falava no início do ano, que era de 585 milhões de toneladas de cana em média. Hoje, esse número já aponta para abaixo de 580 milhões de toneladas de cana com flagrante viés de baixa. Mas tem gente que acredita que vamos produzir apenas 569 milhões de toneladas de cana e 29 milhões de toneladas de açúcar.
Dois pontos me parecem ainda um pouco desalinhados com o sentimento que emana do mercado: um é a estimativa de ATR média de 134.78 (de acordo com recente pesquisa feita pela NovaCana) e o mix de açúcar (41.47%). Poucos executivos acreditam numa ATR (açúcar total recuperável) alta este ano em função do extraordinário desempenho do canavial no ano passado, muito difícil de ser repetido em um ano em que o os cuidados culturais foram menores e o canavial está mais velho (aliás, a média de idade do canavial é a mais alta em vinte anos, segundo um corretor de NY, pesquisador da Via Láctea nas horas vagas). Em relação ao mix, acreditamos que ele estará mais próximo de 40% do que de 41.47%.
A produção de ATR total média apurada entre as consultorias e empresas do setor é de 78.5 milhões de toneladas (NovaCana). O número da Archer Consulting é de 77.3 milhões de toneladas, ou 1.55% menor. Quando o quadro começar a ter maior nitidez acerca do real número de moagem, ATR e mix, será o momento em que veremos uma recuperação. Mas, não dá para contar com ela nesse momento.
A boa notícia da semana é o aumento na venda de veículos leves, mostrando a recuperação do setor automobilístico ainda que timidamente, mas muito longe dos patamares alcançados nos governos petistas que subsidiaram a indústria de automóveis às custas do contribuinte (já que aumentaram o rombo da Petrobras (SA:PETR4) via gasolina barata) e massacrando a indústria sucroalcooleira (que era obrigada a vender etanol barato abaixo do custo).
Outra notícia boa? Nos últimos dezoito anos, em 83.3% das ocasiões, a média aritmética dos preços do fechamento do primeiro contrato negociado em NY durante o mês de junho foi maior do que o preço médio observado no mês anterior. E na média, o preço subiu 10%. O outubro em relação ao setembro tem o mesmo desempenho (83.3%), mas os preços sobem apenas 6%.
A má notícia é a preocupação dos investidores estrangeiros em relação a eleição presidencial no Brasil e seus efeitos no real. Um grande banco ligado intimamente ao agronegócio acredita que um estresse eventual pode empurrar o dólar para 4 reais, pressionando as cotações de açúcar em NY (imagine que R$ 1,100 por tonelada equivaleria a 11.97 centavos de dólar por libra-peso, um excelente preço se comparado com a liquidação hoje de 932 reais por tonelada). A outra má notícia é que o presidente Temer, de olho na reeleição (mais improvável do que o homem ir a Marte de bicicleta), pode reduzir numa canetada o preço da gasolina e da energia elétrica, numa jogada populista digna dos idiotas que o precederam. Haja paciência para tanto populismo.
Na próxima semana, grande parte dos tomadores de decisão do setor estarão reunidos em Nova Iorque para celebrar mais uma edição do Jantar de Gala do Açúcar naquela cidade. É chegada a hora de limpar o mofo, espantar as traças dos smokings e se preparar para ouvir todo o tipo de argumento baixista e altista acerca da trajetória que o mercado deverá tomar. Eventos desse tipo acabam mudando muito pouco o humor dos participantes, mas a situação do mercado é tão desesperadoramente baixista, exacerbada por notícias a cada minuto indicando mais e mais açúcar nos quatro cantos do planeta, que de repente pode surgir uma luz à distância. Um meteoro, talvez?