Nenhuma notícia alvissareira para o açúcar na linha do horizonte. No entanto, o mercado está repleto de notícias desanimadoras. O potencial de crescimento da safra tailandesa para o próximo ano deve ser significativo, mais oferta de açúcar igual a mais pressão nos preços, suficiente para deixar os altistas com as orelhas levantadas. A demanda no mercado internacional continua patinando sem grandes volumes sendo negociados.
A cereja do bolo, se é que podemos chamar assim, é a aparente suspensão da discussão no Conselho da Petrobras de uma metodologia de correção de preços dos combustíveis em linha com o mercado internacional. Essa tal metodologia parece estar descartada. O governo quer ter ele próprio o poder da caneta e mexer nos preços como e quando quiser. Dilma e sua camarilha estão mais preocupados com a reeleição e que se danem os problemas de caixa da Petrobrás. O que deve vir por aí é um aumento entre 5-7% no preço da gasolina, que hoje tem defasagem de 12% com o mercado internacional, sem a introdução de nenhum gatilho de correção.
Em NY, na curta semana em função do feriado de Ação de Graças, os futuros fecharam em baixa entre 20 e 27 pontos ao longo da curva de preços que se estende até outubro de 2016, ou seja, quedas entre 4,50 e 6 dólares por tonelada. A curva de preços do mercado futuros de açúcar em NY está virando um enorme cash and carry (custo e carrego, quando os preços dos vencimentos mais distantes são maiores do que os preços dos vencimentos mais curtos) muito bem configurado.
Bem, os livros acadêmicos falam que mercados em cash and carry ocorrem quando existe equilíbrio entre oferta e demanda do produto, estimulando o comprador a empurrar com a barriga as compras mesmo que ele pague preços mais altos adiante, desde que esse valor a maior seja compensado pelo custo financeiro e armazenagem e seguro economizados por ele nessa postergação. A peça que não se encaixa no quebra-cabeça, é que os fundos normalmente se posicionam vendidos em mercado assim. Até mesmo, porque na rolagem de suas posições para os vencimentos seguintes, eles recompram o produto por um preço menor do que revendem no vencimento seguinte, mostrando um ganho no portfólio. No entanto, não é o que vemos no mercado de açúcar atualmente: a curva é de custo e carrego mas os fundos estão comprados. Oooops. Estarão os fundos corretos e o mercado errado? Só o tempo vai dizer.
A volatilidade histórica anêmica do mercado não permite operações atrativas com opções. Qualquer estrutura que implique apenas na venda de calls ou puts tem limitada possibilidade de êxito. A menos, é claro, que se combine com ela operações de compra de opções ou com futuros que zerem o delta. Fora isso, está realmente muito chato operar se você é daqueles traders que estavam acostumados com suculentas opções com gordas fatias de valor-tempo. Para se ter uma ideia de como o mercado está aborrecido, nos últimos 3 meses, em apenas 8 pregões o mercado oscilou mais que 2% (diferença entre a mínima e a máxima do dia em relação ao fechamento do dia anterior). Nos últimos 6 meses, apenas 17% dos pregões oscilaram mais que 2%. Esse ano, 55 pregões tiveram oscilações acima de 2%. Em 2012, foram 164 pregões (praticamente dois em cada três). Em 2011, 225 pregões oscilaram mais de 2% (9 em cada 10). Em 2010, 244 pregões (praticamente todos !!!). Definitivamente o mercado está com falta d e adrenalina. Tem-se a impressão que assistir a um campeonato de peteca dá mais emoção.
O volume diário de contratos negociados também despenca. A média de 20 dias atinge a marca de apenas 78.854 contratos, número mais baixo desde janeiro de 2013. Mais de 28 milhões de contratos futuros já foram negociados em 2013, e a projeção é encerrar o ano com menos de 30 milhões de contratos. Ou seja, talvez o mercado cresça 2,46% no ano, em linha com a demanda de hedge. Se é que esses números fazem mesmo sentido.
O consumo de combustíveis no mês de outubro, divulgado pela ANP, alcançou 1,01 bilhão de litros de etanol hidratado e 3,64 bilhões de litros de gasolina C. O consumo total no acumulado de doze meses atingiu 51,261 bilhão de litros, 5,87% acima do mesmo período do ano anterior. O consumo de gasolina A cresceu apenas 1,63% em doze meses e está praticamente inalterado desde o final de 2012. O grande salto no consumo ocorreu com o anidro (que vai na mistura da gasolina), um acréscimo de 18,29% em relação ao ano anterior. Hidratado também subiu 9,59%. Provavelmente vamos fechar o ano de 2013 com um incremento no consumo muito próximo de 3 bilhões de litros em relação ao ano de 2012, dos quais 1,06 bilhão de hidratado e 1,82 bilhão de anidro, cabendo à gasolina apenas 122 milhões de litros. A mudança do percentual na mistura de 20% para 25%, ocorrida em maio, diminuiu o consumo de gasolina A em mais de 1,4 bilhão de litros.