Semana mais curta de Carnaval e poucas novidades, a não ser pelo debate internacional, envolvendo G-20 e outros, em torno da chamada “guerra cambial” e o desempenho dos países da Zona do Euro e do Japão, ainda mergulhados numa recessão que parece não ter fim. Ventos mais otimistas, no entanto, parecem querer soprar para estes lados, ainda mais depois do acordo comercial entre EUA e Zona do Euro e uma atuação mais ativa do BCE na fiscalização bancária.
Sobre a “guerra cambial”, lembremos que esta deriva do fato de que os principais países desenvolvidos vêm adotando políticas monetárias frouxas, visando estimular suas economias, mas gerando como corolário um forte fluxo de recursos para os emergentes, apreciando suas moedas. Com isto, a capacidade de exportar destes, já afetada pela recessão, vem piorando.
Apenas uma observação sobre este debate merece ser feita, no que se refere ao Brasil. O governo Dilma deixou o câmbio deslizar mais em 2012 e nem assim a indústria reagiu, recuando 2,7%. Isto pode nos levar a acreditar que muito mais do que a variável câmbio, o estímulo do setor produtivo brasileiro deve passar pela redução do Custo Brasil, reformas estruturais e mais investimentos em infraestrutura.
Na Zona do Euro, o ano de 2012 também não foi nada bom. A região recuou 0,6% no último trimestre contra o mesmo do ano anterior - o terceiro seguido de queda e o maior desde o 1º trimestre de 2009, quando a crise era mais aguda. Diante disto, estamos revendo nossas estimativas para a região em 2013, com crescimento previsto passando de 0,3% para estagnação e para 2014 em torno de 1%.
A grande causadora deste fraco desempenho foi o “motor da região”, a Alemanha, que retraiu 0,6% no quarto trimestre contra o anterior, depois de crescer nos três anteriores. No primeiro cresceu 0,5%, no segundo 0,3% e no terceiro 0,2%, num claro indício de perda de força. As maiores quedas vieram das exportações e investimentos, com o consumo avançando ligeiramente. Apesar disto, conseguiu fechar o ano com expansão de 0,7%.
Isto nos leva a crer que, embora com ganhos de produtividade maiores, visto que já realizou boa parte das reformas no início dos anos 90, depois da queda do Muro de Berlim, sua economia segue impactada pelo menor crescimento dos parceiros comerciais da região. Com estes em recessão, a capacidade de exportar vem sendo afetada, impactando no crescimento da economia.
A França recuou 0,3% no último trimestre, a Espanha mergulhou 0,7% no último trimestre, recuando 1,8% contra o mesmo trimestre de 2011, totalizando queda de 1,3% no ano, e a Itália, no seu sexto trimestre de taxas negativas, registrou uma das maiores quedas no quarto trimestre, 0,9%, aprofundando a recessão (no primeiro trimestre, o PIB havia caído 0,8%; no segundo, 0,7%; melhorou um pouco no terceiro, -0,2%; para cair mais nos últimos três meses do ano).
A Grécia, no pior cenário, recuou 6% no quarto trimestre contra o mesmo do ano anterior, e a estimativa para 2013 indica uma retração em torno de 4,5%. Seu desafio maior é avançar nas reformas necessárias para ter uma gestão fiscal mais equilibrada. A meta de déficit público para este ano é de 4,3% do PIB, bem menor do que o rombo registrado em 2011, próximo a 8,9%. Em 2012, o déficit recuou de 19,7 bilhões para 12,9 bilhões de euros, o que reforça este esforço fiscal para os próximos anos.
Por fim, no Japão, o desempenho do PIB também veio fraco, com queda de 0,1% no quarto trimestre, depois de recuar 0,9% no trimestre anterior. No ano de 2012 o declínio foi de 0,4%. Para os próximos trimestres, o desafio do Bank of Japan será conseguir uma recuperação moderada da economia, através da flexibilização monetária recente, além dos estímulos fiscais adotados. Neste caso, tem importante peso a participação de Shinzo Abe, primeiro ministro, no que estamos chamando de abenomics, sustentada pelo afrouxamento monetário, estímulos fiscais no total de US$ 117 bilhões e meta de inflação a 2%. Com isto, o iene segue se depreciando, tendo chegado a 20% desde outubro de 2012, beneficiando as empresas a exportar mais, a principal “válvula de escape” do país. O problema é que com estes estímulos, a dívida pública pode chegar a 240% do PIB, o que não é bom para uma economia calcada na poupança e não no consumo.
Sobre o futuro da Zona do Euro e do Japão, não dá para ser tão pessimista diante dos esforços de ajustes recentes. A unificação bancária e monetária, aumentando o poder de fiscalização do BCE sobre os principais bancos da região, é uma boa notícia, assim como o acordo comercial firmado entre EUA e Zona do Euro na semana passada. Devemos destacar também as boas políticas econômicas adotadas no Japão, o que deve aumentar a competitividade da sua indústria, essencial para a retomada nos próximos anos.
Acreditamos que 2012 foi o fundo do poço para a Zona do Euro, só devendo melhorar daqui para frente, claro que ainda com muita volatilidade.