Volatilidade demasiada nem sempre simétrica aos fatos concretos!

Publicado 07.04.2014, 10:29

Quais as razões concretas para que o dólar americano sofresse acachapante depreciação frente real ao mesmo tempo em que a bolsa brasileira (Bovespa) tivesse comportamento de alta resistindo durante grande parte do pregão num contexto em que as bolsas americanas eram operadas em baixa, vindo a ceder somente ao final dos negócios.

Poderia se atribuir uma parcela da apreciação do real frente ao dólar tendo como causa o anuncio precoce do BC sobre o inicio da rolagem da posição de 174.650 contratos de swaps cambiais vincendos em 2 de maio, equivalentes a US$ 8,733 Bi, a partir da sexta feira (dia 04) passada com uma oferta de lote de 10.000 contratos.

Afinal, a despeito dos ruídos intensos em torno de ingressos de recursos especulativos no país, ocorre concomitantemente substantivo volume de saídas, o que promove tão somente discreto fluxo cambial liquido ao longo do 1º trimestre, bem aquém das necessidades do país, e o anúncio da rolagem dos contratos no mercado futuro promove um relativo alívio sobre as pressões que já se insinuavam na linha de apreciação da moeda americana.

Mas, este fato em si tinha, a rigor, potencial para uma apreciação do real em linha com outras moedas emergentes e o que ocorreu foi que a apreciação abrupta que atingiu quase o dobro das oscilações das outras emergentes, movimento absolutamente atípico.

Não há como atribuir-se com tanta ênfase este movimento à questão do emprego e os resultados divulgados pelo Departamento do Trabalho. Embora o número de 192.000 novos postos de trabalho criados em março tenha ficado abaixo das projeções que flutuavam entre 195.000 a 200.000 e a taxa de desemprego tenha ficado estável em 6,7% quando se esperava queda para 6,6%, não se pode considerar resultado desastroso, pois ainda demonstra vigor da economia americana.

Os analistas da CNN entenderam que, considerando que as elevações corretivas procedidas nos dados de janeiro e fevereiro foram fatos positivos, o dado de março foi tão somente discretamente abaixo das projeções e não suficiente para levar o FED à mudança do objetivo de iniciar a redução do juro no 1º semestre de 2015.

Tanto é que as bolsas americanas, que inicialmente reagiram com alta considerando o dado ruim , na sequência reavaliando-o não o consideraram tão ruim e sucumbiram à inevitável baixa ante as perspectivas que mantinham a tendência do corte de juro pelo FED.

A nossa BOVESPA, que por vezes pouco tem a ver com o que acontece no exterior, resistiu por um tempo maior com a manutenção da alta, mas, por fim, acabou sucumbindo.

Os “treasuries” americanos foram operados com os seus “yelds” fechando a curva em razão de suas valorizações, pois afinal são o “porto seguro” e as perspectivas para corte do juro para o 1º semestre de 2015 ainda está a quase 1 ano.

E, no Brasil, ocorreu outro destempero em torno da excessiva apreciação do real. A reação da moeda americana pouco teve a ver com o contexto externo, tendo em vista que a reavaliação ocorrida ainda com os negócios em curso, não consideraram os dados do emprego americano tão ruim, haja vista que mudaram a interpretação passando a considerá-los discretamente abaixo da projeção, mas sem potencial para alterar o posicionamento do FED em relação ao inicio do corte de juro a partir do 1º semestre de 2015.

Pesou fortemente o anúncio pelo BC da rolagem da posição de contratos de “swaps cambiais” vincenda em 2 de maio, e, é crescente que neste mês de abril o BC tende a rolar a totalidade da posição para buscar fragilizar ao máximo o dólar frente ao real, já que o ponto mais sensível que está sendo evidenciado nas pesquisas eleitorais é a percepção de que a inflação está muito mais aquecida do que tem se admitido, o que torna imperativo que seja combatida de forma mais intensa.

O dólar depreciado é muito mais eficaz e rápido em seus efeitos do que a taxa de juro, e, ao que parece, o BC vai retomá-lo como instrumento de contenção inflacionária.

Assim, houve no movimento abrupto de apreciação do real absolutamente dispare em relação a outras moedas consideradas frágeis de países emergentes, influência direta da atitude do BC e que é de toda conveniência dos bancos que estão “vendidos” e tem interesse que o preço da moeda esteja o mais baixo possível.

Ocorre que há riscos.

Embora extremamente salientados pela mídia os fluxos de recursos estrangeiros para o Brasil focando a rentabilidade dos papéis de renda fixa atrelados ao juro SELIC de 11%, pouca atenção tem sido dada ao fato do considerável montante de dólares que estão deixando o país quase na mesma proporção, o que tem se evidenciado pela pouca expressão do saldo liquido registrado pelo fluxo cambial do 1º trimestre.

Taxa de câmbio com o dólar fortemente depreciado é estimulante a saídas de recursos do país, que já é intensa, seja pela não rolagem de empréstimos de curto e longo prazo do setor privado que não estejam sendo rolados, da mesma forma os empréstimos “intercompanies”, e mais de importações já consolidadas e com os montantes à pagar.

Por outro lado, pode ter um efeito neutralizador no ingresso de capitais especulativos, pois com a taxa de conversão muito baixa fica subjacente a possibilidade de uma variação cambial mais substancial que assim encarece o “hedge” e pode impactar na rentabilidade objetivada.

É inegável que a questão eleitoral passará a ter influência sobre o comportamento do mercado financeiro, como já ficou evidente em momentos anteriores, assim como é notória a repercussão nas prévias eleitorais da questão inflacionária, de fácil percepção por todas as classes sociais.

Parece razoável admitir que o governo agirá fortemente sobre a questão inflacionária, e esta ação passará pela manifesta intenção de manter o real apreciado, contudo há fatores como o ingresso de capitais especulativos que podem sofrer retração dada a taxa cambial baixa e a intensificação das saídas pelas razões postas.

Não será algo gerenciável de forma fácil, pois o capital especulativo é muito volátil e da mesma forma que ingressa rapidamente pode sair com a mesma intensidade, e a taxa baixa desestimula o ingresso de capitais privados produtivos, que ao contrário tendem a deixar o país dada a baixa propensão a crescimento do PIB. Além disto, prejudica as exportações e estimula as importações que assim impactam prejudicando a industrial nacional.

Desta forma, temos um contexto que, a rigor, sugere o preço do dólar em alta pelos fundamentos, mas que ao governo interessa mantê-lo em baixa para conter pressões inflacionárias, o que pode causar riscos na área do emprego e renda, pois a indústria pode demitir, e como consequência tornar o preço da moeda americana muito volátil.

O Boletim FOCUS coloca como projeção o preço do dólar para fechamento do ano em R$ 2,45, abaixo das perspectivas presentes, mas ao mesmo tempo reduz mais uma vez a projeção para o crescimento do PIB, agora em 1,63%, com a SELIC em 11,25%.

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