Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Motivados por preços atrativos, os produtores de milho do Brasil devem ampliar a área na safra 2022/23, levando a produção do cereal para um recorde estimado em 126,63 milhões de toneladas, apesar de um risco climático maior na segunda safra por plantio fora do período ideal em alguns Estados, conforme pesquisa realizada pela Reuters.
O atraso na colheita da soja, que teve seu ciclo mais alongado, fez com que a semeadura da "safrinha" fosse postergada em algumas regiões importantes, como Paraná e Mato Grosso do Sul, deixando a safra mais propensa a períodos de seca durante o desenvolvimento da cultura.
No entanto, 12 analistas consultados pela Reuters ainda projetam, em média, um incremento de 4,40% na área total de milho nesta temporada, para 22,53 milhões de hectares (ver tabela).
Se confirmada, a produção estimada pelos especialistas representará uma alta de 11,93% em relação à safra passada, em momento de firme demanda interna e externa pelo milho brasileiro.
"O produtor está estimulado a plantar, tem preços remuneradores. Vamos ficar agora monitorando o clima no mês de abril, principalmente", disse à Reuters o líder de pesquisa da Datagro Grãos, Flávio Roberto de França Júnior.
O desempenho positivo do plantio em Estados como Mato Grosso contribui para manter a previsão otimista do mercado, com potencial para compensar eventuais danos em outras regiões.
"Atualmente as expectativas são bastante positivas. O progresso no Mato Grosso, principal produtor da segunda safra, teve um ritmo bom, então a perspectiva é de uma boa safra", disse o analista de inteligência de mercado da StoneX João Pedro Baptistini Lopes.
Ele disse que ainda não seria possível confirmar que virão prejuízos aos Estados que estão com plantio atrasado, mas será importante acompanhar o clima daqui para frente.
"Existe, sim, esse risco de perda do potencial produtivo", alertou.
O analista de Grãos e Proteína Animal da hEDGEpoint Global Markets, Pedro Schicchi, ressaltou que a tendência climática se encaminha para condições de El Niño, o que, na média, já foi positivo para as produtividades de milho de inverno no Centro-Oeste no passado, trazendo calor e umidade para a região.
"No entanto, o evento é mais correlacionado à temperatura do que à precipitação e, em concordância, as previsões de longo prazo apresentam bastante calor entre maio e julho, mas têm oscilado quanto à precipitação, o que traz preocupação", disse.
No geral, ele acredita que a confirmação ou não do aumento na área plantada --e a sua intensidade-- é a principal incerteza de curto prazo que pode mudar as expectativas de produção.
"Ainda acreditamos em uma grande safra no Brasil, mas alguns fatores que se apresentaram (o atraso e o clima) nos fizeram moderar o otimismo por hora", afirmou Schicchi.
O analista da consultoria Céleres Enilson Nogueira destacou que outro ponto relevante para o mercado de milho no momento é a necessidade de uma produção cheia no inverno para atender as demandas doméstica e internacional.
"Estamos vendo indústria de etanol de milho forte nas compras e exportações para segundo semestre com boas perspectivas --inclusive com mais volume para China", disse ele.
"Nosso número atual da safra de inverno é de, aproximadamente, 100 milhões de toneladas. É um número que deixa o mercado confortável em termos de abastecimento e precificação. No entanto, se não vier como esperado, pode desencadear altas (de preço) no mercado interno", ponderou.
O milho é um dos principais insumos utilizados para a fabricação de ração animal no país.
(Reportagem de Nayara Figueiredo)