Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A Bunge (NYSE:BG), maior processadora global de oleaginosas, mais que dobrou em um ano, de 30% para 64%, o monitoramento dos fornecedores indiretos de soja do Cerrado, com um programa que busca auxiliar a companhia a eliminar o desflorestamento da cadeia produtiva de suas compras.
Segundo Rob Coviello, chefe do departamento de sustentabilidade da Bunge, uma parceira com as revendas de insumos no Cerrado foi fundamental para a empresa alcançar tais resultados em 2021, que já superaram a meta de 50% prevista para 2022.
"Superou as nossas expectativas... mas temos que continuar, 65% é ótimo, mas temos outros 35% para trabalhar", acrescentou ele em entrevista à Reuters, arredondando os números.
A companhia tem como meta monitorar, até 2025, 100% dos fornecedores indiretos de soja no Cerrado, que totalizam cerca de 16 mil produtores, nas contas da Bunge.
A empresa já alcançou o monitoramento de 100% de suas compras diretas no Brasil, Argentina e Paraguai.
Atualmente, 52% do Cerrado --que cobre um quarto do território do Brasil-- mantém intacta sua vegetação nativa, e preservá-la tem sido uma exigência cada vez maior de consumidores e empresas que valorizam práticas sustentáveis e atividades com menos emissões de carbono.
A maior parte das compras de soja da Bunge no Cerrado, que inclui o Mato Grosso e Estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), é de fornecedores diretos, que respondem por 79% da originação, enquanto uma parcela menor é de indiretos.
A soja ocupa cerca de 10% do Cerrado, e dados citados pela Bunge indicam que 97% da expansão das lavouras na região entre 2014 e 2021 ocorreu em áreas abertas previamente, ou seja, sem desmatamento recente.
O programa com as revendas, que fornece a essas empresas a estrutura técnica, como o monitoramento via satélite das áreas do Cerrado, é chave para a empresa conseguir originar 100% de soja livre de desmatamento do Brasil até 2025.
A iniciativa, disse a empresa, colabora para que mais de 95% da soja comprada pela Bunge seja livre de desmatamento, nas chamadas regiões prioritárias, tendo como ponto de referência o ano de 2020.
A parceria, que envolve cerca de dez empresas revendedoras no Cerrado, sendo que a Bunge tem participação em duas delas (Sinagro e Alvorada), disse Coviello, proporciona alguns incentivos comerciais, com melhores taxas de juros nos financiamentos, para que os dados sobre rastreabilidade possam ser obtidos.
O executivo não detalhou esses benefícios ou investimentos no programa.
"A sustentabilidade está orientando o nosso crescimento... fizemos investimentos em alguns desses revendedores, como Sinagro e Alvorada, por quê? Para primeiro estarmos perto dos produtores e termos condição de crescer nos mercados", ressaltou.
Ele comentou que a parceria permite, pela proximidade com os produtores, que a companhia vença algumas barreiras, e possa inclusive trabalhar para mudar a opinião de alguns fazendeiros que defendem o direito de desflorestamento dentro dos percentuais estabelecidos pela lei brasileira.
"Temos de ter certeza de que há incentivos, tecnologias e solução para os produtores fazerem o tipo de mudança que o mundo está pedindo para eles fazerem... Alguns produtores estão preparados e outros não...", disse ele.
Ele disse também que a empresa está satisfeita com a posição de investidor minoritário em algumas dessas revendas, ao ser questionado se a Bunge avaliava expandir participação.
(Por Roberto Samora)