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Clima tira brilho da safra de soja do Brasil, mas é cedo para ver quebra, dizem analistas

Publicado 07.11.2023, 08:21
Atualizado 07.11.2023, 08:26
© Reuters. Caminhão carregado com soja
17/02/2020
REUTERS/Jorge Adorno
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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - Apesar de previsões climáticas indicarem chuvas fracas em novembro no centro-norte do Brasil e precipitações volumosas ao sul, assim como aconteceu em outubro, ainda é cedo para estimar uma eventual quebra de safra de soja no maior produtor e exportador global da oleaginosa, disseram quatro especialistas consultados pela Reuters.

O plantio de soja está atrasado em relação à média histórica, o que tira o brilho de uma possível colheita recorde e traz também preocupações sobre a perda da janela climática ideal para a segunda safra, de milho e algodão, plantada após a colheita da oleaginosa.

Mas, considerando que o plantio no país ainda está em desenvolvimento, e que a soja tem boa capacidade de recuperação, analistas estão cautelosos em rebaixar suas previsões neste momento.

"Há preocupações, mas ainda é muito cedo para falarmos em perdas produtivas, é muito cedo para cortar potencial. Se o clima se confirmar irregular em novembro e ao longo de dezembro, a gente vai ter de começar a cortar, mas acho muito cedo para fazer isso agora", disse o analista da Safras & Mercado Luiz Fernando Roque.

Segundo ele, alguns mapas meteorológicos apontam para a manutenção de um clima irregular ao longo de novembro, embora os próximos sete dias devam ser de uma umidade um pouco maior no Norte e Nordeste, o que traz alguma segurança para o desenvolvimento dos trabalhos.

"Em praticamente todos os Estados, o plantio está atrasado frente à média, alguns lugares por excesso de umidade, como o Sul do Brasil, em outros lugares por falta de umidade. O produtor não planta porque não adianta plantar e não chegar chuva para a germinação", comentou, ponderando que há tempo para a soja.

No entanto, o mesmo não é válido para a segunda safra de milho. "Podemos começar a pensar em uma área menor do que a esperada inicialmente... O que pode mexer um pouco com o potencial produtivo, via área (menor)", disse.

Na véspera, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) manteve a projeção de safra de soja de Mato Grosso, maior produtor brasileiro de grãos e oleaginosas, mas reduziu a previsão para o milho do Estado.

Conforme dados de outubro da estatal Conab, que serão atualizados na próxima quinta-feira, a safra de soja do Brasil deverá crescer 4,8% em 2023/24, para um recorde de 162 milhões de toneladas.

POTENCIAL DE REAÇÃO

"Talvez esse plantio complicado tire um pouco do brilho, mas ainda tem chão pela frente, ainda acredito que se o clima colaborar, podemos ter uma boa safra", disse a analista da AgRural Alaíde Ziemmer.

"Pensando em Mato Grosso, a gente pode ter alguma redução de produtividade na soja de ciclo mais precoce... Mas pensando no geral das áreas de Mato Grosso ainda está em aberto... o clima de novembro e dezembro ainda vai ser decisivo, pois as lavouras vão estar florescendo e enchendo grãos, que é fase determinante de potencial produtivo em Mato Grosso", disse.

Segundo ela, se as condições climáticas colaborarem, algumas áreas de soja ainda podem "ter um efeito compensatório em talhões onde o 'stand' de plantas ficou abaixo de desejado".

Com uma população menor de plantas pelo clima irregular, aquelas que continuarem nos campos podem produzir mais, se as chuvas colaborarem. "Varia de cada cultivar, da condição de solo. Mas é uma característica da soja... a gente pode contar com esse efeito de plasticidade."

Para o sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, "a progressão dessa situação deverá trazer impactos para a produtividade da soja e, também, do milho segunda safra", com boa parte das áreas plantadas fora da janela ideal em 2024.

Mas ele concorda que ainda não é possível estimar uma perda de potencial neste momento, principalmente para a soja, "que tem boa capacidade de recuperação".

"Vide o ocorrido com a safra dos EUA deste ano."

A analista da StoneX Ana Luiza Lodi disse que, apesar das preocupações com o clima, "ainda não falamos em quebra, pois o plantio consegue avançar rapidamente, desde que as condições permitam".

"Acho que ainda é um pouco cedo. O clima ainda precisa ser acompanhado", comentou. No último dia 1º, a StoneX elevou a previsão para a safra de soja do Brasil a 165 milhões de toneladas, contabilizando um aumento da área plantada.

Outros já estão mais pessimistas.

© Reuters. Caminhão carregado com soja
17/02/2020
REUTERS/Jorge Adorno

Para o agrometeorologista da Rural Clima Marco Antonio dos Santos, a previsão climática de novembro trouxe pessimismo pela primeira vez na safra. "O meu número está abaixo de 160 (milhões de toneladas), se confirmar essa previsão de pouca chuva nessa primeira quinzena de novembro e temperaturas altas."

Para diretor da consultoria Pátria AgroNegócios, Matheus Pereira, a irregularidade das chuvas já tirou o "teto" produtivo da produção brasileira, de mais de 165 milhões de toneladas.

 

(Por Roberto Samora)

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