Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A moagem da nova safra de cana-de-açúcar (2022/23) do centro-sul do Brasil está estimada em 562 milhões de toneladas, em "recuperação" após uma produção de 525 milhões de toneladas no ciclo anterior afetado por geadas e seca, disse nesta sexta-feira o presidente da consultoria Datagro, Plinio Nastari.
Mas, em entrevista à Reuters, ele afirmou que o viés é de baixa para a safra que começa oficialmente em abril, devido a chuvas escassas e irregulares em regiões como Mato Grosso do Sul, Paraná e partes de São Paulo, maior Estado produtor de cana do Brasil.
"A safra passa de 525 para 562, mas com viés de baixa, porque não está chovendo nessas últimas semanas, e é um momento crítico (para o desenvolvimento). Tem armazenamento hídrico no solo, mas precisa voltar a chover", afirmou.
Segundo ele, é preciso que volte a chover em abril para que perdas de produtividade sejam evitadas.
"As chuvas no centro-sul estão muito irregulares, tivemos agora uma estiagem, tem regiões que estão sofrendo muito por falta de precipitações, no Paraná, Mato Grosso do Sul... Tem regiões que estão indo bem, como Goiás, Minas Gerais... mas regiões de São Paulo também estão sofrendo", afirmou.
Os comentários foram realizados antes de evento no próximo dia 9, em Ribeirão Preto, no qual a Datagro deve divulgar mais informações sobre a oferta e demanda de açúcar e etanol.
A estimativa de safra está, contudo, mais perto da faixa superior de uma previsão feita pela Datagro em outubro, entre 530 milhões e 565 milhões de toneladas.
Apesar da recuperação ante um ciclo atingido por seca e geadas, a safra ainda ficará bem abaixo da verificada na temporada 2020/21, quando a moagem somou 605,5 milhões de toneladas.
Segundo Nastari, o mix de produção de açúcar e etanol em 2022/23 ainda vai depender muito dos desdobramentos do conflito entre Ucrânia e Rússia.
"Se o petróleo dispara para 130, 140 dólares o barril, o que é uma possibilidade, se espera que a Petrobras (SA:PETR4) acompanhe", disse Nastari, citando que no momento a defasagem da gasolina da estatal em relação à paridade de importação está em 25%.
Segundo ele, a Petrobras "normalmente mantém defasagem entre 8% e 10%". "Ela anunciou que vai esperar um pouco para ver se é turbulência, mas com a situação do conflito, ela não vai sustentar muito tempo um preço tão fora da paridade."
Isso acontecendo, continuou Nastari, é possível que o preço do etanol tenha que avançar para se equilibrar com o da gasolina.
"O preço do álcool, mesmo tendo um aumento de produção, ele precisa acompanhar o preço da gasolina, senão tem um consumo de etanol muito grande, e não tem equilíbrio de oferta", comentou.
Essa situação se dá em momento em que o setor vem de uma safra com custos pressionados, com altas entre 32% e 46%, dependendo da região, em meio a maiores preços de fertilizantes, pesticidas e combustíveis, segundo a Datagro. "Se a usina não repassar, não sobrevive."
(Por Roberto Samora)