Por Jessica Bahia Melo
Investing.com – Os preços da gasolina e do diesel nas refinarias brasileiras continuam defasados em relação à cotação internacional, enquanto o do GLP apresentou prêmio na mesma comparação. Segundo relatório do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a gasolina teria uma defasagem de -5,46%, o diesel de -7,76% e GLP de +25,52%. Os preços de paridade de importação foram calculados com base nos valores da gasolina, diesel, GLP e taxa de câmbio do dia 18 de novembro. Com a pressão do governo de Jair Bolsonaro (PL), a Petrobras (BVMF:PETR4) segura os reajustes nos preços dos combustíveis desde as eleições.
De acordo com o estudo, no cenário internacional, os contratos futuros do petróleo e seus derivados ainda são influenciados pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Além disso, a persistência de medidas restritivas e tendência crescente de casos de covid-19 na China afetam as expectativas de demanda reduzida no curto prazo.
Pedro Rodrigues, diretor executivo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), avalia que além do cenário pós-pandemia, guerra na Ucrânia e inverno na Europa sem gás natural russo, o final de ano deve ser impactado pelo aumento na demanda da gasolina nos Estados Unidos, levando a um cenário de mais volatilidade.
Confira entrevista na íntegra:
Investing.com – Quais os possíveis motivos para a defasagem verificada?
Pedro Rodrigues – Estamos vivendo um cenário de muita volatilidade no mercado, mesmo no pós-pandemia. Houve um descolamento, um desarranjo, entre oferta e demanda de petróleo, com a questão da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, além do problema do gás natural como principal combustível na Europa. O corte nesse gás natural mexeu com o mercado de combustível porque o substituto direto do gás é o diesel para aquecer a casa das pessoas.
Então a defasagem tem andado volátil e ainda, no Brasil, como vimos nas últimas semanas, principalmente depois da eleição, houve um rali no câmbio. A subida do câmbio também é ruim para os preços dos combustíveis aqui no Brasil como é no mundo todo. Se uma moeda X for desvalorizada em relação ao dólar, o preço do barril de combustíveis é cotado em dólar. Então, se a gente tem um real maior desvalorizado, a gente vai ter preços mais altos nos combustíveis.
Inv.com – Quais fatores ainda devem influenciar as cotações do petróleo nos próximos meses?
Rodrigues – Eu acho que, nesse momento, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia ainda é um fator de imprevisibilidade. Há uma disputa ainda entre a OPEP+ e os Estados Unidos em relação ao preço do barril. De um lado, o cartel corta a produção e de outro lado os Estados Unidos sobem juros para tentar diminuir a demanda por petróleo em um mundo em recessão.
Em relação aos combustíveis, cabe avaliar como será o inverno europeu e qual será a resposta em um ambiente de recessão. Se o inverno for muito forte, ainda poderemos ver mais um rali de preços no mercado do diesel.
Inv.com – O que esperar do novo governo sobre paridade de preço internacional dos combustíveis ou internalização do preço baseado nos custos locais? Na sua avaliação, a paridade deveria ser mantida? Por quais motivos?
Rodrigues – A gente precisa esperar. Acho que tem muita especulação e pouca densidade no que estamos vendo. Eu, particularmente, independentemente da posição de um governo ou de outro, eu não acredito em abrasileirar preços. Eu não consigo ver como esses preços podem ser abrasileirados. Eu acho que criaria distorções no mercado. Similares, mas não iguais ao que foi criado no governo da ex-presidente Dilma. Não é uma questão ideológica, é uma questão econômica. O Brasil é importador de derivados de petróleo, nós importamos diesel, importamos gasolina, importamos GLP. Tem vários portos de entrada desse combustível no Brasil.
Já ouvi na imprensa uma solução, ‘uma ideia mágica’ de regionalizar os preços. Isso já existe. Portos de entrada são diferentes. O Brasil é um país de dimensões continentais. Quer dizer, os preços não são iguais, né? Então eu não consigo ver esse ‘abrasileirar preços’ com base em custo da Petrobras.
Tudo isso, se for feito, vai criar distorções no mercado similares às do governos em 2014, quando a Petrobras assumiu essa responsabilidade de continuar abastecendo o Brasil independente do preço do petróleo, com um preço tabelado, distorcido e acabou assumindo prejuízo dentro do seu balanço.
Inv.com – Há risco de taxação de exportações de petróleo bruto?
Rodrigues – Eu acho esse assunto também tem muita especulação, mas se a gente pegar, por exemplo, um dos nomes cotados para assumir a Petrobras, um cargo relacionado à indústria de petróleo, é o senador Jean Paul Prates, que foi o autor de uma lei que defendia a taxação da exportação de petróleo. Qualquer pessoa e o senador também pode mudar de opinião. Vamos ver como é o novo cenário. Acho que, naquele momento, a solução que ele deu foi exatamente para tentar solucionar um pouco dessa alta de preços, criar um fundo para estabilização.
Mas, se a gente tiver uma outra saída como o abrasileiramento dos preços, os preços regionalizados, talvez essa ideia seja colocada de lado. Então acho que depende muito de como esse mercado vai se comportar.
E, lembrando também, que se a gente tiver preço de petróleo para baixo nos próximos anos, acredito que essas discussões vão acabar morrendo porque não vão ter tanto sentido, seriam desgastes políticos sem necessidade.
Inv.com – E qual é a sua avaliação de uma medida como essa?
Rodrigues – Eu acho que uma medida é muito ruim, vai tirar a competividade do petróleo brasileiro, tirar a competitividade das empresas brasileiras em um setor que sempre foi bem-sucedido por aqui.
A curva de produção de petróleo só vem crescendo nos úl-0timos anos. Os leilões que foram realizados no passado, todos puderam impulsionar o Brasil para se tornar uma potência na produção de petróleo.
Então acho que esse tipo de medida afugenta de certa forma o investidor, que vai olhar para outros lugares do mundo e colocar dinheiro onde a exportação de óleo não é taxada. Nesse caso, além disso, acho que é perda de competitividade do petróleo brasileiro, o que é ruim, na minha opinião, para o Brasil como um todo.