SÃO PAULO (Reuters) - A simplificação nas exigências para que consumidores de energia elétrica possam operar no mercado livre, no qual negociam contratos de suprimento diretamente com geradores e comercializadores, deve tornar o negócio mais atrativo para indústrias de menor porte em 2016, e já atrai o interesse de gigantes empresas do setor elétrico.
Grandes elétricas, como CPFL Energia (SA:CPFE3), EDP (SA:ENBR3) Energias do Brasil, Neoenergia e Cemig (SA:CMIG4), confirmaram à Reuters que analisam a possibilidade de criação de comercializadores varejistas, uma novidade na regulação que permitirá que essas empresas respondam pela compra e gestão dos contratos de energia dos clientes.
As novas regras, que entraram em vigor este ano, devem permitir impulso adicional aos negócios à medida que o preço da energia no mercado livre começa a apresentar recuos mais expressivos, após máximas na maior parte do ano.
Antes, os consumidores precisavam operar diretamente no mercado, o que envolve processos complexos e burocráticos que reduziam o interesse e aumentavam o risco na livre negociação de energia elétrica por indústrias de menor porte.
O gerente de atendimento da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Cesar Pereira, disse que a instituição já recebeu pedidos de habilitação de empresas interessadas em atuar no segmento. "Temos pedidos de habilitação de varejistas ligados a grandes grupos... e temos os ligados a comercializadoras independentes."
O Grupo CPFL foi o primeiro dentre as grandes holdings de energia elétrica a entrar com pedido para criar um varejista.
A EDP Energias do Brasil também tem interesse e se prepara para pedir adesão.
"Estamos olhando isso seriamente. Existem algumas discussões em andamento, estamos participando dessas discussões, mas vamos, sim, entrar", disse o vice-presidente de comercialização do grupo EDP Energias, Carlos Andrade.
A holding Neoenergia, que controla distribuidoras de energia no Nordeste, também confirmou, por meio da assessoria de imprensa, que "está se estruturando para entrar nesse segmento, no qual tem efetivo interesse".
Já a Cemig disse, em nota, que "está analisando a questão", mas preferiu não tecer outros comentários.
Do lado das empresas independentes, a comercializadora Comerc também deu início ao processo de habilitação para atuar na área. "O varejista facilita vários processos (para o consumidor)", disse à Reuters o presidente da empresa, Cristopher Vlavianos.
INCENTIVO DO PREÇO NO LIVRE
Segundo Vlavianos, a forte elevação das tarifas das distribuidoras neste ano no mercado regulado também contribuirá para incentivar uma expansão na comercialização de energia no ambiente livre.
"Estamos vendo um movimento de migração para o mercado livre se intensificando de novo. Os preços estão começando a ficar mais competitivos", comentou.
Para o presidente da plataforma eletrônica de negociação de energia elétrica BBCE, Victor Kodja, preço menor e mais facilidade na migração abrem espaço para uma grande onda de migração de indústrias para o mercado livre de eletricidade em 2016.
"Com o varejista, você vai poder buscar participantes menores. Se as comercializadoras tiverem gente competente para fazer a abordagem adequada (junto aos consumidores), e a maioria delas tem, temos a chance de ver um crescimento interessante", disse o presidente da plataforma de negociação de energia BBCE, Victor Kodja.
O Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), utilizado no mercado de curto prazo de energia elétrica, esteve no teto regulatório, de 388 reais por megawatt-hora, desde o início do ano, mas passou a cair em junho e ficou em 214 reais por megawatt-hora no Sudeste para a próxima semana.
"Os preços estão caindo não só no mercado de curto prazo, mas também (nos contratos) para 2016 e 2017. A curva inteira (de preços) caiu um pouco mesmo, o que é uma indicação positiva para quem quer deixar o mercado regulado e ir para o livre", disse Carlos Andrade, da EDP.
(Por Luciano Costa)