Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A JBS (BVMF:JBSS3) começou um projeto para introduzir o uso de biodiesel 100% (B100) em sua frota própria de caminhões, em um teste que busca dar visibilidade às vantagens ambientais do biocombustível frente ao diesel, em linha com os compromissos da empresa de descarbonizar suas operações, especialmente na área de transporte, afirmou nesta terça-feira a maior produtora global de carnes à Reuters.
A iniciativa testará a utilização do B100 produzido na unidade da JBS Biodiesel em Lins (SP), em três veículos da montadora holandesa DAF.
O Brasil atualmente mistura mandatoriamente 12% de biodiesel no diesel, e o país tem um cronograma para elevar esse percentual nos próximos anos, para 13% em 2024, 14% em 2025 e 15% em 2026. O setor produtivo tem inclusive pedido 20% nos grandes centros urbanos já em 2024.
O projeto da companhia tem como objetivo comprovar a qualidade do biodiesel como substituto ao diesel na matriz de logística rodoviária brasileira, ressaltou a JBS, confrontando algumas entidades ligadas ao setor de transporte que citam problemas nos motores com uma mistura maior do biocombustível, o que o setor nega.
O diretor comercial da JBS Biodiesel, Alexandre Pereira, disse que a introdução do B100 na frota de caminhões da JBS é uma sinalização importante da companhia para o mercado brasileiro.
"O biodiesel tem uma série de benefícios para o Brasil. Além de ser um energético mais limpo, contribuindo para reduzir a poluição nas grandes cidades, trata-se de um biocombustível que ajuda a reduzir a dependência de importação de diesel", afirmou ele, em nota.
"Além disso, trata-se de um produto de alta qualidade, que não traz nenhum dano aos motores", ressaltou o executivo, citando que o biodiesel emite até 80% menos gás carbônico do que o diesel de fóssil.
Com plantas localizadas em Lins, Mafra (SC) e Campo Verde (MT), a JBS Biodiesel é uma das cinco maiores produtoras de biodiesel do Brasil, sendo líder na produção do biocombustível a partir do sebo bovino, subproduto do processamento de carnes.
Para a Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio), o avanço do uso do biodiesel confirma o que o setor tem sinalizado sobre a qualidade do produto.
"Já tivemos essa experiência com o uso de B100 com ônibus Scania e Volvo durante mais de 10 anos em Curitiba, sem apresentarem nenhuma ocorrência. Fora do país, essa prática já é conhecida, como na Suíça, onde há bomba de abastecimento que possibilita a caminhões usarem B100 e o fazem", disse o diretor superintendente da Aprobio, Julio Cesar Minelli, ao ser consultado pela Reuters.
Ele citou ainda que, na França, a Scania já habilitou duas linhas de caminhões para usarem B100.
EXPANSÃO
Para o projeto B100, serão testados três caminhões DAF 530, com cavalos mecânicos traçado 6 x 4 e com uma capacidade de transporte de 74 toneladas. Segundo a empresa, os veículos são originais de fábrica e trabalharão com dois semirreboques contêineres, sendo utilizados pela JBS Transportadora na rota logística entre Lins e o Porto de Santos, no litoral paulista.
O projeto é de que os caminhões rodarão uma média 1.200 km por dia. Conforme os dados iniciais, "os primeiros quilômetros rodados já mostram que o consumo de combustível com o B100 está similar ao do diesel".
A JBS disse que os equipamentos não passaram por adaptação, e que o B100 pode ser usado normalmente nos caminhões.
"Há interesse da companhia em expandir o uso de B100 em suas frotas, em linha com seu compromisso de descarbonizar as operações", disse a empresa, sem detalhar prazos.
A JBS relatou ainda que, para os testes atuais, com poucos caminhões, não houve necessidade de autorização da agência reguladora do setor de combustíveis. Mas destacou que já fez pedido de permissão à ANP para quando o volume de consumo de 10 mil litros por mês for superado.
Para identificar os veículos, a JBS vai adesivar os três caminhões com a sinalização “100% movido a biodiesel”.
Atualmente, a capacidade instalada da JBS Biodiesel é de cerca de 720 milhões de litros por ano, volume que equivale a pouco mais de 10% do volume de 6,3 bilhões de litros do biocombustível produzido no país em 2022.
(Por Roberto Samora)