Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - A pedido da Polícia Federal, a Justiça Federal no Pará determinou a prisão preventiva de dois oficiais superiores da Polícia Militar do Estado e ainda determinou o afastamento de outros 36 policiais dos respectivos atuais grupamentos por suspeitas que envolvem o recebimento de propina e também realizar indevidamente a segurança privada a uma mineradora investigada por atuação no garimpo ilegal do ouro na região do Tapajós, no sudoeste paraense.
Segundo decisão judicial vista pela Reuters e nota da PF sobre o caso, um coronel e um tenente-coronel -- chefes de batalhões da PM no município de Itaituba, cidade com forte influência garimpeira -- e dois empresários da empresa Gana Gold foram presos preventivamente na quinta-feira.
Ainda foram cumpridos 21 mandados de prisão, ocasião em que foram apreendidos oito carros de luxo, celulares, joias e volumes ainda não contabilizados de ouro e dinheiro.
A suspeita é que os policiais recebiam uma espécie de mesada por meio de empresas e outras pessoas investigadas no comércio do ouro de terras indígenas e de áreas de proteção legal. O repasse, conforme a PF, serviria para que os servidores "facilitassem ou não reprimissem os crimes ambientais cometidos pelas empresas, além de atuarem na logística e segurança do ouro ilegal".
Segundo a PF, há "fortes indícios" de que o ouro comercializado pela organização criminosa tenha como origem localidades dentro ou ao redor da Terra Indígena Munduruku, uma gigantesca área do tamanho da Suíça. Essa é uma das terras indígenas mais devastadas pelo crime e que passa, desde o início do mês, por uma grande operação de desintrusão, envolvendo 20 órgãos federais, incluindo a própria Polícia Federal.
Em nota, a Assessoria de Comunicação da Polícia Militar do Pará informou que afastou "todos os agentes envolvidos no caso e exonerou os militares que exerciam função de comando".
"A PM reforça que não aceita desvios de conduta na corporação e que a corregedoria acompanha as investigações", ressaltou.
A reportagem não conseguiu contato com os responsáveis ou com a defesa da Gana Gold.
O coronel preso, conforme as investigações, receberia uma mesada de 4 mil reais para atuar em favor da mineradora e não embaraçar o negócio ilegal.
Em conversa com um dos donos da empresa, segundo a decisão judicial vista pela Reuters, ele chega a antecipar a nomeação de um novo policial responsável pelo patrulhamento da região para tentar reduzir o descontentamento deles após a prisão de um garimpeiro ligado a eles anteriormente.
Havia ainda, segundo a nota da PF, um rateio de outros 10 mil reais pelos policiais militares para ficarem "à disposição das empresas, inclusive em horários de expediente e usando carro e outros materiais de trabalho institucionais".
O grupo empresarial alvo da operação da PF, denominada Cobiça, registrou um "rendimento estimado" de 1,1 bilhão de reais entre os anos de 2020 e 2021, conforme laudo da PF, e já esteve no centro de outras investigações oficiais sobre irregularidades no garimpo.