Por Barani Krishnan
Investing.com - Os preços do ouro despencaram até 2% na terça-feira (13), caindo abaixo do apoio-chave de US$ 1.900, enquanto as negociações para um estímulo econômico para ajudar milhões de americanos em dificuldades financeiras com a pandemia do coronavírus voltaram a encontrar obstáculos.
Qualquer plano fiscal que acabe emitindo mais dinheiro sustenta o ouro, em teoria, e o metal amarelo atingiu máximas de três semanas acima de US$ 1.939 na segunda-feira, na expectativa de que legisladores republicanos alinhados a Donald Trump pudessem chegar a um acordo com os democratas rivais no alívio de US$ 1,8 trilhão proposto pelo presidente.
A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, que é a principal democrata no Congresso, no entanto, descartou um acordo na terça-feira depois que o líder da maioria no Senado, Mitch McDonnell, reduziu ainda mais a oferta para cerca de US$ 500 bilhões.
"A estagnação em Washington sobre o próximo pacote de estímulo continua a pressionar ativos como o ouro, que dependiam da fraqueza do dólar com a próxima onda de apoio", disse David Meger, diretor de trade de metais da High Ridge Futures, citado pela Reuters .
O ouro para entrega em dezembro fechou em US$ 1.894,60 a onça na Comex de Nova York, queda de US$ 34,35, ou 1,8% - quase revertendo todos os ganhos que havia tido desde sexta-feira.
O ouro à vista, que reflete as negociações em tempo real em lingotes, caía US$ 28,92, ou 1,5%, para US$ 1.893,90 às 16h26 (horário de Brasília).
Houve outro motivo para o mergulho do ouro: o dólar.
O Índice Dólar, que compara a divisa norte-americana às seis principais moedas, subiu pelo segundo dia consecutivo na terça-feira, ganhando 0,5%, para 93,53. Na segunda-feira, o índice atingiu uma mínima de três semanas de 93,03.
Mas mesmo antes do último impasse sobre o alívio da Covid-19, o dólar havia se recuperado com pouca justificativa desde agosto, dificultando as tentativas do ouro de retornar às máximas de US$ 2.000 atingidas naquela época.
Apesar de um déficit fiscal nos EUA e recessão recorde, milhares de fechamentos de empresas, desemprego histórico e outros males econômicos forçados pela pandemia, o dólar tem se mantido teimosamente acima da zona de apoio de 93 na maior parte dos últimos dois meses - tornando-se um dos principais ativos com valor distorcido.
A presidente da Câmara, Pelosi, disse na terça-feira que, embora permanecesse esperançosa com um acordo de estímulo, "mudanças significativas devem ser feitas para remediar as deficiências da proposta de Trump".
"Tragicamente, a proposta de Trump fica significativamente aquém do que esta pandemia e recessão profunda exigem", acrescentou ela em uma carta a seus colegas democratas, publicada na terça-feira.
O Congresso aprovou quatro pacotes da lei de auxílio CARES do coronavírus no segundo trimestre deste ano, distribuindo cerca de US$ 3 trilhões em proteção de salário para trabalhadores, empréstimos e subsídios para empresas e outras ajudas pessoais para cidadãos e moradores qualificados.
Republicanos e democratas estão em um impasse desde então sobre um pacote sucessivo para o CARES, discutindo sobre o tamanho do próximo alívio, já que milhares de norte-americanos, particularmente no setor de companhias aéreas, corriam o risco de perder seus empregos sem mais ajuda. Trump, que se candidata à reeleição em 3 de novembro, acusou Pelosi de jogar futebol político por causa do assunto. A presidente da Câmara diz que qualquer estímulo deve ser vantajoso para todos os americanos, e não para a conveniência política de Trump.
Na semana passada, Trump, após várias reviravoltas sobre a questão, propôs um pacote de US$ 1,8 trilhão que ainda ficava aquém da demanda democrata de US$ 2,2 trilhões. Pelosi e o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, falaram ao telefone pelo menos duas vezes desde então, mas não conseguiram chegar a um acordo. Sem o apoio dos democratas, a votação do Senado sobre o estímulo liderada por McConnell também falhará no teste de obstrução do Senado pelo qual deve passar.
Os Estados Unidos lideram a contagem global de casos de coronavírus, com 7,8 milhões de infecções e mais de 215.000 mortes, de acordo com dados monitorados pela Universidade Johns Hopkins.
A própria economia dos EUA encolheu no ritmo mais rápido da história no segundo trimestre de 2020, contraindo 31,4% em meio a bloqueios generalizados provocados pela pandemia.
Embora os dados econômicos tenham sido encorajadores nos últimos meses, a recuperação da própria pandemia permaneceu irregular. Em termos de empregos, os Estados Unidos ganharam 661.000 empregos em setembro, menos da metade dos ganhos registrados em agosto, à medida que a recuperação do mercado de trabalho da pandemia do coronavírus diminuiu.