SÃO PAULO (Reuters) - Os pedidos de recuperação judicial por produtores rurais que atuam como pessoas físicas no Brasil tiveram aumento de mais de seis vezes em 2023 na comparação com 2022, com um salto no último trimestre do ano, quando ficaram mais claros os efeitos da seca para a safra de soja, segundo dados da Serasa Experian (LON:EXPN) divulgados nesta quinta-feira.
Ao todo, foram registradas 127 solicitações de recuperação judicial (RJ) no ano passado no país, contra apenas 20 pedidos no ano anterior, alta de 535%. No quarto trimestre, a Serasa contabilizou 47, versus 4 no mesmo comparativo, aumento de mais de dez vezes.
Além da quebra de safra, produtores de grãos como soja e milho estão lidando com preços mais baixos, o que afetou a rentabilidade do segmento.
"Quando relativizamos a quantidade de recuperações judiciais solicitadas versus as milhões de pessoas que exercem atividade ligada ao agro, o número de recuperações judiciais parece pequeno. Mas a velocidade em que essas solicitações vêm crescendo trimestre a trimestre é preocupante", disse o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta.
Em fevereiro, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) afirmou ver com preocupação o aumento dos pedidos de recuperação judicial de agricultores no país, acrescentando que a situação pode comprometer a execução de contratos de grãos.
A busca por proteção judicial pelos agricultores também pode prejudicar a capacidade dos comerciantes de concluir seus programas de exportação, se a mercadoria comercializada não for entregue.
Nesta semana, o CEO da unidade brasileira da trading e processadora de grãos Cargill, Paulo Sousa, disse que a recente onda de pedidos de recuperação judicial por agricultores "traz muita preocupação ao setor".
A Serasa afirmou que os produtores rurais que mais solicitaram recuperação judicial foram aqueles que tinham maiores áreas com plantio de soja. Em segundo lugar, vieram aqueles que possuem áreas de pastagem e, depois, os cafeicultores.
Grandes proprietários agrícolas registraram 35 solicitações de RJ no ano passado, versus apenas 5 no ano anterior. Já para aquele grupo no qual estão os arrendatários de terras, a Serasa registrou ao todo 44 solicitações, contra 8 no período anterior.
Mato Grosso, maior produtor brasileiro de grãos e oleaginosas, que sofreu os piores efeitos da quebra de safra de soja, foi o Estado com o maior número de pedidos, com 43, seguido por Goiás (36), Minas Gerais (18) e Mato Grosso do Sul (10), entre outros.
Além das questões climáticas, que têm ocasionado as quedas de safra em diversas regiões, o cenário econômico não contribuiu para a criação de uma estabilidade financeira no campo, acrescentou Pimenta.
"No cenário atual de rentabilidade do produtor rural mais apertada, taxas de juros ainda altas e perspectiva baixista de preços internacionais de grãos, a necessidade de estímulos para regularizar compromissos financeiros é cada vez maior”, explica Pimenta.
Apesar do aumento nos pedidos de recuperação judicial, a Serasa avalia que a maior parte do agronegócio brasileiro tem conseguido "superar barreiras e se manter produtiva sem arriscar sua reputação de crédito no mercado".
(Por Roberto Samora)