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Petróleo: Como a alta de juros nos EUA impacta o preço; reunião da Opep+ no radar

Publicado 01.05.2022, 06:32
Atualizado 01.05.2022, 15:19
© Reuters.
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Por Barani Krishnan

Investing.com -- O Federal Reserve parece quase pronto para aprovar um aumento dos juros de 50 pontos base, ou meio ponto percentual, ao final da sua reunião de política monetária de maio na quarta-feira - sua primeira elevação de tal magnitude em mais de 20 anos. Mas isso ainda não deve ser o pico para o Fed. Os investidores do mercado monetário estão precificando um aumento de 75 pbs em sua reunião de junho. Se o banco central for tão longe, será partindo da premissa de que a economia dos EUA "pode aguentar" e que a inflação deve ser derrotada "a todo custo".

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Mas será que a economia realmente pode aguentar aumentos tão agressivos dos juros sem se desgastar? Ou melhor, será que o mercado de trabalho, que vem crescendo numa velocidade tão assombrosa como a inflação ao longo do último ano, consegue absorver a restrição que o Fed está planejando, especialmente com a espiral dos salários e da demanda por trabalhadores - os dois maiores culpados das atuais pressões dos preços, pelo menos de acordo com o banco central.

Se o mercado de trabalho desacelerar devido ao Fed, isto terá implicações importantes no mercado de petróleo devido à relação entre os dois.

CONFIRA: Projeções da taxa de juros do Federal Reserve

Altos preços de petróleo podem prejudicar o crescimento econômico, mas não necessariamente um mercado de trabalho como o dos EUA hoje. Mas uma desaceleração no crescimento do emprego, ou pior, um forte aumento do desemprego - exatamente como há dois anos, no auge da pandemia do Covid-19 - irá certamente forçar uma baixa nos preços do petróleo. O impacto pode não ser sentido imediatamente, e provavelmente nem mesmo esta semana, com a reunião do Fed acontecendo um dia antes da reunião da OPEP+, a aliança global de produtores de petróleo cuja função, mais do que garantir a estabilidade do fornecimento de petróleo ao mundo, consiste em garantir que o barril permaneça acima dos US$ 100.

Taxas de juros mais elevadas são o mecanismo de resposta do Fed para combater a inflação, já que tornam o custo de empréstimos e investimentos mais caro, podendo refrear os gastos tanto das famílias como das empresas. Se as empresas decidirem que já não precisam de tantos funcionários, a alta demanda atual por trabalhadores também poderá diminuir.

O presidente do Fed, Jerome Powell, defende que uma série constante de aumentos dos juros este ano pode derrubar a disparada da inflação. Tanto a economia dos EUA como a inflação avançaram em seu ritmo mais rápido em quatro décadas em 2021, enquanto o crescimento de empregos atingiu recordes históricos. Os dois últimos continuaram a crescer sem pestanejar, enquanto a economia já começa a desacelerar.

O plano do Fed aborda o lado da demanda da economia. O aumento dos juros sozinho não pode aumentar a oferta de trabalhadores, nem dissipar o medo das pessoas de adoecerem devido à Covid. Ele não pode proporcionar creches para os pais que trabalham fora, mudar a política de imigração ou atrair aposentados precoces - cerca de 2,6 milhões de pessoas, segundo algumas estimativas - de volta à força de trabalho.

Os economistas também dizem que o plano do Fed será de execução extremamente difícil, dada a incerteza do mundo pós-pandemia. A invasão da Ucrânia pela Rússia perturbou os mercados globais de energia, com expectativa generalizada de que as famílias americanas irão sentir a picada nas bombas de gasolina. Os recentes lockdowns devido à Covid nos principais centros de produção da China também reenergizaram as preocupações com as cadeias globais de fornecimento, trazendo um sério lembrete sobre a ameaça econômica em curso com a pandemia.

Complicando este objetivo duplo de combater a inflação e recalibrar o mercado de trabalho, o Fed precisa fazer tudo isso sem levar as empresas a demitir funcionários nem disparar uma nova recessão. O Fed tem um histórico irregular em aumentar os juros para esfriar a economia apenas o bastante - muitos economistas apontam somente para 1994, quando o Fed conseguiu elevar as taxas de juros sem fazer com que a economia se contraísse.

Mas a história muitas vezes se desenrolou na direção contrária. Desde 1961, o Fed lançou nove ciclos completos de aumentos de juros a fim de combater a inflação. Recessões ocorreram na sequência de oito dessas tentativas, segundo uma pesquisa do banco de investimento Piper Sandler.

O primeiro trimestre de 2022 já testemunhou uma contração anual de 1,4% no PIB dos EUA. Isso veio após um salto fenomenal de 5,7% em 2021, quando a economia se recuperou da devastação de 2020, que causou uma queda de 3,5% no PIB naquele ano, lançando os EUA na primeira recessão desde 2008/09.

"O que Powell está dizendo é que ‘desta vez vai ser diferente’", disse Roberto Perli, ex-economista do Fed e, atualmente, chefe de política global do Piper Sandler, em comentários publicados pelo Washington Post. "Talvez haverá um ponto em que será diferente. Mas isso é sempre algo perigoso de se dizer".

Há ainda outro problema.

Assim como o Fed está determinado a domar a inflação dos EUA, a OPEP+ está determinada a fazer com que os preços do petróleo nunca assistam às mínimas da época da Covid, em 2020. São estas as dinâmicas que precisamos ter em mente, já que o Fed não será capaz de reduzir a inflação sem fazer com que os preços do petróleo caiam - a espiral dos salários e da procura por trabalhadores sendo apenas parte do problema - e a OPEP+ não vai rolar e se fingir de morta enquanto o banco central e as forças combinadas do governo Biden tentam cortar o mercado de petróleo a machadadas.

Na hora da verdade, a OPEP continuará restringindo a produção de petróleo a fim de garantir que os preços não caiam demais em relação ao nível em que estão. E, com a chegada próxima do verão no hemisfério norte e suas sazonais viagens aéreas, e no caso dos EUA, as viagens rodoviárias, talvez seja difícil manter o petróleo abaixo de US$ 100 por barril, tanto quanto impedi-lo de testar as máximas da invasão da Ucrânia, que alcançaram quase US$ 140.

Há, no entanto, algo maior que até mesmo o Fed e a OPEP+: o consumidor dos EUA, responsável por 70% do PIB do país.

Preços mais baixos continuam a ser prioridade máxima para milhões de americanos que voltaram ao trabalho desde a crise da Covid.

A última pesquisa dos consumidores dos EUA publicada pela Universidade de Michigan, na sexta-feira, mostrou que muitos americanos acham que o Fed terá dificuldades para efetuar um pouso suave da economia a partir das agressivas altas de juros planejadas.

Quando o consumidor temer pelo pior e reduzir ao máximo a despesa discricionária, o crescimento irá simplesmente diminuir e, com isso, quase tudo cairá, incluindo o preço do petróleo.

Só que isso pode não acontecer imediatamente.

Petróleo: Fechamento Semanal e Perspetivas Técnicas do WTI

No pregão de sexta-feira, o Brent, cotado em Londres e referência mundial de preço, fechou em queda de US$ 1,18, ou 1,1%, a US$ 106,08 por barril.

Na semana, o Brent subiu 2,5%. No mês, ele teve aumento de 1,3%. Apesar de ter sido o menor ganho mensal do Brent desde dezembro, ele garantiu uma série ininterrupta de alta ao longo dos últimos cinco meses, o que proporcionou aos longs da referência global de preços do petróleo uma lucratividade de 55%.

Em Nova York, o petróleo WTI, referência de preços nos EUA, fechou em baixa de US$ 1,25, ou 1,19%, a US$ 104,11 por barril.

Mesmo assim, na semana, o WTI teve aumento de quase 2%. No mês, o WTI apresentou alta queda de 4,4%. Assim como o Brent, o WTI registrou alta em todos os meses desde o final de novembro, acumulando um prêmio de 58% nos últimos cinco meses.

Apesar da reunião da OPEP+ de quinta-feira, os preços do petróleo podem exibir uma tendência de baixa nos primeiros três dias da semana, já que o foco dos investidores como um todo repousa sobre o Fed, à espera da decisão do banco central sobre os juros na quarta-feira.

Os gráficos técnicas para o WTI sugerem o mesmo.

"Com indicadores semanais estocásticos e de força relativa posicionados numa faixa lateralizada com neutralidade, as oscilações dramáticas deverão prosseguir", disse Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico-chefe do site skcharting.com.

É muito provável que o WTI volte a testar as áreas de suporte entre US$ 101 e US$ 98 da semana passada, nas quais os compradores podem ressurgir a fim de retomar a dinâmica principal bullish que visa as áreas de resistência e liquidez entre US$ 105 e US$ 108, afirmou Dixit.

"Se esta área de resistência de US$ 105 a US$ 108 atrair compradores suficientes, espere que a dinâmica siga em alta para US$ 109 a US$ 113, e até mesmo se estenda para US$ 116", disse Dixit.

Ouro: Atividade semanal do mercado

A célebre proteção do mundo contra a inflação está mais uma vez enfrentando dificuldades em fazer jus à sua fama, tendo sido usurpado pelo maior rali do seu rival em sete anos.

O ouro encerrou abril com queda de quase 2%, apesar da alta de 1% na sexta-feira, marcando sua segunda perda mensal desde o início de 2022, embora se mantenha acima do nível relativamente bullish de US$ 1.900 por onça.

O declínio do ouro ocorreu quando o arquiinimigo do metal, o dólar, teve o seu maior ganho mensal em 10 anos. O índice do dólar, que contrasta a divisa norte-americana com outras seis principais moedas mundiais, subiu 4,6% em abril, sua maior alta desde janeiro de 2015. Dos 20 pregões de negociação em abril, o índice do dólar só caiu em quatro, numa das mais notáveis sequências de vitórias para o greenback.

O rali desproporcional do dólar teve origem na antecipação do regime de juros mais altos que o Federal Reserve deve adotar ao longo do resto de 2022 — e possivelmente 2023 —, já que o objetivo do banco central é conter a inflação dos EUA, que avança em seu ritmo mais rápido em quatro décadas.

"O rali do dólar tem sido implacável e um verdadeiro fardo sobre o metal dourado - o que leva à pergunta, será que algo vai parar o dólar no curto prazo?", perguntou Craig Erlam, analista na plataforma de negociação online OANDA. "Em caso negativo, o que isso significa para o ouro?"

Enquanto o pregão de sexta-feira concluiu as negociações de abril para os mercados, os futuros do ouro para junho no Comex de Nova York permaneceram em US$ 1.8896,90 - alta de US$ 5,60, ou 0,3%, no dia. No mês, houve uma queda de 1,9%, apesar de ele registrar um ganho de 4,5% no ano.

No dia 18 de abril, o ouro de junho atingiu um nível de US$ 2.003, seu patamar mais alto em seis semanas, com as preocupações de que os Estados Unidos poderiam entrar em recessão devido às ações agressivas do Fed para controlar a inflação. O ouro normalmente atua como uma proteção face a temores econômicos e políticos.

Entretanto, uma sucessão de falas de dirigentes do Fed acalmaram parte das preocupações do mercado de que a economia poderia entrar num processo negativo a partir das tentativas do banco central de limitar as pressões dos preços, que avançam no ritmo mais rápido em 40 anos.

Embora os receios de uma forte desaceleração econômica não tenham desaparecido, o otimismo, especialmente em relação ao excelente mercado de trabalho, conquistou alguns pessimistas. Isso levou o dólar – o principal beneficiário do aumento dos juros – a realizar um rali, causando danos ao ouro e outros portos seguros.

"Têm sido semanas terríveis para o ouro desde que rompeu acima de US$ 2.000 pela primeira vez em mais de um mês", Erlam observou. "O ouro continuará a ter apelo como porto seguro e proteção contra a inflação, por isso não vejo uma continuação das quedas recentes, ainda que o dólar permaneça forte. Dito isto, não há muito argumento a favor de um mercado bullish para o metal dourado se o dólar continuar em escalada".

No pregão de quinta-feira, o índice do dólar atingiu a máxima em 25 meses, a 103,945.

Os rendimentos dos títulos dos EUA, que muitas vezes operam lado a lado com o dólar, também subiram em dois dos últimos três pregões, depois de terem se descolado da moeda norte-americana. O rendimento da nota de 10 anos do Tesouro dos EUA avançou quase 24% em abril – seu segundo mês de sucesso após ganhos de quase 29% em março.

A pressão inflacionária continuou no primeiro trimestre deste ano, com o chamado índice DCP crescendo 6,6% no ano até março, enquanto o PIB caiu 1,4% entre janeiro e março. Se o PIB também se contrair no segundo trimestre, os Estados Unidos entrarão automaticamente em recessão.

A última vez que a economia caiu em recessão — que é definida, em termos técnicos, como dois trimestres consecutivos de crescimento negativo — ocorreu na esteira do surto de Covid-19 de 2020.

"A probabilidade de que os consumidores alcancem um ponto crítico dependerá cada vez mais das perspectivas de um mercado de trabalho forte e de ganhos salariais continuados", afirmou Richard Curtain, economista-chefe da Universidade de Michigan, na pesquisa Umich do Sentimento do Consumidor para o mês de abril, divulgada na sexta-feira.

O mercado de trabalho tem sido o ponto mais brilhante da economia dos EUA nos últimos tempos, com o emprego atingindo recordes históricos após se recuperar das mínimas históricas há apenas dois anos.

O desemprego entre os americanos atingiu um nível recorde de 14,8% em abril de 2020, com a perda de 20 milhões de empregos na sequência do surto do coronavírus. Porém, o emprego foi magnífico ao longo do ano passado, com a taxa de desemprego recuando para 3,6% em março. Uma taxa de desemprego igual ou inferior a 4,0% é definida pelo Federal Reserve como "pleno emprego".

Ouro: Perspectivas técnicas

Dixit, do site skcharting.com, disse que enquanto o ouro se mantiver abaixo de US$ 1.900 nos próximos dias, o preço spot do ouro, que ele usa como seu principal indicador, poderia se movimentar para abaixo de US$ 1.875.

"Uma movimentação sustentada abaixo dos US$ 1.70 pode forçar o ouro spot a cair para a média móvel exponencial de 50 semanas de US$ 1.850 e para a média móvel simples de 100 semanas, de US$ 1.837", disse Dixit. "Se o ouro romper abaixo dos US$ 1.837, é provável que US$ 1.818 se mantenha como suporte".

Mas embora os níveis semanais estocásticos e de RSI sejam bearish, os parâmetros diários supervendidos podem ajudar a reduzir a descendente do ouro ou até mesmo ajudá-lo a alcançar preços mais altos.

"Como a tendência primária ainda é de alta, a compra institucional dos bancos centrais deverá ressurgir como compra de valor no ouro, que deverá retomar a próxima onda de alta", afirmou Dixit. "Na reversão das mínimas, o ouro terá de ultrapassar os US$ 1.900 - US$ 1.935 como o primeiro obstáculo, seguido de US$ 1.960 e US$ 2.000".

Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan não detém posições nas commodities e valores mobiliários sobre as quais escreve.

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