Por Barani Krishnan
Investing.com -- Vão ou não vão? A próxima decisão europeia contra o petróleo e o gás russo - uma possível proibição - é como uma Espada de Dâmocles pairando sobre o bloco e os mercados de energia: condenado (economicamente) se decidido e condenado (politicamente) se não decidido.
A gravidade da situação se refletiu na recuperação de quase 9% do petróleo no final da semana, vindo de uma queda de 13% nas duas semanas anteriores, conforme o a tentativa de precificação do prejuízo que a União Europeia estaria infligindo a si mesma pelo embargo.
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Desde que a invasão russa da Ucrânia começou há seis semanas, o petróleo experimentou as piores oscilações da história. A volatilidade se deve em grande parte a um fator - se os 27 países da UE assumirão ser impensável os cortes de importações de uma fonte responsável por 25% do seu petróleo e 40% do seu gás, especialmente quando tal decisão está tão relacionada com o que o Ocidente considera como política e moralmente correto.
A partir de sexta-feira, o dilema só piorou.
Segundo as notícias, as autoridades da UE estariam elaborando uma proibição gradual à importação de produtos petrolíferos russos, mas a medida só será aprovada após o segundo turno das eleições francesas.
Foi uma manifestação da incerteza em que os líderes do bloco se encontram. Por um lado, procura-se cumprir com o compromisso de que suas importações e capital não ajudarão a Rússia a financiar o massacre amplamente documentado de ucranianos, como em Bucha. Por outro, há interesse em garantir que um aliado crucial como o presidente francês Emmanuel Macron não seja punido nas pesquisas pela insatisfação popular contra a alta dos preços de alimentos e combustíveis, a cada dia maiores pelo conflito.
“A comissão e os membros da UE evitaram de forma inteligente a definição de limites que desencadeariam respostas às sanções desde que a Rússia atacou a Ucrânia”, afirmou Emre Peker, diretor da consultoria do Eurasia Group, citado pelo The New York Times.
"Espero que a UE evite definir estímulos", acrescentou, "já que a escalada contínua no leste da Ucrânia e as revelações de Bucha e de outros lugares continuam a conduzir o ímpeto por trás de uma postura mais dura da Europa. Quaisquer outras catástrofes de grandes proporções vão dar mais força às respostas da UE."
Desde 24 de fevereiro, a UE lançou cinco pacotes de sanções financeiras cada vez mais severas contra a Rússia. Mas manteve as sanções ao gás fora da mesa, já que é um ponto crítico, em particular, para a Alemanha.
A Alemanha também importa 34% de seu petróleo da Rússia. O desafio fundamental consistirá não só em encontrar fornecedores alternativos para compensar essa situação, mas também em gerenciar transporte terrestre adequado às suas duas refinarias alimentadas por gasodutos provenientes da Rússia, em particular a refinaria da cidade oriental de Schwedt, na fronteira com a Polónia.
O embaixador da Alemanha nos Estados Unidos deixou claro em um tweet o que está em jogo para o país. "O corte abrupto dos combustíveis fósseis da Rússia causaria um transtorno maciço e instantâneo", afirmou Emily Haber. “Você não pode ligar e desligar instalações industriais modernas como um interruptor de luz. Os efeitos colaterais seriam sentidos além da Alemanha, motor económico da UE e a quarta maior economia do mundo."
Mas não só a Europa está sentindo. A Rússia também está, admite Putin, mesmo com a redistribuição da produção para a África, Ásia Oriental e América do Sul.
“O problema mais urgente aqui é o ruptura na logística de exportação”, afirmou o presidente russo, referindo-se ao rearranjo de décadas de práticas e relacionamentos comerciais estabelecidos.
Isso se soma ao desconforto de exportações de energia russas já entregues à Europa, porém não pagas, disse Putin. “Bancos de países hostis estão com a transferência de fundos atrasada”, acrescentou.
Por enquanto, a elaboração das novas medidas europeias está sendo feita por um pequeno número de especialistas da Comissão Europeia, braço executivo do bloco, liderado pelo chefe de gabinete da Presidente Ursula von der Leyen, Björn Seibert.
Enquanto uma cúpula da UE sobre a Ucrânia está prevista para o final de maio, autoridades disseram que outra ofensiva russa na escala de Bucha poderia antecipar a abordagem de embargo do petróleo.
Então, o que antes parecia ser um passo impossível para a Europa parece mais provável agora - com impactos para ambos os lados, é claro.
Petróleo: Acordos Semanais e Perspectiva Técnica para o WTI
Antes do feriado da Sexta-feira Santa, o Brent, referência mundial do petróleo, recuou ligeiramente nas negociações de quinta-feira, a US$ 111,23 o barril. Na semana, o Brent acumulou alta de 8,7%, após duas perdas semanais consecutivas somadas em 13%.
O referencial nova-iorquino, West Texas Intermediate, ou WTI, fechou as negociações de quinta-feira com alta de US$ 2,26, ou 2,1%, a US$ 106,51. Na semana, o WTI subiu 8,8%, após queda de 13% nas duas semanas anteriores.
O benchmark dos EUA poderia estender ganhos para US$ 119 na semana seguinte se o impulso for ininterrupto, afirmou Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico-chefe da skcharting.com.
“O WTI ganhou US$ 14 em relação ao valor anterior de US$ 92,90”, observou Dixit, acrescentando que a alta foi estabelecida por um RSI, ou Índice de Força Relativa, em 62 e RSI estocástico em 55/48.
"Caminhando para a semana seguinte, os preços provavelmente permanecerão firmes, desde que o nível de 38,2% da Fibonacci de US$ 104,50 permaneça intacto como suporte, e o rali se oriente a atingir US$ 110-US$ 112, que podem ser estendidos para US$ 114-US$ 116 ou até US$ 119", disse Dixit.
Por outro lado, um movimento abaixo dos US$ 105 pode significar problemas para os EUA.
"Se o US$ 104,50 não for superado, um recuo adicional de 50% do nível Fibonacci de US$ 96,50 pode ser rápido", advertiu Dixit.
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Ouro: Atividade Semanal do Mercado
O ouro recuou na quinta-feira, mas fechou com um segundo ganho semanal consecutivo, conforme a crise na Ucrânia e o aumento das pressões inflacionárias reforçou o apelo ao metal entre os adeptos dos portos seguros.
Em linha com a alta do ouro, Wall Street também caiu pela segunda semana consecutiva em preocupações de que a agressividade do Federal Reserve poderia levar a economia dos EUA à recessão na tentativa de combater a inflação.
Junho, mês de vencimento dos contratos futuros do ouro na Comex de Nova York, recuou nas negociações de quinta-feira em US$ 12,20, ou 0,6%, a US$ 1.972,50 por onça. Na semana, porém, subiu 1,7%, somando-se o ganho de 1,2% da semana anterior.
“O prêmio de risco político com a escalada da guerra na Ucrânia está crescendo novamente, o que em geral eleva todos os preços das commodities e está realmente criando esse ambiente de inflação”, afirmou Stephen Innes, sócio-gerente da SPI Asset Management, em comunicado na Reuters.
"Por outro lado, não se sabe se isso é apenas um fenômeno de curto prazo, ou se os mercados estão restringindo um pouco os riscos pelo que Lael Brainard do Fed afirmou ser menos hawkish", acrescentou Innes.
O dirigente do Fed e a futura vice-presidente Lael Brainard afirmaram na terça-feira que o banco central não hesitou em usar aumentos pesados de juros para controlar a inflação.
Além do tom duro, a ata da reunião do FOMC de março, divulgada na quarta-feira, anunciou que a maioria dos membros do comitê concordava em ter “um ou dois” aumentos de 50 pontos base nas próximas reuniões.
Depois disso, o dirigente mais linha-dura do Fed, James Bullard, afirmou que as taxas devem quebrar a meta típica do banco central e chegar a 3,5% no final deste ano, a fim de suprimir a inflação que cresce no dobro desse ritmo.
“Eu gostaria de ver a taxa de juros dos fundos federais subir para 3,5% no segundo semestre de 2022”, disse Bullard, presidente do Fed de St. Louis, em comentários feitos na quinta-feira.
Depois de quase zerar as taxas no auge da pandemia, o Comitê Federal de Mercado Aberto, ou FOMC, aprovou o primeiro aumento da taxa na pandemia em 16 de março, aumentando-as em 25 pontos base, ou um quarto de ponto.
Vários membros do FOMC concluíram desde então que a alta foi demasiado suave para controlar a inflação, que caminha para máximas de 40 anos, e que aumentos mais agressivos de 50 pontos base podem ser necessários no futuro. O banco central considera até sete ajustes da taxa de juros para o ano.
Bullard afirmou que o Fed estava defasado no combate à inflação e precisa aumentar as taxas em mais 3 pontos percentuais antes do final do ano. O ritmo sugerido por ele pressupõe que o Fed deveria nortear-se por 50 pontos base, ou aumentos de meio ponto, em cada uma das seis reuniões restantes do ano. A meta típica do Fed para a inflação é de apenas 2% ao ano.
Depois de retrair 3,5% em 2020 por causa da pandemia, a economia dos EUA expandiu 5,7% em 2021, maior ritmo de crescimento desde 1982.
Mas a inflação cresceu a um ritmo ainda mais rápido. O Índice de Preços para Despesas com Consumo Pessoal, indicador de inflação norte-americano seguido de perto pelo Fed, expandiu 5,8% no ano até dezembro e 6,4% nos 12 meses até fevereiro, ambos também no auge em quatro décadas.
As autoridades do FOMC prometeram trazer a inflação de volta à meta do Fed de 2% ao ano, entre o final de 2022 e o final de 2023.
CONFIRA: Monitor da taxa de juros do Federal Reserve
Ouro: Perspectiva Técnica
Dixit, do skcharting.com, que rastreia o preço à vista do ouro, anunciou que a próxima semana pode trazer um ponto de inflexão para o ouro.
"O RSI e o RSI estocástico sustentam o atual impulso ascendente, que precisa de apostas decisivas acima dos US$ 1.980 para o próximo nível de US$ 2.001 e US$ 2.015", afirmou ele.
Mas o fraco fechamento de quinta-feira pode trazer algumas reações também, advertiu ele.
"Quando o mercado reabrir na segunda-feira para Ásia e Europa, pode haver um movimento descendente para testar novamente os US$ 1.959, que pode desencadear uma correção de curto prazo para US$ 1.932", disse Dixit.
O fracasso em sustentar acima de US$ 1.932 poderia trazer maior desvalorização para o ouro, rumo aos US$ 1.890, especialmente em um cenário de aumento dos rendimentos dos títulos dos EUA, afirma.
"Os investidores precisam estar atentos às altas dos rendimentos de 10 anos e 30 anos, que se direcionam a máximas plurianuais em relação a preocupações com recessão", complementa Dixit. "Esses rendimentos são como facas de dois gumes, que podem ser benéficas ou não para o ouro, já que estimulam mais hedge de inflação até que o dólar comece a subir desencadeando vendas."
Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan não assume posições nas commodities e títulos sobre os quais ele escreve.