Por Lisandra Paraguassu e Philip Blenkinsop e Lucinda Elliott
MONTEVIDÉU/BRUXELAS (Reuters) - A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, chegou ao Uruguai nesta quinta-feira com o objetivo de finalizar um acordo comercial há muito aguardado entre a União Europeia e o Mercosul, apesar de a França ter reiterado sua oposição.
Von der Leyen desembarcou em Montevidéu poucas horas depois do colapso do governo do premiê francês, Michel Barnier, após um voto de desconfiança no Parlamento sobre os esforços para controlar o déficit orçamentário, deixando o presidente Emmanuel Macron lutando para nomear um novo primeiro-ministro para a França.
O acordo UE-Mercosul, que levou 20 anos para ser elaborado e causou profunda divisão na Europa, onde agricultores e a França têm sido as vozes mais altas na oposição, criaria uma das maiores parcerias comerciais do mundo e turbinaria o fluxo de carne bovina e grãos.
"A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está no horizonte. Vamos trabalhar, vamos cruzá-la. A maior parceria de comércio e investimento que o mundo já viu. Ambas as regiões serão beneficiadas", disse von der Leyen em uma publicação no X.
Também em publicação no X, o vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, deu as boas-vindas a Von der Leyen à região e afirmou que "Mercosul e União Europeia nunca estiveram tão próximos".
"A integração dos nossos mercados e a reafirmação dos nossos compromissos democráticos nos fará chegar mais longe juntos!", escreveu.
O Mercosul, que inclui as potências agrícolas Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, está reunido para uma cúpula em Montevidéu nesta semana, com os negociadores esperando que o acordo comercial seja anunciado, apesar de vários alertas falsos no passado, incluindo um acordo assinado em 2019 que não foi ratificado pelas nações da Europa.
Quatro fontes sul-americanas e europeias envolvidas nas negociações disseram que o acordo foi fechado e seria anunciado na sexta-feira pelos líderes do Mercosul e von der Leyen, agora que ambos os lados acertaram os detalhes finais sobre questões ambientais e compras governamentais.
"Um texto comum do acordo foi alcançado", disse o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Omar Paganini, a repórteres nesta quinta-feira durante a reunião do Mercosul em Montevidéu. "A presença de von der Leyen mostra o sucesso das negociações."
Von der Leyen, que está no início de seu segundo mandato à frente da Comissão Europeia, enfrenta oposição ao acordo dentro do bloco europeu.
Agricultores europeus têm protestado repetidamente contra o acordo, alegando que ele levará a importações baratas de commodities sul-americanas, principalmente carne bovina, que não estaria sujeita aos mesmos padrões de segurança alimentar e ecológica da UE.
A França tem sido a crítica mais veemente do acordo proposto.
Embora distraído por uma crise política após o colapso do governo do primeiro-ministro Michel Barnier, o gabinete do presidente Emmanuel Macron emitiu uma declaração nesta quinta-feira dizendo que o acordo é "inaceitável".
No entanto, outros membros da UE, como a Alemanha, insistem que o acordo é vital para o bloco, que busca diversificar seu comércio após o quase fechamento do mercado russo e o desconforto com sua dependência da China.
"Se chegarmos a um acordo entre a UE e o Mercosul, será uma ótima notícia para a União", disse o ministro da Agricultura da Espanha, Luis Planas, em um evento em Bruxelas, acrescentando que seria bom para as exportações e mostraria que a Europa "não está fechada atrás de nossas portas".
"No contexto atual não podemos ficar na defensiva", acrescentou.
Os defensores do acordo também veem o Mercosul como uma fonte potencialmente confiável de minerais essenciais, como o lítio, necessários para sua transição energética.
Os países da UE como um todo e o Parlamento Europeu teriam que aprovar qualquer acordo comercial finalizado.
Os negociadores sul-americanos continuam otimistas de que a UE acabará dando sua aprovação e que a França não conseguirá reunir uma minoria para bloquear o acordo.
"A UE teve um mandato para negociá-lo nos últimos 20 anos. A ratificação é outro processo; mais tarde, eles mesmos terão que trabalhar nisso", disse uma das fontes.
(Reportagem de Philip Blenkinsop, em Bruxelas, Lissandra Paraguassu e Lucinda Elliott, em Montevidéu; reportagem adicional de Aislinn Laing, Inti Landauro, Bart Meijer e Sudip Kar-Gupta)