Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A safra brasileira de café 2021/22, a ser colhida no ano que vem, deverá atingir 60,7 milhões de sacas de 60 kg, queda de 10% ante as 67,5 milhões de sacas do ciclo anterior, apontou nesta quarta-feira o Rabobank, indicando um recuo menos acentuado para a próxima colheita do que o sinalizado por produtores e outras instituições.
O banco de investimentos Itaú BBA, por exemplo, trabalha com cenários que apontam uma quebra de 14% e 21% na próxima colheita do país, em função de chuvas inferiores à média e do ano de baixa no ciclo bienal de produção do grão arábica.
Já a associação de produtores Sincal vê a possibilidade de a produção de arábica do Brasil não atingir nem mesmo 20 milhões de sacas, enquanto o Rabobank vê a safra dessa variedade no ano que vem em 40,5 milhões de sacas, o que ainda assim seria uma queda de 17,3% ante 2020/21.
"Sempre somos mais conservadores antes de fazer reduções drásticas. Ano passado estivemos na mesma situação quando falamos que iria colher mais de 67 milhões de sacas", disse à Reuters o analista de café Guilherme Morya, do Rabobank, lembrando que poucos acreditaram naquela projeção no início.
"Depois, ao longo do ano, todas as instituições apontaram uma safra gigante, e só a Conab foi mais comedida. Acho que dessa vez não é muito diferente quando a gente comenta sobre um número mais conservador", afirmou, ao ser confrontado com afirmações de produtores, de que a seca em 2020 teria sido a pior já vivenciada pela cafeicultura, o que já levou o setor a pedir mais recursos para o governo.
Segundo Morya, realmente houve uma seca, que "impactou um pouco mais algumas regiões do Sul de Minas (a principal produtora do país) e a Alta Mogiana", mas outras áreas tendem a compensar parcialmente os efeitos do clima e da bienalidade negativa esperada para o arábica em 2021.
"Tem um mosaico de situações no Sul de Minas... no Cerrado Mineiro, a situação é boa. Se fosse destacar de todas a regiões do Brasil, ele apresenta melhor condição de produzir", disse o especialista, referindo-se a uma área que produziu menos do que o potencial em 2020 e que, portanto, poderia ter amenizada a queda da bienalidade, que alterna anos de alta e baixa produtividade.
"E as Matas de Minas estão razoáveis. Acho que o Sul de Minas e Alta Mogiana é que causam preocupação maior. Aí chegamos em uma queda de 17% para a colheita do café arábica", disse.
Ele admitiu, porém, um viés de baixa na estimativa de arábica, quando ficarem mais claros os efeitos da seca, embora no caso do café robusta a situação seja a inversa, de uma alta na previsão.
"Quem está puxando é o conilon (robusta), e no conilon o que temos escutado são notícias positivas... tem potencial para repetir o excelente ano de 2018", disse ele, lembrando que não faltou água para irrigação.
A safra brasileira dessa variedade foi projetada em 20,2 milhões de sacas em 2021, ante 18,5 milhões no ano anterior.
O analista citou também o impacto negativo das podas em muitas áreas de arábica, realizadas por muitos produtores que viram menor potencial pela seca em 2021 e que estão preparando a lavoura para produzir mais em 2022.
EXPORTAÇÕES MENORES
Enquanto o Brasil caminha para fechar o ano com exportações totais de café (incluindo industrializado) em recorde acima de 44 milhões de toneladas, refletindo o tamanho da safra de 2020, é possível que no ano que vem os embarques do maior exportador global fiquem em torno de 35 milhões de sacas, disse o analista.
"Pensando para o ano que vem, começa confortavél (o estoque), o que pode favorecer as exportações no primeiro semestre. No entanto, a partir do segundo semestre a retração na produção vai começar a aparecer nas exportações, aí começamos a ver o inverso deste ano, por conta do ciclo menor", comentou.
"Dado este cenário, não acreditamos que o patamar de 40 milhões de sacas possa se repetir, pode ser parecido com 2018, pode ser algo em torno de 35 milhões de sacas", acrescentou.