Tarifa de 50% sobre café brasileiro imposta por Trump deve alterar comércio e beneficiar China

Publicado 01.08.2025, 13:22
Atualizado 01.08.2025, 13:25
© Reuters. Cafezal próximo a Brasília. REUTERS/Adriano Machado/File Photo

Por Marcelo Teixeira

NOVA YORK (Reuters) - A tarifa de importação do governo Donald Trump sobre o café brasileiro parece destinada a remodelar as rotas comerciais dos grãos do maior produtor e exportador do mundo, beneficiando a China e incentivando os comerciantes a buscar rotas indiretas para os EUA.

Com cerca de 25 milhões de sacas por ano, os EUA são o maior consumidor de café do mundo. Um terço desse volume vem do Brasil, por meio de um comércio bilateral no valor de US$4,4 bilhões nos 12 meses encerrados em junho.

"O fluxo do comércio global de café será remodelado. A dor será sentida de São Paulo a Seattle -- da origem ao torrefador, às cadeias de cafeterias, mercearias e consumidores", disse Michael J. Nugent, corretor sênior de café dos EUA e proprietário da MJ Nugent & Co.

O possível redirecionamento do enorme volume que o Brasil normalmente envia para os EUA, semelhante à produção total da Etiópia, produtor de café de alta qualidade, poderia beneficiar um grande rival de Trump: a China.

Mais grãos brasileiros podem ser destinados à China por causa dos laços comerciais entre as duas nações, ambas membros do grupo Brics, e depois que o primeiro governo Trump gerou interrupções no comércio, disse Marc Schonland, consultor independente do setor cafeeiro dos EUA.

O consumo de café está aumentando na China, à medida que os jovens profissionais abandonam o chá e buscam a cafeína. O Brasil é seu principal fornecedor, exportando 538.000 sacas para a China no primeiro semestre de 2025, segundo dados da associação de exportadores Cecafé.

O consumo de café cresceu cerca de 20% ao ano nos últimos dez anos na China e o consumo de café per capita dobrou nos últimos cinco anos, de acordo com dados do setor.

Mais grãos verdes brasileiros também poderiam ir para a União Europeia, onde não há tarifas, disse Logan Allender, diretor de café da torrefadora e distribuidora americana Atlas Coffee Club.

Especialistas em comércio veem a possibilidade de os exportadores tentarem driblar as tarifas exportando o café brasileiro para outros países e, de lá, para os EUA.

"Isso aumentará um pouco os custos de logística, mas reduzirá o efeito (tarifário) para um máximo de 10% a 15%", disse Debajyoti Bhattacharyya, vice-presidente comercial da empresa de commodities agrícolas AFEX Ltd.

"Sem uma cadeia de suprimentos forte e rastreável, as tarifas não fazem sentido. Quero dizer, não podemos impedir o fluxo de petróleo, por que o café poderia?", disse ele.

A analista de soft commodities e consultora independente Judith Ganes disse que o fato de os EUA terem deixado o café de fora de uma extensa lista de isenção de produtos brasileiros sugere que Trump está usando o produto como moeda de troca em sua disputa política com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Trump disse que a Suprema Corte do Brasil está tratando seu aliado, o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, de forma injusta. Os EUA sancionaram o ministro do STF Alexandre de Moraes na quarta-feira.

Os comerciantes disseram que o café carregado no Brasil até 6 de agosto pode entrar nos EUA sem pagar a tarifa até 6 de outubro.

William Kapos, CEO da Downeast Coffee Roasters, uma grande processadora de café na Costa Leste dos EUA, disse que está correndo para enviar o café brasileiro que já comprou da América do Sul antes do prazo final na próxima semana.

No futuro, Kapos disse que procurará comprar café da América Central e da África para substituir os grãos brasileiros.

"Mas todo mundo fará isso, portanto, em termos de preço, os compradores dos EUA serão pressionados", disse ele.

(Reportagem de Marcelo Teixeira)

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