Por David Lawder e Leigh Thomas
VENEZA, Itália (Reuters) - O surgimento de novas variantes do coronavírus aliado ao baixo acesso a vacinas em países em desenvolvimento ameaçam a recuperação econômica global, alertaram os ministros das Finanças do G20 reunidos neste sábado em Veneza, na Itália, onde também endossaram uma medida histórica para impedir que multinacionais movimentem seus lucros para paraísos fiscais.
O endosso dado abre caminho para que os líderes do G20 finalizem um acordo global sobre uma alíquota mínima de imposto corporativo de 15% em reunião marcada para outubro, em Roma, em uma medida que pode trazer centenas de bilhões de dólares para os cofres dos países, abalados pela pandemia de Covid-19.
O comunicado final da reunião afirma que a perspectiva econômica global melhorou desde as conversas realizadas pelo G20 em abril graças à vacinação contra a Covid-19, ao mesmo tempo que reconheceu que a fragilidade da retomada face ao surgimento de novas variantes do coronavírus, como a altamente contagiosa Delta.
"No entanto, a recuperação é caracterizada por grandes divergências entre e dentro dos países e continua exposta a riscos, especialmente à disseminação de novas variantes da Covid-19 e ritmos diferentes de vacinação", afirma o documento.
Embora tenha enfatizado o apoio ao "compartilhamento global equânime" das vacinas, o documento não propõe medidas concretas, fazendo uma mera recomendação de 50 bilhões de dólares em novo financiamento para imunizantes por parte do Fundo Monetáro Internacional (FMI), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A Itália afirmou que o G20 retornará ao tema do financiamento de vacinas para países pobres antes do encontro de outubro em Roma.
Uma contagem da Reuters de novas infecções por Covid-19 mostra um crescimento em 69 países e uma taxa diária em ascensão desde junho e que agora está em 478.000.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que o mundo estava passando por "recuperação pior em duas vias", parcialmente motivada pelas diferenças na disponibilidade de vacinas.
A maior iniciativa política do encontro em Veneza foi o acordo sobre um imposto corporativo global.
O pacto estabelece uma alíquota corporativa global mínima de pelo menos 15% para evitar que multinacionais cacem taxas de impostos mais baixas. Também mudaria a maneira como multinacionais lucrativas como Amazon (NASDAQ:AMZN) e Google (NASDAQ:GOOGL) são taxadas, parcialmente baseada em onde vendem seus produtos e serviços, não apenas na localização de suas sedes.
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse que alguns países menores que foram contra, como Irlanda e Hungria, que praticam impostos mais baixos, seriam incentivados a se juntarem ao pacto até outubro.
"Tentaremos fazer isso, mas tenho que enfatizar que não é essencial que todos os países estejam a bordo", disse.
"Este acordo contém o tipo de mecanismo de aplicação que pode ser usado para assegurar que países que se opõem não sejam capazes de atrapalhar --de usar paraísos fiscais para atrapalhar a operação deste acordo global."
Os membros do G20 representam mais de 80% do produto doméstico bruto do mundo, 75% do comércio global e 60% da população do planeta, incluindo pesos pesados como Estados Unidos, Japão, Reino Unido, França, Alemanha e Índia.
Além dos resistentes da União Europeia, como Irlanda, Estônia e Hungria, outros países que ainda não concordaram incluem Quênia, Nigéria, Siri Lanka, Barbados e São Vicente e Granadinas.
(Reportagem adicional de Gavin Jones, Christian Kraemer e Francesco Guarascio)