Por Geoffrey Smith
Investing.com – Os tokens da corretora de criptos FTX permaneciam sob forte pressão nesta quarta-feira, após indicações de que o acordo de resgate proposto para a exchange estaria longe de acontecer.
“É uma situação extremamente dinâmica, e estamos avaliando a situação em tempo real", declarou o CEO da Binance, Changpeng Zhao, em um tuíte logo após anunciar sua intenção de comprar os ativos da FTX fora dos EUA, evitando o que parecia ser um colapso iminente da segunda maior corretora de criptos do mundo.
Zhao alertou que a Binance “reserva-se o direito de se retirar do acordo a qualquer momento", acrescentando que “nossa expectativa é que o FTT fique extremamente volátil nos próximos dias, à medida que os eventos se desdobram”.
O FTT, token nativo da rede da FTX, sofreu uma desvalorização de quase 80% em resposta ao alerta de Zhao, na terça-feira, jogando um balde de água fria em quem esperava por uma resolução rápida e indolor para a base de mais de um milhão de clientes da FTX fora dos EUA. Às 09h31, o FTT era negociado a US$ 4,6514, uma queda de 72,27% nas últimas 24 horas.
A Bernstein alertou que o processo de diligência prometido por Zhao é multifacetado e poderia levar bastante tempo para ser concluído, sendo que a tarefa mais premente seria estabelecer se os recursos financeiros dos clientes haviam desaparecido e, em caso positivo, determinar se isso se devia a uma má conduta dos executivos da companhia.
“É um processo complexo e levará tempo para a Binance analisá-lo”, escreveu a Bernstein.
Os analistas da Cowen também alertaram que as autoridades dos EUA poderiam tentar bloquear o acordo por conta de questões de segurança nacional, ainda que não envolvam operações da FTX no país. A Binance tem um histórico de problemas com órgãos reguladores ao redor do mundo e enfrentou novos questionamentos nesta semana, depois que dados da Chainalysis mostraram que a corretora havia processado mais de US$ 8 bilhões em transações com o Irã desde 2018, permitindo que a República Islâmica se desviasse das sanções dos EUA.
O FTT chegou a alcançar US$ 25 na semana passada, quando um relatório da Coindesk sugeriu que o preço havia sido artificialmente alavancado pela Alameda Research, uma casa de investimento afiliada à FTX.
O balanço da Alameda também detalhou uma grande posição de FTT como garantia, levantando dúvidas sobre se a FTX havia emitido tokens para arrecadar fundos a serem destinados aos seus compromissos de crescimento. Embora a FTX tenha feito captações no início deste ano, tudo leva a crer que a empresa esgotou seus recursos investindo pesado em ativos problemáticos por ocasião do colapso da rede Terra/Luna, como Voyager Digital e BlockFi.
Muito provavelmente a desvalorização da FTT será tóxica para a Alameda, já que mais de um terço do seu patrimônio de US$ 14,6 bilhões estavam alocados na cripto no fim de junho. A Alameda insiste que o balanço publicado pela Coindesk estava incompleto e que não refletia sua real condição financeira.
Os infortúnios do FTT também pesaram bastante sobre os criptoativos nas últimas 24 horas, com a Solana recuando 42%, devido a preocupações de que a Alameda terá que liquidar sua grande posição na moeda para estancar a sangria no seu balanço gerada pelas perdas no FTT.
Até mesmo criptos mais populares registravam perdas, já que o colapso da corretora, que era considerada forte e estável, representa mais um duro golpe na credibilidade da indústria, fazendo com que os investidores busquem a segurança das moedas fiduciárias. O Bitcoin recuava 11%, negociado na mínima de dois anos de US$ 17.380, enquanto o Ethereum perdia 22%, a US$ 1.168.