Ação da Embraer sobe forte com pedido firme feito pela Latam
Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central decidiu nesta quarta-feira manter a taxa Selic em 15% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, e destacou que o ambiente incerto demanda cautela e que seguirá avaliando se manter os juros nesse patamar por período bastante prolongado será suficiente para levar a inflação à meta.
Em comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) que trouxe poucas alterações em relação ao documento da reunião de julho, foi retirada a afirmação de que o BC “antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros” para examinar o ajuste já feito e então avaliar se a Selic em 15% por período bastante longo faria a inflação alcançar o alvo de 3%.
Na nova versão, o BC afirma apenas que “seguirá vigilante, avaliando se a manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”.
A autarquia acrescentou que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.
Na avaliação de Leonardo Costa, economista do ASA, a alteração do trecho leva a uma “linguagem mais clara de manutenção do juro em patamar elevado por tempo prolongado”.
A Capital Economics, por sua vez, viu a mudança como uma atenuação da postura agressiva da reunião de julho, avaliando que o BC poderá cortar juros nos próximos meses com a inflação provavelmente continuando a ceder e a economia em dificuldades.
A decisão desta quarta veio em linha com a expectativa de mercado captada em pesquisa da Reuters, na qual todos os 41 economistas entrevistados de 8 a 12 de setembro projetavam que o BC manteria a Selic em 15% neste mês.
CAUTELA REFORÇADA
No documento, o Copom informou que segue acompanhando o tema das tarifas dos Estados Unidos e como os desenvolvimentos da política fiscal no Brasil impactam a política monetária, passando a dizer que esse cenário reforça "a postura de cautela em cenário de maior incerteza".
Nesta quarta, o BC melhorou sua projeção de inflação para este ano em relação a julho, de 4,9% para 4,8%, considerando o cenário de referência, que segue projeções de mercado para os juros.
Para o fechamento de 2026, a projeção foi mantida em 3,6%. Em relação ao primeiro trimestre de 2027, atual horizonte relevante da política monetária, a expectativa também permaneceu inalterada, ficando em 3,4%.
Para fazer as projeções do cenário de referência divulgadas nesta quarta, o Copom considerou uma taxa de câmbio que parte de R$5,40, abaixo dos R$5,55 usados na reunião de julho.
O BC destacou que a atividade econômica tem apresentado certa moderação, como esperado, mas com um mercado de trabalho ainda dinâmico, enquanto as medidas de inflação seguem acima da meta.
As expectativas de mercado para os preços continuam desancoradas, apesar de gradual melhora recente. A previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus caiu de 5,09% antes do encontro do Copom em julho para 4,83% nesta semana. Para 2026, as expectativas baixaram de 4,44% para 4,30%, enquanto o dado de 2027 foi de 4,00% para 3,90%.
O centro da meta contínua para a inflação é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Para o economista-chefe da XP, Caio Megale, o BC deu dois sinais “um pouco mais duros” que o esperado nesta quarta. O primeiro deles foi a manutenção da afirmação de que pode voltar a subir os juros se necessário. O segundo ponto foi a manutenção da projeção de inflação para 2027, sem aproximação maior da meta.
“É um sinal claro do BC de que as projeções sugerem inflação significativamente acima da meta e, portanto, um desafio importante de política monetária adiante. Reforça que muito dificilmente vamos ter cortes de juros no curto prazo”, afirmou.
Após sete elevações consecutivas que levaram a Selic ao patamar mais alto em 20 anos, o BC interrompeu o ciclo de alta em julho, decidindo nesta semana pela segunda manutenção consecutiva da taxa em 15%.
Em comunicações oficiais e falas públicas de diretores, o Copom vem defendendo a manutenção da Selic em 15% por período bastante prolongado. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, enfatizou em agosto que a "continuidade da interrupção" no ciclo de alta de juros, expressão agora retirada do comunicado, permitiria à autarquia observar a economia e avaliar se o patamar Selic seria restritivo o suficiente para levar a inflação à meta.
No comunicado desta quarta, o BC não fez alterações no seu balanço de riscos para os preços à frente, reafirmando que os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual.
Mais cedo nesta quarta-feira, o Federal Reserve cortou a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual e indicou que reduzirá constantemente os custos dos empréstimos até o final deste ano.
(Por Bernardo Caram, edição de Pedro Fonseca e Isabel Versiani)