SÃO PAULO (Reuters) - O Banco Central teria de subir a Selic para 6,50% ainda neste ano para garantir o cumprimento da meta de inflação em 2022, disse Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas, que calcula inflação fora da meta tanto neste ano quanto no próximo e vê o câmbio ainda pressionado no curto prazo.
"O BC vai ter de ponderar. Será que faz sentido você subir os juros de repente para 7%, 8% para garantir a inflação em 3,5% ou pelo menos aumentar a chance de chegar a esse 3,5% com um custo econômico muito grande?", disse Arruda.
O BNP estima uma pausa nas altas de juros mais para o fim do ano e retomada do processo de normalização monetária no primeiro semestre de 2022.
"Difícil determinar a direção por agora, mas acho que o risco é o BC não conseguir parar (de subir os juros)", disse. "Quando a gente fala de uma política monetária com uma inflação que segue surpreendendo é o risco de não poder parar. (...) Mas esse é um debate que vai ser definido mais para o segundo semestre (de 2021)", afirmou o executivo.
Arruda vê Selic de 5% em 2021 e de 6,5% em 2022, com inflação de 5% neste ano (com viés de alta) e de 4% no próximo. A meta de inflação é de 3,75% para este ano e de 3,50% para 2022.
A Selic está em 2,75%. O mercado estima que o juro será elevado para 5% em 2021, ano em que a inflação ficará em 4,81%, conforme a mais recente pesquisa Focus do BC. Ainda de acordo com a sondagem, a Selic irá para 6% em 2022, quando o IPCA será de 3,51%.
Arruda diz que não se deve contar que uma eventual e improvável valorização cambial no curto prazo ajude a amenizar a inflação. O dólar, aliás, seguirá pressionado pelos ruídos fiscais, em meio a pressões por mais gastos e à aproximação do período pré-eleitoral.
"O fundamento do real é para apreciação, mas estamos pouco otimistas de que isso deve acontecer no curto prazo", afirmou, vendo o câmbio "esticado" (dólar excessivamente valorizado). "As notícias de pressão e flexibilização fiscal vão continuar aparecendo. Por isso não vemos a convergência do câmbio."
Com juros, inflação e dólar altos, a economia vai crescer 2,5% em 2021, prevê o BNP, mostrando-se mais conservador que a média do mercado, que prevê expansão de 3,18%.
(Por José de Castro)