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Copom acelera ritmo de aperto monetário, sobe taxa Selic de 6,25% para 7,75%

Publicado 27.10.2021, 18:09
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Por Leandro Manzoni

Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) encerrou o mistério quanto aos próximos passos da política monetária após reunião de dois dias, a mais esperada dos últimos anos. O colegiado subiu a taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual, de 6,25% para 7,75% ao ano. Foi a sexta alta seguida da taxa Selic, a mais forte desde 2002 e deste ciclo de aperto monetário, que se iniciou em março quando a taxa de juros estava no patamar mínimo histórico de 2%.

A decisão foi unânime. A próxima reunião do Copom, a última de 2021, ocorre nos dias 7 e 8 de dezembro, quando deve elevar novamente a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, desde que mantido o atual cenário-base do comitê. De acordo com o comunicado:

Esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, avalia que o " ritmo [de alta da taxa Selic] é suficiente para promover a convergência da inflação para meta no horizonte relevante para política monetária". Sanchez prevê mais 5 elevações do atual ciclo: 3 de 150 pontos-base, 1 de 100 pontos-base e a última de 0,25 ponto-percentual, levando a taxa Selic para 12%.

Porém, projeta um novo ciclo de baixa ainda em 2022 com uma reduções de 50 pontos-base, para 11%, acima dos 9,5% previsto pelo último Boletim Focus. Assim, a taxa Selic ficará na taxa neutra de 7,5% no primeiro semestre de 2023 com o objetivo de dissipar expectativas inflação baixa para o período.

Como ficam os investimentos

O CFO do Banco Bari, Evaldo Perussolo, recomenda os investidores a evitar aplicações prefixadas, devido ao seu risco significativo no atual cenário. "Uma boa estratégia de proteção do patrimônio é mesclar na carteira investimentos indexados a juros (Selic ou CDI) e inflação (IPCA)", avalia o economista. Além disso, Perussolo chama a atenção para investimentos isentos de imposto de renda, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), para impulsionar a rentabilidade.

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Contexto

O balanço de risco se tornou propenso à aceleração dos índices de preços desde a última reunião, com a intensificação de dois riscos sempre abordados nos comunicados e atas do Copom ao longo de 2021: possibilidade de desancoragem para cima das expectativas da inflação para o horizonte relevante da política monetária (isto é, 2022 e 2023) e elevação do prêmio de risco fiscal após o governo federal anunciar a flexibilização do teto de gastos para financiar um novo programa de transferência de renda, além de apoiar a mudança do indexador de ajuste do teto na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Precatórios.

O sinal vermelho no risco inflacionário ocorreu na véspera, quando o IPCA-15 de outubro veio acima do esperado de alta de 0,97%, quando subiu 1,2%, maior alta para outubro em 26 anos. No acumulado em 12 meses, a prévia da inflação oficial de outubro avançou de 10,09% para 10,34%. O Banco Central atuou para frear a elevação da expectativa de inflação para 2022 que, segundo o último Boletim Focus, avançou pela 14ª semana consecutiva, de 4,18% para 4,4%, acima do centro da meta de inflação de 3,5% para o ano que vem, mas ainda dentro do limite superior de 1,5 ponto percentual (5%). No cenário-base do Copom, a expectativa de inflação para o ano que vem é de 4,1%.

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Já o risco fiscal se intensificou semana passada, quando o Palácio do Planalto anunciou o Auxílio Brasil (substituto do Bolsa Família) de R$ 400 mensais, sendo que R$ 300 estará dentro do teto de gastos e R$ 100 será financiado fora da âncora fiscal, o que corresponde a R$ 30 bilhões, segundo o governo federal. A medida causou reação entre os investidores, com o Ibovespa recuando para abaixo de 110 mil pontos e o dólar negociado acima de R$ 5,50. Para complicar, uma emenda do PEC dos Precatórios altera o período de cálculo para reajuste do teto: o indexador continua o IPCA, mas de janeiro a dezembro, não entre julho e junho do ano seguinte, como é no momento. Segundo o comunicado:

Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.

As duas situações estressaram a curva de juros do país. Embora a decisão do Copom hoje tenha ficado atrás da curva de juros (que precificava uma alta de 175 pontos-base) e não tenha seguido o conselho de Guedes de ficar acima a frente da curva, o elevado risco fiscal e aceleração inflacionária condicionaram o colegiado a intensificar o aperto monetário acima da elevação de 100 pontos-base prometidos na reunião anterior. 

Confira abaixo o comunicado do Copom publicado após a reunião na íntegra:

Em sua 242ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 7,75% a.a.

 

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

 

No cenário externo, o ambiente tem se tornado menos favorável e a reação dos bancos centrais frente à maior persistência da inflação deve levar a um cenário mais desafiador para economias emergentes;

Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores divulgados desde a última reunião mostram uma evolução ligeiramente abaixo da esperada;

A inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços veio acima do esperado, liderada pelos componentes mais voláteis, mas observam-se também pressões adicionais nos itens associados à inflação subjacente;

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;

As expectativas de inflação para 2021, 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 9,0%, 4,4% e 3,3%, respectivamente; e

No cenário básico, com trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de USD/BRL 5,60*, e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom situam-se em torno de 9,5% para 2021, 4,1% para 2022 e 3,1% para 2023. Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 8,75% a.a. neste ano e para 9,75% a.a. durante 2022, terminando o ano em 9,50%, e reduz-se para 7,00% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 17,1% para 2021, 5,2% para 2022 e 5,1% para 2023. Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias "escassez hídrica" em dezembro de 2021 e "vermelha patamar 2" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

 

Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

 

Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país.

 

Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico.

 

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,50 ponto percentual, para 7,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

 

O Copom considera que, diante da deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista.

 

Para a próxima reunião, o Comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

 

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

 

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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