Affonso Celso Pastore, economista e ex-presidente do BC (Banco Central), disse que o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano é impulsionado pelos gastos do governo –algo que faz o mercado interno retrair. Segundo ele, “esse crescimento que está aí não se sustenta” e, a médio prazo, haverá queda na atividade e juros altos.
“Na medida que a política fiscal ficou expansionista e o juro real de equilíbrio, chamado juro neutro, cresceu, não dá para ser otimista com relação ao investimento privado. Ele tem que encolher”, declarou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada na noite de domingo (10.set.2023). “Hoje, o motor de crescimento do PIB é público, não privado. Tirando o agro, quem está fazendo o crescimento é o governo”, falou.
O PIB do país registrou alta de 0,9% no 2º trimestre de 2023 em relação ao 1º trimestre. Em valores correntes, somou R$ 2,65 trilhões. Na comparação com o 2º trimestre de 2022, o crescimento foi de 3,4%. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os dados em 1º de setembro. Eis a íntegra do relatório (PDF – 1,5 MB).
“A economia vai desacelerar em 2024”, falou Pastore. “Não estou dizendo que vai acabar o Brasil, nem que vai ter uma recessão, nada disso. Vamos ver todas as consultorias reavaliando o crescimento do PIB de 2023, que vai chegar perto dos 3%. O do ano que vem, não sei se ele vai ser de 1% ou 1,5%, mas será menor do que o crescimento atual”, acrescentou.
Ele falou que, em sua visão, há um conflito entre as políticas fiscal e monetária. “A política monetária para trazer a inflação para baixo está colocada no modo restritivo. A política fiscal está colocada no modo expansionista. Vamos ver como é que isso caminha daqui para a frente”, declarou.
Para o economista, quando o crescimento do Brasil desacelerar, “esse conflito fiscal e monetário, que foi muito agudo antes de o Banco Central, naquela decisão dividida, ter baixado a Selic em 0,5 ponto percentual, esse conflito entre a política fiscal e a monetária vai emergir de novo com mais força”.
Pastore declarou: “O governo vai começar de novo a reclamar do Banco Central, e nós vamos ver como é que isso evolui. Mas a razão para isso é que o crescimento desacelera. A esperança do [Fernando] Haddad [ministro da Fazenda] de conseguir os recursos para poder cumprir a meta de resultado primário é que a arrecadação cresça”.