BC destaca necessidade de aperto maior e por mais tempo nos juros e vê política monetária funcionando

Publicado 13.05.2025, 08:15
© Reuters. Sede do Banco Central em Brasílian17/12/2024. REUTERS/Adriano Machado

(Texto atualizado com avaliação do Goldman Sachs (NYSE:GS) no parágrafo 26)

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - Todos os integrantes da diretoria do Banco Central avaliam que, em um ambiente de expectativas de mercado desancoradas, é necessária uma restrição monetária maior e por mais tempo do que o apropriado em outro momento, mostrou nesta terça-feira a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Para o Copom, a política monetária significativamente contracionista já tem contribuído e seguirá contribuindo para a moderação do crescimento, tendo gerado impactos no mercado de crédito, sondagens empresariais, mercado de câmbio e balanços das empresas, assim como em alguns indicadores de atividade e mercado de trabalho.

"Espera-se que tais efeitos se aprofundem nos próximos trimestres", apontou a ata.

O documento apontou que as expectativas de inflação seguem acima da meta de 3% em todos os horizontes, o que torna o cenário mais adverso, citando que o tema gera desconforto ao BC e aumenta o custo do combate à alta dos preços sobre atividade econômica.

"Na discussão sobre o tema das expectativas de inflação, a principal conclusão obtida e compartilhada por todos os membros do Comitê foi de que, em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado", reforçou o documento.

Na semana passada, o BC desacelerou o ciclo de alta de juros ao elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 14,75% ao ano, e deixou em aberto o que fará na reunião de junho, apontando uma dependência de dados e indicando a necessidade de uma dose alta de juros por período prolongado.

Para a autarquia, o cenário segue adverso para a inflação de curto prazo, com dados corroborando para a interpretação de que os preços estão pressionados pela demanda.

De acordo com o documento, o Comitê seguirá acompanhando o ritmo da atividade, em particular da inflação de serviços; o repasse do câmbio para a inflação, após um processo de maior volatilidade; e as expectativas de inflação, que se mantêm desancoradas.

A ata destacou que o cenário de incerteza ampliou tanto as chances de alta quanto as de baixa para a inflação, com a diretoria debatendo se o balanço de riscos para os preços à frente ainda se mantinha levemente assimétrico, mas menos assimétrico do que na reunião anterior, ou se já se podia defini-lo como neutro.

Para o economista-chefe da XP (BVMF:XPBR31), Caio Megale, com a mudança fica evidente que os membros do Copom consideram esse balanço “menos assimétrico” do que anteriormente.

"Acreditamos que as pressões inflacionárias domésticas --incluindo medidas fiscais recentes de estímulo ao crescimento e expectativas de inflação desancoradas-- acabarão por convencer o Copom a realizar um último aumento de 0,25 ponto percentual em sua próxima reunião", disse.

Na avaliação de André Muller, estrategista e economista-chefe da AZ Quest, a principal mensagem da ata é de que a política de juros tem cumprido seu papel.

"Eles elencam vários elementos que mostram um grau de confiança de que os canais de política monetária estão operando, depois de um período longo de desconfiança sobre se a política monetária estava tendo efeito ou não em um ambiente de crescimento que seguia surpreendendo para cima", disse

IMPACTO FISCAL

A ata afirmou ainda que, dada a política fiscal corrente e futura, adotará a condução de política monetária apropriada para a convergência da inflação à meta.

"Um estímulo significativo nos últimos anos adveio da política fiscal... O Comitê segue utilizando a política fiscal como insumo em sua análise e, dada a política fiscal corrente e futura, adotará a condução de política monetária apropriada para a convergência da inflação à meta", afirmou.

O Copom informou ter incorporado em seu cenário "algum impacto" sobre o crescimento do novo programa do governo para estimular o crédito consignado a trabalhadores privados.

A ata ponderou que ainda há incerteza sobre o programa e que essa incorporação foi feita majoritariamente por meio de uma elevação de renda disponível das famílias a partir da troca de dívidas -- e não por uma alta em novas concessões --, o que tem efeito mais comedido sobre a projeção agregada.

O BC ainda considerou que essa medida não tem caráter cíclico -- que gera estímulo à economia em um momento de atividade em alta.

"O Comitê, em sua análise de atividade, manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas", disse, enfatizando que as políticas monetária e fiscal devem ser harmoniosas.

O documento reafirmou que se observa uma incipiente moderação de crescimento, ponderando que a conjuntura de atividade segue marcada por sinais mistos com relação à desaceleração de atividade.

"Alguns fatores elencados durante a reunião seguem dando confiança ao Comitê de que o processo de moderação de crescimento deve ocorrer, após vários anos de surpreendente dinamismo", disse.

Em relação ao cenário internacional, o BC avaliou que o choque relacionado a políticas tarifárias, apesar de todas as tentativas de mensuração, ainda é de impacto bastante incerto.

"Ainda é cedo para concluir qual será a magnitude do impacto sobre a economia doméstica, que, por um lado, parece menos afetada pelas recentes tarifas do que outros países, mas, por outro lado, é impactada por um cenário global adverso", disse.

O comitê destacou que seu cenário já contemplava um aumento da incerteza externa e uma deterioração do cenário para o crescimento global, vértices que agora "se aprofundaram".

"Um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica", disse.

Em relatório produzido após a ata, o Goldman Sachs afirmou ter mantido sua projeção de aumento de 0,25 ponto percentual na Selic em junho, dados os desenvolvimentos de tarifas externas, projeções de inflação muito acima da meta, recentes dados desfavoráveis ​​de inflação, riscos de alta para os preços e sinais de que a atividade permanecerá forte no curto prazo.

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