Investing.com – Economistas esperam que a inflação brasileira tenha mostrado arrefecimento em maio, o que deve ficar no radar nas próximas decisões de política monetária do Banco Central. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ser divulgado nesta quarta-feira, 07, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O banco BTG (BVMF:BPAC11) espera uma alta mensal de 0,34%. O UBS BB, por sua vez, estima que a inflação de maio apresente elevação de 0,32%, ao apontar que os recentes cortes nos preços dos combustíveis começarão a afetar o IPCA, mas a maior parte do impacto da queda de preços deve ocorrer em junho. “Enquanto isso, esperamos que a inflação de alimentos desacelere mais rapidamente nos próximos meses como resultado do choque de oferta agrícola ocorrido no início deste ano”, aponta o time de economia do UBS BB.
Já a XP Investimentos (BVMF:XPBR31) projeta uma variação de 0,29% em maio versus abril, informou Alexandre Maluf, economista da XP. “É esperado algum arrefecimento nos preços alimentícios na comparação com a prévia mensal (IPCA-15), bem como efeito baixista na dinâmica de preços de combustíveis, após a decisão de corte pela Petrobras (BVMF:PETR4) em 16 de maio”, detalham as analistas de renda fixa Camilla Dolle, Mayara Rodrigues e Natalia Moura, em relatório divulgado aos clientes e ao mercado.
A expectativa do Inter é de 0,35%, puxada pela queda dos preços dos combustíveis e também da desaceleração da inflação de alimentos. “As medidas de núcleo e a inflação de serviços devem seguir a tendência de queda, observada no IPCA-15, o que será uma boa notícia para a política monetária”, comemora Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.
Darwin Dib, da Gauss Capital, acredita em um acréscimo de 0,29% em maio, diminuindo as pressões nos serviços, passagens aéreas e alimentos no domicílio. “A média dos núcleos deve cair também. Já vem caindo e deve cair mais. O que estamos vendo é uma perspectiva muito benigna, incluindo para a política monetária”.
A Guide Investimentos espera uma elevação de 0,29% em maio e concorda que os serviços, puxados pelas quedas nas passagens aéreas, devem ter desaceleração relevante. “Olhando para frente, esse movimento deve continuar, mas sendo puxado pelo setor de serviços como um todo, não apenas nas passagens aéreas, que tem um componente mais volátil. Isso por conta dos efeitos da política monetária sobre a atividade econômica, que estão cada vez mais visíveis”, aponta Rafael Pacheco, economista da Guide.
Impactos da política monetária
O professor de Ciências Econômicas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, Rubens Moura, avalia que a queda da inflação reflete a política monetária do Banco Central, com elevação na taxa básica da economia brasileira, a Selic, o que tende a esfriar a atividade, reduzir a renda, aumentar estoques e elevar o desemprego.
“Muitos analistas avaliam que a inflação está abaixo do esperado. Não entendo, porque temos uma política monetária muito pesada. No momento da pandemia, houve um choque de oferta, com fábricas com distanciamento social. O mundo produziu muito menos. A produção menor deixou tudo mais caro, com a escassez. Além disso, houve um aumento de custos de logística, atraso nas encomendas, repassando nos preços. Depois, as medidas contracíclicas com distribuição e injeção de dinheiro na economia, com auxílio emergencial, por exemplo, também elevaram os preços”, lembra o docente.
Moura acredita que o Brasil foi o primeiro país a perceber e buscar corrigir os efeitos inflacionários e que o Banco Central agiu da forma correta. Enquanto a inflação passa a ser mais moderada nos últimos meses, a Zona do Euro e os Estados Unidos enfrentam situações semelhantes com aquelas pelas quais o Brasil já passou.
No entendimento do professor, uma inflação de 6% para o Brasil estaria em um patamar razoável. “As metas brasileiras de inflação são muito baixas para a nossa realidade, mas o Brasil nunca cumpre meta de nada. Se der tudo certo, passando o arcabouço fiscal, a inflação deste ano fica abaixo de 6%”, considera, ao reforçar que países em desenvolvimento requerem investimento e gasto maior, o que impulsiona também os preços.
“No entanto, entendo o porquê das metas baixas, levando em consideração o histórico de tentar resolver os problemas macroeconômicos pelo estado, interventor e gastador. É uma forma de tentar controlar esses anseios com uma meta bem apertada. É uma forma de fazer o governo tentar não gastar tanto”, pondera.
O que o mercado espera até o final do ano
A desaceleração da inflação no primeiro trimestre vem resultando revisões das expectativas de inflação para o ano. Para Rafaela Vitória, esse fator pode significar a abertura para o início dos cortes da Selic, “o que já pode ser comunicado na reunião de junho, preparando para a discussão de cortes a partir de agosto”, afirma a especialista do Inter.
O último Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira, 05, mostra que os economistas consultados pela autoridade monetária estimam inflação em 5,69% e Selic em 12,50% para o final de 2023.
O BTG espera que o IPCA termine o ano com uma elevação de 5,3%, com uma Selic de 12,50%. O UBS BB, por sua vez, projeta inflação de 5% ao final de 2023. Já a Gauss Capital espera um IPCA de 5,4% ao final do ano, com Selic em 12,25%.
A expectativa dos analistas de mercado é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie o ciclo de afrouxamento monetário nos próximos meses, mas com divergências em relação a quando a Selic pode começar a cair. Para a Gauss, por exemplo, a próxima reunião do Copom ainda deve ser de manutenção dos juros, ainda que com reconhecimento da melhora do cenário.
“O evento chave não deve ser o Copom, mas a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Se o CMN alterar a lógica do Regime de Metas de Inflação, abandonando o ano-calendário, haveria uma perspectiva de corte mais próximo. Se o CMN não trouxe alterações, acredito que o mais provável é o início dos cortes a partir de setembro”, completa Dib.
A Guide concorda que o comunicado e a ata devem reforçar a tendência favorável para a inflação corrente, mas ainda deve destacar que o Copom olha com mais atenção o movimento das expectativas de inflação. A expectativa do professor Moura é a mesma, com Selic no mesmo patamar na próxima decisão, mas redução na seguinte.