Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A inflação oficial ao consumidor no Brasil foi pressionada em março pela reoneração dos preços de combustíveis, mas ainda assim mostrou desaceleração ante o mês anterior e a taxa em 12 meses foi ao nível mais fraco em cerca de dois anos.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,71% em março, depois de ter avançado 0,84% em fevereiro, mostraram os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira.
Isso levou o índice a acumular nos 12 meses até março taxa de 4,65%, contra 5,60% antes, a mais baixa e a primeira vez abaixo de 5% desde janeiro de 2021.
Com isso, também fica abaixo do teto da meta a inflação, que para este ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.
As leituras de março ficaram abaixo das expectativas de analistas em pesquisa da Reuters, de alta de 0,78% no mês e de 4,70% em 12 meses..
Entre analistas, a expectativa é de que a inflação no Brasil deve desacelerar aos poucos à frente, em um cenário de política monetária restritiva e atividade econômica contida.
Depois de o IPCA ter sofrido em fevereiro o impacto sazonal do aumento dos custos de Educação, em março foi a gasolina que pesou no bolso dos consumidores, em meio ao retorno da cobrança de impostos federais no início do mês.
O maior peso individual sobre o resultado do IPCA de fevereiro partiu da alta de 8,33% da gasolina, levando o grupo Transportes a subir 2,11%, maior variação no mês. O etanol teve alta de 3,20% em março.
“Os resultados da gasolina e do etanol foram influenciados principalmente pelo retorno da cobrança de impostos federais no início do mês. Havia, portanto, a previsão do retorno da cobrança de PIS/Cofins sobre esses combustíveis a partir de 1º de março", explicou o analista da pesquisa, André Almeida.
"Observamos em março uma inflação mais influenciada por monitorados do que serviços", completou.
Também se destacaram no mês os avanços de 0,82% de Saúde e cuidados pessoais e de 0,57% em Habitação.
Por outro lado, os preços do grupo Alimentação e bebidas, com forte peso no bolso do consumidor, tiveram variação positiva de apenas 0,05%, em meio à queda de 0,14% da alimentação no domicílio em março.
Ponto de atenção, a inflação de serviços mostrou forte desaceleração ao subir 0,25% em março, de 1,41% em fevereiro, acumulando em 12 meses alta de 7,63%.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, caiu a 60% em março, depois de ter alcançado 65% em fevereiro.
Em meio a críticas intensas do governo à condução da política monetária, o Banco Central manteve a taxa de juros Selic em 13,75% em sua última reunião.
Nos cálculos da autoridade monetária, a inflação deve ser em 2023 de 5,8% e em 2024 de 3,6% (ante meta de 3,00%), indo a 3,2% em 2025 (meta de 3,0%).
"Continuamos acreditando que a inflação desacelera mas ainda se mostra persistente, principalmente medidas de núcleo e serviços. É isso que faz com que a gente acredite que o Banco Central não vai ter muito espaço para baixar juros, acreditamos que o BC vai ficar em 13,75% ao longo de 2023 todo, baixando a taxa de juros só no ano que vem", avaliou Laíz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas (EPA:BNPP).
O BC calcula uma probabilidade de 83% de a inflação romper o teto de 4,75% da meta deste ano, e alertou que uma desancoragem mais persistente e prolongada das expectativas de inflação aumenta muito o custo de reduzir a alta da inflação.
A pesquisa Focus mais recente realizada pelo Banco Central junto ao mercado mostra que a expectativa é de que o IPCA encerre este ano com alta acumulada de 5,98%, indo a 4,14% em 2024.