Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O aumento de preços ao consumidor no Brasil perdeu força em abril apesar das altas de medicamentos e alimentos e a taxa em 12 meses foi ao nível mais baixo em dois anos e meio, mas a desaceleração foi menor do que o esperado e os dados reforçaram a cautela com o cenário inflacionário.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,61% em abril, depois de ter avançado 0,71% em março. Isso levou o índice a acumular em 12 meses até abril taxa de 4,18%, contra 4,65% antes, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira
Essa é a leitura mais baixa em 12 meses desde outubro de 2020 (+3,92%), em um movimento decorrente do fato de taxas mais elevadas do ano passado terem saído da conta, de acordo com o IBGE.
"Tem que esperar mais um pouco para ver se estamos num processo de desaceleração do IPCA", disse o analista da pesquisa no IBGE, André Almeida. "As quatro taxas de 2023 foram menores do que em 2022, e isso claramente ajudou na redução do IPCA, mas para ver se isso é um processo é preciso esperar mais meses.”
A meta para a inflação este ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA.
Os resultados de abril ficaram ainda acima das expectativas de analistas em pesquisa da Reuters, de alta de 0,54% no mês e de 4,10% em 12 meses..
Analistas projetam que o IPCA deve atingir o nível mais baixo do ano por volta de junho, voltando a ganhar força no segundo semestre em meio a efeitos de base após redução de impostos pelo governo no ano passado. Segundo a pesquisa Focus, a projeção do mercado é de que a inflação termine este ano a 6,02%.
"Devemos ir 'ir devagar com o andor' ao considerar que esta será uma prova de que a inflação estará convergindo para a meta. Esperamos que o IPCA acumulado em 12 meses continue em queda até junho, quando deverá chegar a 3,8%, revertendo essa tendência a partir de julho, até fechar o ano em 6,1%", disse Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
MEDICAMENTOS PESAM
Em abril, o maior peso sobre o resultado do IPCA partiu do grupo Saúde e cuidados pessoais, que apresentou alta de 1,49%. Os produtos farmacêuticos subiram 3,55% após a autorização de reajuste de até 5,60% no preço dos medicamentos a partir de 31 de março, de acordo com o IBGE.
Também ajudou a pressionar o índice a forte aceleração da alta de Alimentação e Bebidas, para 0,71% em abril, de variação positiva de apenas 0,05% em março.
A principal colaboração para esse resultado partiu do aumento de 0,73% da alimentação no domicílio, com alta nos preços do tomate (10,64%), do leite longa vida (4,96%) e do queijo (1,97%).
Por outro lado, a inflação no grupo de Transportes desacelerou para 0,56%, de 2,11% em março, com queda de 0,44% dos combustíveis após forte avanço de 7,01% no mês anterior.
Somente o etanol (0,92%) subiu no mês, enquanto óleo diesel (-2,25%), gás veicular (-0,83%) e gasolina (-0,52%) tiveram queda nos preços.
A inflação de serviços, que vem sendo apontada como um dos obstáculos para a queda dos juros pelo Banco Central, registrou alta de 0,52% em abril, depois de subir 0,25% em março, acumulando em 12 meses avanço de 7,49%.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, subiu para 66% em abril, de 60% em março.
"Na nossa visão, a resiliência da inflação de serviços, a pressão nos núcleos de inflação e a expectativa de inflação acima da meta não são compatíveis com a convergência da inflação para a meta", afirmou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
O Banco Central manteve a taxa básica de juros em 13,75% na semana passada, apesar das reiteradas críticas do governo, e ressaltou que as expectativas de inflação seguem desancoradas das metas, tendo havido uma pequena deterioração na margem desde a reunião de março, destacando que acompanha este movimento com preocupação.
"A principal mensagem foi de que a inflação volta a justificar as mensagens mais duras do Banco Central. Medidas pioraram e deixa uma mensagem mais em linha com o comunicado do BC de que não é hora de discutir cortes de juros, e deixa talvez algum desapontamentos para quem esperava que os números pudessem aumentar a probabilidade de corte de juros nas próximas reuniões", disse Gustavo Arruda, diretor de pesquisas para América Latina do BNP Paribas (EPA:BNPP).
Indicado pelo governo à diretoria de Política Monetária do BC, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, disse nesta semana que reduzir os juros básicos é uma vontade de "todo mundo", e que a discussão feita no governo sobre a meta de inflação é permanente e visa acompanhar as melhoras práticas mundiais, e não afetar a taxa de juros no curto prazo.