Investing.com – O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) decide na próxima quarta-feira, 03, o patamar da taxa de juros da economia americana, diante de um mercado de trabalho aquecido, ainda que com desaceleração da atividade. Nesta sexta-feira, 28, 89,1% dos agentes de mercado acreditavam que as fed funds iriam à faixa entre 5% e 5,25%, segundo o monitor da taxa de juros do Fed do Investing.com, enquanto 10,9% apostavam na manutenção no patamar atual, entre 4,75% e 5%.
A inflação segue em pauta, mesmo que a economia americana tenha perdido o fôlego. O índice de preços cheio do PCE do primeiro trimestre divulgado na quinta-feira, 27, foi de 4,2%, longe da meta americana, que é de 2%. O núcleo apresentou alta de 4,9%, segundo a primeira prévia. Enquanto isso, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1% na taxa anual ajustada, abaixo das projeções de 2%.
Os últimos números divulgados não devem mudar o entendimento do Fed para uma nova alta nos juros, segundo Rodrigo Octavio Marques, gestor na Nest Asset Management, que estima elevação de 0,25 ponto percentual na próxima decisão.
O gestor ressalta, no entanto, a retomada neste ano de uma política monetária mais gradualista, que costumava ser característica dos movimentos do passado. “A inflação mais transitória passou para uma mais rígida e com patamares mais altos. Mas, passando o pior momento, o Fed voltou a essa política de elevações de 0,25 pontos”, lembra.
Ainda que haja possibilidade de pausa, uma queda nos próximos meses deve estar fora do radar, na visão do gestor, enquanto não houver uma mudança relevante no núcleo de inflação. “É provável que o Fed precise manter a taxa de juros alta por mais tempo”, na visão de Marques, que avalia a política fiscal americana como expansionista, suportando a atividade.
André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart XP, concorda com a visão de consenso de uma alta de 0,25 ponto percentual, com possível discussão a respeito das reuniões seguintes. Para Meirelles, é difícil que a economia americana saia “ilesa” após a escalada nos juros com a rapidez e magnitude conforme ocorrido, o que pode se refletir nos balanços de companhias no próximo trimestre. O diretor acredita que a maior parte da alta nos juros já ocorreu, mas que o Fed deve manter os patamares elevados por maior período, devido a um mercado de trabalho ainda apertado.
Sobre possíveis quedas nos juros americanos, o especialista acredita que o dinamismo da economia americana leva a acreditar que pode haver um espaço para reversão da política contracionista neste ano, mas somente no terceiro ou quarto trimestre. “Ninguém está falando de abrir fronteiras. O fator eleições pode começar a pesar nas expectativas e muito das decisões e comunicações é gestão de expectativas. Ainda existe uma questão com a inflação, o discurso deve ser mais hawkish durante mais tempo”, completa Meirelles.
Enquanto alguns dados econômicos mostram a desaceleração da economia, outros ainda levam a sentimentos mistos, como os núcleos do PCE de março divulgados nesta sexta-feira, 28. Na balança, ainda está a situação delicada dos bancos americanos. A crise bancária dos Estados Unidos já havia sido abordada na última reunião do FOMC, recorda Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. “Ficou bem claro que, para a gestão dessa crise, o Fed iria utilizar instrumentos de política macroprudencial, enquanto a política monetária tem como objetivo o combate inflacionário, portanto a autoridade monetária deixou claro que seguiriam com o processo de elevação de juros”.
A inflação de serviços ainda está em um patamar elevado, segundo a economista da Veedha, o que exige cautela do Fed. A projeção da Veedha é de uma alta de 0,25 ponto percentual. “Talvez a maior expectativa esteja para alguma sinalização para o fim do ciclo da política monetária. Se não houver essa sinalização, isso pode levar a uma pressão na curva de juros nos Estados Unidos, no sentido de precificar altas que não estão sendo consideradas”.