Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central ponderou nesta terça-feira que a aceleração do mercado de crédito e de capitais, que vem se dando com redução do papel do Estado na concessão de empréstimos, tende a aumentar a potência da política monetária e pressionar a inflação para cima.
A mensagem veio em ata do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual o BC destacou que os últimos dados de atividade econômica e a maior eficiência do mercado de crédito e capitais podem resultar numa redução mais rápida da ociosidade na economia.
Logo em seguida, porém, o BC ponderou que a dinâmica dos núcleos de inflação sinaliza que a ociosidade dos fatores de produção ainda é elevada, num contraponto que reforça que o BC não fechou as portas para uma nova redução na Selic, mas que depende de dados que ainda serão observados para seguir por esse caminho.
Na ata, alguns membros do Copom apontaram ainda que "há evidência do começo de um processo gradual de desintermediação financeira".
A novidade veio após a comunicação do BC já ter incluído na semana passada que o atual grau de estímulo monetário, com a Selic em mínimas nunca antes testadas, atua com defasagens sobre a economia, o que acontece "em um contexto de transformações na intermediação financeira".
Na última quarta-feira, o BC cortou a taxa básica de juros em 0,5 ponto pela quarta vez consecutiva, à nova mínima histórica de 4,50% ao ano, e indicou cautela em relação aos juros daqui para frente em meio a uma retomada econômica com mais ímpeto.
Nesta manhã, o BC repetiu que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) acontece em 4 e 5 de fevereiro.
"O comitê avaliou que o atual cenário econômico ainda prescreve política monetária estimulativa, mas manteve o tom de cautela ao não se comprometer com um novo corte na próxima reunião", disse o Bradesco (SA:BBDC4) em comunicado.
"Avaliamos que o Copom efetuará um corte adicional na próxima reunião se o cenário base de dissipação do choque e de retomada gradual da economia se confirmarem no início do próximo ano", completou
CARNES
Por enquanto, o BC já indicou que vê uma retomada econômica mais forte em curso, com a economia ganhando tração. O recente choque inflacionário nos preços da carne é outro fator que atua na direção de pressionar o IPCA para cima, o que também foi mencionado na ata, mas com a ponderação de que esse impacto deve ser mais forte para este ano.
"As projeções de curto prazo (para a inflação) foram particularmente afetadas pelos efeitos do choque de preço de proteínas, que ocorreu de forma mais intensa e prematura do que esperada anteriormente", disse o BC, afirmando que o efeito direto deste movimento será mais concentrado no último bimestre deste ano, afetando portanto as contas para 2019.
"No âmbito dos (preços) administrados, menciona-se a presença de condições benignas para a ocorrência de reajustes menores nas tarifas de energia elétrica, que já vêm se materializando nos últimos meses e devem prosseguir nos trimestres seguintes", prosseguiu a autoridade monetária, em referência a uma menor pressão inflacionária nessa frente para 2020.
As projeções da autoridade monetária pelo cenário de mercado são de um IPCA em 4,0% para 2019, 3,5% em 2020 e 3,4% em 2021, em todos os casos abaixo das metas de inflação, que são de 4,25%, 4,0% e 3,75%, respectivamente, sempre com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.
No cenário híbrido, as estimativas do BC são de um IPCA de 4,0% para 2019 e de 3,7% para 2020 e 2021. O cálculo encosta na meta, portanto, para 2021. Na ata, o BC avaliou que este cenário -- que considera Selic extraída da pesquisa Focus e taxa de câmbio constante em 4,20 reais -- "produz inflação ligeiramente abaixo da meta para 2020 e ao redor da meta para 2021".
De olho nesse quadro, economistas ouvidos pelo BC na mais recente pesquisa Focus preveem que haverá novo corte na Selic em fevereiro, mas desta vez de 0,25 ponto. Pela mediana das projeções, a expectativa é de que o Copom então suba os juros no segundo semestre, num ajuste de igual magnitude, levando a taxa básica a fechar o próximo ano em 4,5%.