Nova taxa para visto H-1B dos EUA cria debate sobre contratações no Vale do Silício

Publicado 23.09.2025, 10:51
Atualizado 23.09.2025, 10:56
© Reuters.

Por Aditya Soni e Echo Wang

SÃO FRANCISCO/NOVA YORK (Reuters) - As novas e pesadas taxas de visto cobradas pelo governo Trump para trabalhadores H-1B levaram geraram   debates de alto escalão nas empresas do Vale do Silício sobre a possibilidade de transferência de mais empregos para fora dos Estados Unidos, exatamente o resultado que a política do presidente norte-americano pretendia impedir.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na sexta-feira a mudança no programa de vistos que há muito tempo é um caminho de recrutamento para empresas de tecnologia e incentivou estudantes internacionais a fazerem cursos de pós-graduação no país.

Embora a taxa de US$100 mil se aplique apenas a novos solicitantes - e não aos atuais titulares, como anunciado inicialmente - a confusão em torno de sua implementação e o alto custo já estão levando as empresas a pausarem planos de recrutamento, de orçamento e de força de trabalho, de acordo com entrevistas da Reuters com empresas do setor de tecnologia.

"Tive várias conversas com clientes corporativos (...) em que eles disseram que essa nova taxa é simplesmente impraticável nos EUA, e que é hora de começarmos a procurar outros países onde possamos ter talentos altamente qualificados", disse Chris Thomas, advogado de imigração do escritório de advocacia Holland & Hart, com sede no Estado norte-americano do Colorado. "E essas são grandes empresas, algumas delas conhecidas, empresas do tipo Fortune 100, que estão dizendo que simplesmente não podem continuar."

Cerca de 141 mil novos pedidos de vistos H-1B foram aprovados em 2024, de acordo com a Pew Research. Embora o Congresso dos EUA limite os novos vistos em 65.000 por ano, o total de aprovações é maior porque as petições de universidades e algumas outras categorias são excluídas do limite. Os empregos relacionados à informática foram responsáveis pela maioria das novas aprovações, segundo os dados da Pew.

 

EMPRESAS CORTARÃO TRABALHADORES DO H-1B

O governo Trump e os críticos do programa H-1B afirmaram que ele tem sido usado para suprimir os salários e que sua redução abre mais empregos para os trabalhadores de tecnologia dos EUA. O programa de visto H-1B também tornou mais desafiador para os graduados universitários que tentam encontrar empregos em TI, segundo o anúncio de Trump na sexta-feira.

Anteriormente, o visto custava aos empregadores apenas alguns milhares de dólares. Mas a nova taxa de US$100 mil inverte essa equação, tornando a contratação de talentos em países como Índia - onde os salários são mais baixos e as grandes empresas de tecnologia agora constroem centros de inovação em vez de escritórios administrativos - mais atraente, disseram especialistas e executivos à Reuters.

"Provavelmente teremos que reduzir o número de trabalhadores com visto H-1B que podemos contratar", disse Sam Liang, cofundador e presidente-executivo da Otter, uma popular empresa iniciante de transcrição baseada em inteligência artificial.

"Algumas empresas talvez tenham que terceirizar parte de sua força de trabalho. Contratar talvez na Índia ou em outros países apenas para contornar esse problema do H-1B."

 

RUIM PARA STARTUPS

Embora conservadores aplaudam há tempos ampla repressão liderada por Trump à imigração, a medida do H-1B também recebeu apoio de alguns setores liberais.

O cofundador da Netflix e conhecido doador democrata Reed Hastings - que disse ter acompanhado a política do H-1B por três décadas - argumentou no X que as novas taxas eliminarão a necessidade de uma loteria e, em vez disso, reservarão vistos para "empregos de valor muito alto" com maior certeza.

Mas Deedy Das, sócio da empresa de capital de risco Menlo Ventures, que investiu em startups como a Anthropic, de IA, disse que "decisões gerais como essa raramente são boas para a imigração" e afetarão desproporcionalmente as startups.

Ao contrário das grandes empresas de tecnologia, cujos pacotes de remuneração são uma combinação de dinheiro e ações, os pacotes de remuneração das startups geralmente se inclinam para o patrimônio líquido, pois precisam de dinheiro para desenvolver o negócio.

"Para as empresas maiores, o custo não é significativo. Para as empresas menores, aquelas com menos de 25 funcionários, é muito mais significativo", disse Das. "Os presidentes de grandes empresas de tecnologia esperavam isso e pagarão. Para eles, menos concorrentes pequenos é até uma vantagem. São as startups menores que sofrem mais."

 

INOVAÇÃO EM RISCO

A política também pode significar menos imigrantes talentosos que geralmente lançam novas empresas, disseram os analistas.

Mais da metade das startups norte-americanas avaliadas em US$1 bilhão ou mais teve pelo menos um fundador imigrante, de acordo com um relatório de 2022 da National Foundation for American Policy, um grupo de estudos que afirma ser não partidário e tem sede na Virgínia.

Vários advogados disseram que as empresas iniciantes que eles representam estão depositando esperanças em ações judiciais que argumentam que o governo Trump exagerou ao impor uma taxa além do que o Congresso previu, apostando que os tribunais diluirão a regra antes que os custos prejudiquem as contratações.

Caso contrário, "veremos um recuo das pessoas mais inteligentes do mundo", disse Bilal Zuberi, fundador da Red Glass Ventures, empresa de capital de risco sediada no Vale do Silício, que iniciou sua carreira nos EUA com um visto H-1B.

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