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O que esperar do discurso de Campos Neto em Jackson Hole?

Publicado 23.08.2024, 19:25
© Reuters

Investing.com – Em meio a ajustes nas projeções de grandes bancos, indicando possibilidade de um aumento de juros pela frente, as atenções deste final de semana estarão direcionadas à palestra do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no simpósio anual de Jackson Hole, nos Estados Unidos. Campos Neto fala no encontro global de autoridades monetárias neste sábado, 24, às 13h25 (horário de Brasília), e investidores buscarão novas pistas sobre a percepção de Campos Neto a respeito das tendências econômicas, após fala do chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, praticamente consolidando corte de juros em setembro, na visão de analistas.

Nesta semana, os discursos de Roberto Campos Neto foram considerados até menos agressivos do que alguns pronunciamentos do diretor Gabriel Galípolo, cotado para ser indicado como seu sucessor. No entanto, após primeira fala hawkish de Galípolo, o mercado enxergou um certo recuo no seu compromisso de aumentar as taxas caso haja risco de inflação. Agora, investidores vão monitorar de perto qual vai ser o tom de Campos Neto com expectativas de cortes de juros nos EUA reforçadas e aumentos nas projeções de uma diminuição ainda mais expressiva.

“O Banco Central vai subir os juros se for preciso, independente de eu estar ou não no BC”, disse Campos Neto no evento Macro Day, do BTG Pactual (BVMF:BPAC11), nesta semana. A mensagem não teria sido alterada desde última reunião último do Comitê de Política Monetária (Copom), mas ambiente internacional estaria mais favorável, no seu entendimento, após período de volatilidade.

Em entrevistas nesta semana, Campos Neto ressaltou que o Copom não possui um guidance para a próxima reunião, citando novamente as melhorias no cenário internacional. Conforme publicação da jornalista Miriam Leitão, Campos Neto teria dito que o mercado estaria enxergado uma alta da Selic, mas os economistas não. Ou seja, ainda que a precificação da curva de juros futuras indique um aumento, as estimativas de consenso preveem manutenção – ou pelo menos é o que mostra o último Boletim Focus, com projeções de economistas consultados pela autoridade monetária.

Ainda assim, ganha força a avaliação de alguns agentes de mercado de que a Selic pode ser elevada em pelo menos 0,25 ponto percentual na próxima decisão, que ocorre em setembro.  Grandes instituições, como XP (BVMF:XPBR31) e BTG, passaram a adotar um tom mais pessimista e esperam que os juros terminem o ano em 11,75%, contra 10,5% atuais.

Campos Neto destacou ainda que a autoridade monetária quase decidiu por uma intervenção no câmbio diante da disparada no dólar, mas preferiu esperar, e afirmou que há divergência dentro do colegiado sobre a simetria no balanço de riscos, mas o assunto deve ser discutido somente na próxima reunião.

Após a fala de Jerome Powell em Jackson Hole nesta sexta, o economista-chefe da Ativa, Étore Sanchez, entende que os reflexos do discurso acomodatício do chairman do Fed reduzem “a perspectiva de que o Banco Central, por aqui, possa iniciar um ciclo de alta de juros”.

O economista André Perfeito entende que “o mercado aposta na alta dando vazão menos à realidade dos fatos, mas tentando zerar sua conta erro de leituras sistematicamente deslocadas”. O economista discorda do entendimento de que o Banco Central brasileiro não está sinalizando corretamente seus próximos passos e completa: “apostaram em alta e estão vendo que talvez não haja espaço”.

Na reunião de julho, o Copom manteve a taxa Selic em 10,50% ao ano e indicou que, se preciso, pode elevar os juros novamente com o objetivo de levar a inflação à meta de 3%, conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

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