Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil voltou a crescer no segundo trimestre mesmo após as enchentes que abalaram o Rio Grande do Sul, ganhando força em relação ao início do ano e marcando o melhor resultado desde o final de 2020.
O impulso foi garantido principalmente pela indústria, mas também pelo setor de serviços, compensando a retração na agropecuária. Do lado da demanda, o consumo doméstico seguiu sólido, apesar de uma desaceleração nas despesas das famílias.
O Produto Interno Bruto (PIB) expandiu 1,4% de abril a junho deste ano na comparação com o primeiro trimestre, de acordo com os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado foi o mais forte desde o quarto trimestre de 2020, período de recuperação da pandemia de Covid-19 quando o PIB cresceu 3,7% na comparação trimestral, e ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters de 0,9%.
Ainda mostrou aceleração em relação aos três primeiros meses do ano, quando o crescimento foi de 1,0%, em dado revisado pelo IBGE de 0,8% informado antes, apesar dos impactos das fortes chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul no final de abril e em maio.
Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o PIB teve avanço de 3,3%, contra expectativa de 2,7%.
A economia brasileira vem apresentando ganhos graças a um mercado de trabalho aquecido, aumento da renda e inflação controlada, o que favorece o consumo.
No entanto, o Banco Central suspendeu o afrouxamento monetário, e a expectativa é de que a taxa básica de juros termine este ano no nível atual de 10,5%, com alguns economistas prevendo aumento. O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alertou nesta manhã para o risco de pressões inflacionárias, frisando a necessidade de aumento da capacidade instalada em meio à aceleração da atividade.
Embora inundações no Rio Grande do Sul tenham afetado safras agrícolas, indústrias e a logística no Estado, resultados melhores do que o esperado das atividades destacaram a resiliência da atividade como um todo, com analistas avaliando que os impactos negativos foram menores que o esperado.
INDÚSTRIA E INVESTIMENTOS
No segundo trimestre houve resultados positivos de forma generalizada. No lado da produção, a indústria apresentou crescimento de 1,8%, deixando para trás o recuo de 0,1% nos três primeiros meses do ano.
"Com o fim do protagonismo da agropecuária, a indústria se destacou nesse trimestre, em especial na eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e na construção", disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Os serviços -- setor que responde por cerca de 70% da economia do país -- avançaram 1,0% no período, com desaceleração frente à alta de 1,4% de janeiro a março.
Somente a agropecuária ficou no vermelho, com um retração de 2,3% em relação ao primeiro trimestre, quando disparou 11,1%.
"Já era esperado desempenho ruim do agro este ano por conta de questões climáticas, e com a tragédia no Sul teve uma piora para a soja que é nossa principal lavoura", completou Palis.
Do lado das despesas, tanto o consumo das famílias quanto do governo tiveram alta de 1,3% no segundo trimestre. Em relação às famílias, houve perda de força depois de uma expansão de 2,5% no primeiro trimestre, mas os gastos do governo aumentaram ante uma alta de 0,1% no início do ano.
Já a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, cresceu 2,1%, mantendo um ritmo forte embora abaixo dos 3,8% do primeiro trimestre e ainda 13,1% abaixo de seu pico.
"Vários fatores explicam esse salto do investimento: tem melhora na construção que gera renda e emprego, e isso movimenta o mercado de trabalho; tem queda nos juros e estamos perto de período eleitoral, com obras que tem que ser feitas e antecipadas. Tem ainda programas do governo como PAC e outros que impulsionam a construção e consequentemente o investimento", disse Palis.
No que se refere ao setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram desempenho positivo de 1,4%, enquanto as importações pesaram com alta de 7,6%, a mais intensa desde o primeiro trimestre de 2021.
O Ministério da Fazenda anunciou nesta manhã que sua projeção para o crescimento do PIB este ano, atualmente em 2,5%, deve ser revisada para cima. De acordo com Haddad, o desempenho do PIB deve superar 2,7% ou 2,8% em 2024.
A projeção atual do governo para o ano já é um pouco mais otimista que a do Banco Central, que previu em junho uma alta de 2,3% no PIB de 2024. O mercado espera um crescimento de 2,46%, segundo a mais recente pesquisa Focus do BC.